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Friday, December 30, 2005

Corpe's Bride

Ontem vi finalmente o último filme do Tim Burton, Corpe's Bride. O cinema não estava tão cheio quanto eu previa, no entanto o humor negro tão caracteristico deste realizador fez soltar alguns bons risos... A história é passada entre o mundo dos vivos: um lugar soturno e monótono, onde as pessoas são quase robots e onde a mesquinhez impera; e o mundo dos mortos, um lugar animado com musica, bebida e dança. Victor é um rapaz diferente, que passa pelos dois. Os bonecos são excelentes, bem caricaturados; a história é de uma suavidade comovente tendo como pano de fundo os cenários tão góticos como os bosques sombrios e os cemitérios. Mas o que mais gostei foi da música, a banda sonora em si já é boa... e depois recorre em vários momentos a solos de piano.... Momentos sublimes que apreciei com tanto gosto que hoje acordei com sede de piano e ainda estou a ouvir Moonligth de Beethoven...

Thursday, December 29, 2005

Pôr-do-Sol



"(...) Durante muito tempo, a tua única distracção foi a beleza dos crepúsculos. Fiquei a sabê-lo na manhã do quarto dia, quando me disseste:
- Gosto muito dos pores do Sol.Vamos ver um pôr-do-sol...
- Mas primeiro temos que esperar...
- Esperar o quê?
- Esperar que o Sol se ponha.
Começaste por ficar muito espantado, mas depois riste-te de ti próprio. E disseste-me:
- Ainda julgo que estou lá no meu sítio... (...)
No teu planeta pequenino bastava puxares a cadeira um bocadinho mais para trás. E vias quantos crepúsculos quisesses...
- Um dia vi o Sol pôr-se quarenta e três vezes!
E pouco depois acrescentaste:
- Sabes quando se está muito, muito triste, é bom ver o pôr-do-sol...
Estavas assim tão triste no dia das quarenta e três vezes?
Mas o principezinho não me respondeu."

O Principezinho - Saint-Exupéry

Wednesday, December 28, 2005

Relatos na 3ª pessoa

"Sentou-se numa mesa do café. Era dia de semana, estava de chuva e a sua presença foi logo notada pelas vizinhas do bairro que contabilizavam todos os que entravam. O café estava quente e fez-lhe bem, além de aquecer as mãos, aclarou-lhe os pensamentos.
Conhecia-o desde criança, sempre tinham morado perto um do outro. A primeira vez que o tinha visto na escola – lembra-se agora enquanto pousa a colher no pires tentando não fazer barulho – não tinha sido um bom encontro. Lembra-se que ele lhe tinha roubado as coisas, e ela tinha voltado para casa cheia de vontade de se vingar. Com o passar do tempo, tornaram-se amigos das partidas, em vez de se gladiarem. Ambos eram rebeldes, amantes da liberdade extrema e, ela agora também o admitia, partilhavam um gosto especial por não obedecerem a regras. Nesse tempo era tudo tão simples, as crianças tornam o mundo rústico. Nessa altura, o mundo era belo de tão perfeito. Eles davam-se bem, gostavam tanto um do outro. Depois veio a separação. Sem darem por isso, os anos foram passando e as vidas tornaram-se tão diferentes que quase não se reconheciam na rua quando se viam. Ás vezes ela via-o ao longe e comentava com alguém:” aquele rapaz foi meu amigo quando éramos novos.” Era uma fase dita sem pensar, quase um lamento inconsciente que não sabia que tinha. Passava anos sem se lembrar dele, e no entanto quando fazia esse comentário tinha a certeza que existia um mundo que a levava até ele cheio de memórias que a preenchiam.
Ela estava tão diferente desde esse tempo… tinha-se tornado uma pessoa sábia à custa do seu gosto por aprender. A vida era feita longe do bairro onde morava, por vezes só vinha a casa à noite. Era uma pessoa tão diferente… sonhava em mudar-se, em conhecer o mundo, quebrar a monotonia que nunca suportara. Ele, no entanto sempre vivera por ali…não tinha estudado, trabalhava num café ao pé da sua casa, nem sabia o que era feito dos seus irmãos….
Lembra-se tão bem de gostar dele, mas de uma forma natural como se nunca tivesse parado para adquirir esse conhecimento. Lembra-se de saber que ele também gostava dela… Como se pode lembrar tão bem disso? Levanta-se bruscamente da mesa e resolve dar uma volta pelo jardim. Espezinhar as memórias tem destas coisas, em vez de afugentá-las, atraímo-las. Guarda para si esses pequenos momentos, esses fios de pensamento que já nem têm rosto, são uma névoa sem fundo nem som…
Inevitavelmente pensa no que poderia ter acontecido se não fosse uma pessoa tão diferente, se fosse como ele… agarrada àquela vida de todos os dias, à alegria dos que não questionam e aceitam a simplicidade. Quando o vê, sente que gostava de ser assim, simples."

Friday, December 23, 2005

Tuesday, December 20, 2005

Rir

Em "Quem tramou Roger Rabbit" , um desenho animado pergunta a Jessica:

" - o que vês nesse coelho??? " ao que ela responde:
" - ele faz-me rir...."

Quem nos faz rir garante de facto um poder ilimitado ...

Thursday, December 08, 2005

Cansa sentir quando se pensa

Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar.
Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo.
E é uma noite a ter um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.

(Tudo isto me parece tudo.
Mas noite, frio, negror sem fim,
Mundo mudo, silêncio mudo -
Ah, nada é isto, nada é assim!)

Fernando Pessoa

Wednesday, November 30, 2005

Demasiado tarde?

“Mais vale tarde do que nunca”. Provérbio antigo, tantas vezes dito. Será que é pela eterna esperança humana? Será que é porque o Nunca nos assusta? Achamos sempre que o derradeiro esforço, a última oportunidade valem mais do que o inóspito deserto das acções que ficam por fazer, ou pior, das palavras que ficam por dizer…E a verdade é que o Nunca é tão eterno…
Mas eu prefiro ,“ nunca do que demasiado tarde”, porque o nunca pode deixar-nos o sonho, o lamento do que poderia ter sido. O demasiado tarde, tira-nos tudo, até esse sonho. A verdade é que quando dizemos “ não, eu prefiro tarde do que nunca “ é porque sabemos que lá no fundo, ainda não é demasiado tarde…

Monday, November 28, 2005

Harry Potter e o Cálice de Fogo

Este sábabo fui ver Harry Potter e o cálice de fogo. É claro que num filme destes a expectiva é enorme e a margem de decepção considerável. Por muito bem que esteja o filme, nada ultrapassa a imaginação dum livro, não apenas pelas figuras que criamos mas pelos momentos únicos enquanto atmosfera que se cria, e que é absolutamente única para cada leitor. Apesar de tudo, fiquei muito surpreendida. O realizador não pretendeu expor todo o livro no filme, ao inves disso escolheu as cenas mais emblemáticas, que marcaram as acções na história e desenvolveu-as de maneira activa e rica. Dei por mim a seguir o filme atentamente, apesar de saber o que se ia passar.
Não abdico da minha versão, e prefiro ainda assim, ler os livros. Mas como filme, como tela da história, gostei muito. De resto, só retirava a multidão que estava no cinema.


PS: A não perder, "Corpes's bride" um filme de desenhos animados de Tim Burton. É a história de um rapaz que por engano se casa com um cadaver. Mesmo ao seu estilo, e com a voz do boneco principal de Johhny Deep!

Thursday, November 24, 2005

A vida é bela

Hoje tive o impulso de reler os textos mais antigos que escrevi. É como ver um album de fotografias...

"Dizes-me que a vida é bela. Não acredito. O sonho, esse sim é um verdadeiro pássaro que me faz voar por cima do mundo e me deixa tocar as nuvens.
(Ás vezes o voo é tão baixo que o vidro que me separa da vida parece realmente transparente...).
Vejo nos teus olhos que te alegras quando o sol brilha e te voltas para ele como um girassol. E não entendo. Sei que vives porque sentes o cheiro do mar no sangue e tens as cores do arco-íris no coração. A tua vida é uma seara dourada que ondula ao sabor do vento fresco. Cheiras a liberdade de perto, porque vives. E eu gostava de voltar a ser como tu. Gostava de ultrapassar a tristeza daquele dia em que o meu sol desapareceu. Porque quem vive estranhamente feliz, ao ver o sol brilhar, arriscar-se a ficar repentinamente triste, quando uma nuvem tapa o sol....
Incitas-me a largar definitivamente o sonho, e argumentas que sonho algum ultrapassa a tua realidade. E acho que tens razão. Não há nada, em nenhum mundo que supere o barulho das ondas, as cores do céu e os mil encantos do sol. Pode ser que finalmente me ensines a ver que a vida é bela..."

Lúcia-2000

Tuesday, November 22, 2005

Prosa - pensamentos

Aquela vontade de viajar…. Não o viajar turístico, não a mudança exclusiva para outro sítio. Não é isso. É um viajar maior, um viajar de espírito, de aventura, de descontrolo. O sonho de não se sabe bem o quê, mas que permanece idílico e inadiável, cada dia mais… Hoje de tarde, este viajar rodopiou-me na cabeça, enquanto lutava para não adormecer completamente no autocarro que me trouxe de Alcanena. Como nunca chego a classificar o sonho nem o viajar, acaba por ser sempre uma surpresa o inesperado aparecimento deste sentimento tão repleto de dúvidas como de certezas. E de algum modo, é tão único que me pergunto se não terei saudades de voltar a senti-lo quando conseguir classificar o sonho e o viajar…

PS: No livro O Alquimista de Paulo Coelho, o mercador de cristais adiava a ida à Meca porque temia, que após realizar o seu sonho, não tivesse mais razão para viver…

Sunday, November 13, 2005

Um paraíso

A verdade é que nem sei muito bem porque penso nisto… Já ouvi a música centenas de vezes e parece que nunca me canso. Está tanto frio hoje, tenho as mãos geladas enquanto escrevo, e tudo o que me apetece é deitar-me nos cobertores quentes a ouvir este som e sonhar com um paraíso: o paraíso que me vem à cabeça enquanto oiço a música. Um qualquer sitio de descrição difícil para o meu cérebro sonhador. Algo como um sítio cheio de flores, onde o cheiro é delicioso e eu posso voar ao sabor da brisa morna; onde o Sol é resplandescente e se reflecte nas nuvens brancas e volumosas; onde o tempo tem o seu espaço, nem mais nem menos. Um sítio onde a minha alma se desprende por completo e dá largas ao sentimento que me perturba neste momento ao ouvir a música, e que eu não percebo porquê.

Thursday, November 10, 2005

O grito


"I was out walking with two friends - the sun began to set - suddenly the sky turned blood red - I paused, feeling exhausted, and leaned on the fence - there was blood and tongues of fire above the blue-black fjord and the city - my friends walked on, and I stood there trembling with anxiety - and I sensed an endless scream passing through nature."

Edvard Munch

Sunday, November 06, 2005

Poemas matemáticos

Poderá a soma dos ângulos
de um triângulo
não ser 180º?

Digo-te que sim se
não considerares a geometria
plana.

O mundo é tão mais interessante
quanto mais nos curvarmos
para o observar.

Lúcia- Maio/05

Wednesday, November 02, 2005

Fyn - Dinamarca


Até agora nunca tinha colocado nos meus posts imagens. No entanto adoro fotografias de paisagens, principalmente de nuvens, das quais já tenho uma boa colecção. Ter a máquina digital foi sem dúvida, um enorme passo na minha independência fotográfica. Para além disso, não descarto as imagens que encontro na internet, como esta encontrada num site que nos fornece paisagens de vários sítios do mundo.

Tuesday, November 01, 2005

Terapia

Ontem o dia esteve de aguaceiros, nuvens negras e brancas e arco-íris: uma maravilha! À tarde depois de sair do Técnico, fui passear um pouco na fnac, ás vezes sabe-me bem ler assim pedacinhos dos textos, acabo sempre por descobrir o universo de livros que gostava de ter...
Já ao fim da tarde, não resisti e comprei castanhas, à força de tanto gostar do cheiro acabei por gostar do sabor também... A viagem para casa, no autocarro foi reconfortante: as mãos aquecidas no papel das castanhas e os olhos postos nas nuvens. Só é pena que nas paragens entre tanta gente. Se não fosse isso, esta pequena viagem até casa todos os dias, era a minha terapia relaxante.

PS: Não posso deixar de estar espantada. Como é que alguém pode traduzir Harry Potter and the Half Blood prince por: Harry Potter e o Príncipe Misterioso? Pergunto-me, este tradutor/a leu o livro?

Sunday, October 30, 2005

Filmes

Este tempo chuvoso faz-me sair de casa de manha para passear, mas de tarde apetece-me mesmo ficar aqui, no meu cantinho. Hoje aluguei no clube, o filme "Hide and Seek" que vi no cinema e que gostei muito. Ontem, foi uma tarde mais infantil, diverti-me a ver a Pequena Sereia da Disney. Quando era pequena vi muito poucas vezes o filme mas é dos que mais gosto... É dos poucos cuja história se baseia num livro, uma das histórias do Hans Christian Andersen, um dos meus dinamarqueses preferidos. Como se não fascinasse o suficiente a existência de seres tão estranhos como as sereias, a história baseia-se na vontade que Ariel tem de viver num Mundo que não é o dela, de experimentar para além daquilo que ela conhece, ainda que pra todos os outros, o infinto oceano lhes seja suficiente. Como paga por se tornar humana, oferece a voz que tem, em troca de pernas. Mas o negócio que faz com a bruxa do Mar sai-lhe caro, pois o principe por quem se apaixonou, recorda apenas a voz de quem o salvou no naufrágio...
Talvez tenha sido demasiado caro, dar a voz. E nós , o que dariamos para sairmos dum Mundo que não é o nosso?

Frases

" Nada do que se sonha é tão estranho como aquilo que se vê "

Álvaro Magalhães in Guardado no Coração

Saturday, October 29, 2005

Prosa - os teus lindos olhos

São as janelas da alma, os olhos. Só tem que se saber abrir bem a janela e espreitar para a alma das pessoas que nos rodeiam. Sem dúvida que os olhos são a única essência física que nos permite ver numa pessoa o que ela é. É por isso que nos fascinam tanto, que são foco de arte: os olhos pertencem a duas dimensões em simultâneo.
Às vezes dizemos que uns olhos que vimos são bonitos. Mas isso nada tem ver com a cor ou com forma. Não é propriamente uma beleza pontual, que se observa. É algo diferente, algo que pertence ás duas dimensões em simultâneo também.
Há tantas pessoas que têm olhos estranhos, sem expressão. Olho para eles e a janela não se abre. E às vezes até têm cores bonitas.
Mas os teus olhos não são assim. Olho para eles, e a janela mostra-me um mundo tão vasto, quase como se fosse a terceira dimensão (da qual eu não sei nada). Tens os olhos tão vivos, tão preenchidos que fico cheia só de os fixar. É como se contivesses neles a própria essência da vida. É por isso que gosto tanto de fitá-los. Em dias comuns quando te olho, devolves-me a tua existência física. Mas eu sei que há muito mais do que isso. Os teus olhos nunca se cansam de me mostrar. E é por isso que são tão lindos…

Sunday, October 23, 2005

Central Termoeléctrica

Finalmente o tempo mudou. Pena que tenha mudado tão repentinamente, ainda que estejamos na minha estação favorita: o Outono. Desfrutando da temperatura mais baixa e do cenário mais baço e filtrante com gotas de água que me toldam, visitei na quarta feira central termoeléctrica do Carregado. Apesar de ser uma visita que eu diria, à partida muito interessante, foram poucos os alunos que nessa tarde entraram no autocarro e quase todos eles do meu curso e não de engenharia mecanica como seria de prever. Quanto a mim faltei a duas aulas para embarcar nesta viagem, mas de bom grado faltaria a mais se preciso fosse. E em boa hora o fiz, a visita foi muito agradável, além de bons momentos de convívio, gostei muito de conhecer a central "por dentro", ver com os meus olhos as estruturas que estudei o ano passado, quando tive a cadeira de "Energia e Ambiente". Mas o melhor de tudo foi mesmo entrar na torre de arrefecimento, sentir de repente a humidade extrema que nos molha a cara e ver os farrapos de vapor de água que se escapam. Vistas de fora são autênticas fábricas de nuvens...

Tuesday, October 11, 2005

Aula de SDAD

Estou cheia de sono,
acordei cedo e só
há bocado me
mantive acordada,
ávida pelos novos conhecimentos
que só então me chegaram.
A aula em que me
encontro agora, fala de
economia, dinheiro que se move.
Não me interessa, é demasiado
real.
Lá fora chove, ainda que pouco
e talvez por pouco tempo.
O chão está molhado, escorregadio,
é fácil cair.
( Como se nos outros dias não fosse…)
Os sonhos da minha vida futura
dispersam-se como fumo.
Em dias destes sou capaz de
sonhar até com o futuro do resto
do meu dia, a ansiedade extrema
que a chuva traga uma surpresa,
uma diferença.
O fumo espalha-se, diverge
o resto das pessoas converge
para o seu objectivo: a aula.
Apetecia-me não estar aqui, e a
verdade é que me podia ir embora.
Mas de resto há tantas coisas que
me apetecem e outras que não me
apetecem…
Receio não ter um critério de
escolha, neste momento.
E entre estas considerações, deixo-me
ficar, sei lá onde estão as surpresas!
Pode ser que estejam aqui, há
espera que deixe de pensar nelas
para aparecerem.
Quem me dera não pensar nisso, se calhar
estava a gostar da aula e não pensava
no fim do dia, de modo tão ansioso
tão perturbante.
Ás vezes este sentimento cansa,
ainda que na maior parte do tempo
preencha todos os meus espaços vazios.
A aula continua,
será que ainda está a chover?
Tento não adormecer,
mas é tudo tão monótono,
como se tudo estivesse combinado
para me fazer dormir e passar
mais este dia suavemente,
ao de leve por cima das horas.
Por momentos, sinto-me tentada
a embalar nesse sono… mas
como já disse não sei o que
fazer e por isso mantenho-me
como estou.
Parece-me ser o mais seguro.
Em dias como este tudo é tão vago,
tão possível, tão distante…
A aula acabou,
isso não se pode negar.
O resto, já não sei…

Tuesday, October 04, 2005

Escolha

Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos.

Albert Einstein

Monday, October 03, 2005

Ilusão

Impossível deixar de falar hoje do eclipse. Impossível deixar de sentir o frio súbito, o desaparecimento do habitual aconchego do calor do sol, o vento tão inesperado, a situação tão anormal. Impossível digo eu, deixar de apreciar a fantástica coincidência que põe a lua à frente do sol, de uma forma tão específica que nós, meros observadores terrestres nos limitados a seguir a ilusão óptica que o universo nos cria. Saber que estamos na estreita faixa onde a ilusão é total devia fazer-nos ter consciência da importância única do momento que vivemos. Mas isso sou eu que digo, sou eu que vibro com estas coisas. A realidade do dia a dia parece sobrepor-se à real consciência de quem somos no meio do vasto e ecoante universo. É como se isso fosse o segundo eclipse, a segunda ilusão...

Sunday, October 02, 2005

Dia Mundial da Música

Bem sei que foi ontem, mas o post é dedicado hoje. Dedicado a todos os ouvintes que nasceram com notas musicais e que tentam sobreviver neste mundo tão mudo.
A todas as pessoas que constroem a vida num fundo musical. E a todas as músicas, claro. Aquelas pelas quais nos apaixonamos à primeira vez, aquelas que nos conquistam inexplicavelmente num dia em que estamos diferentes. Aquelas que nos lembram pessoas que gostamos ou odiamos, ou músicas que nos fazem retroceder e recordar. Aquelas que nos deixam eléctricos e eufóricos, que acompanham a nossa loucura. Ou as que se sentam connosco à janela e nos abraçam nas noites de luar quente, envolvente. E aquelas que nos elevam, que nos transportam para outra dimensão, que nos fazem pensar e sentir realmente. E há sempre aquelas que nos tocam em certos momentos, que se deixam descobrir e avançam para a nossa alma, aumentando-a. A música está sempre connosco. E é tão vasta que nunca se esgota, nunca se repete. Saibamos nós ouvi-la para nunca nos esgotarmos também. Já dizia Jim Morisson: “Music is your only friend, until then end”. A música é-nos sempre fiel.

Saturday, October 01, 2005

E depois do Arraial...

Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.

Ricardo Reis

Saturday, September 24, 2005

Cenário surrealista

No outro dia, vinha eu no autocarro a olhar pela janela, quando cheguei à estação do metro da Amadora e qual não é o meu espanto, vejo um rebanho de ovelhas a comer a relva do jardim onde está a estação e onde param os autocarros. Por momentos achei mesmo que estava a sonhar e ainda esfreguei os olhos para tentar não duvidar de mim mesma...

Tuesday, September 20, 2005

Caloiros

Hoje fui praxar os caloiros naquele que foi o seu primeiro dia no Técnico. É em alturas destas que vejo como o tempo galopa. Há cincos anos atrás era eu a caloira, a olhar para todos os cantos e com todos os cantos a devolverem-me a incerteza e o odor das coisas que não nos dizem nada. Hoje, quando lá estou tenho a noção de que apenas o espaço é o mesmo( e quando digo espaço refiro-me apenas aos átomos que constituem o lugar). Habituamo-nos aos sitios porque eles gastam-se connosco, absorvem um pouco de cada um dos nossos dias, ganham a cor da nossa alegria, da nossa tristeza... E nós, adquirimos o seu cheiro, a visão que mais nos convem, um sentimento que não sabemos explicar mas que nos prende e nos molda. É assim que cinco anos passados num sitio que gostamos parecem ser já infinitos, de tão preenchidos. E é natural que não reconheçamos nada, nem o espaço. Ainda que não pareça, é quem mais muda.

Friday, September 16, 2005

Provérbio Chinês

A melhor porta é aquela que se pode deixar aberta.

Monday, September 12, 2005

Originalidade

Numa noite de Inverno, para curar as minhas insónias, decidi levantar-me e retirar um livro da estante para me entreter. Decidi-me pelo livro de Charles Dickens – Contos de Natal, cuja história já conhecia, mas nunca tinha lido. Numa das vezes que Scrooge é visitado pelos fantasmas dos Natais (passado, presente e futuro), lê-se a seguinte passagem: “As cortinas foram afastadas para o lado e Scrooge, erguendo-se precipitadamente e passando a uma posição semi-recostado, encontrou-se cara a cara com o sobrenatural visitante que se erguera, tão perto dele como eu estou agora de si - e estou em espírito a seu lado.” Nesta altura parei de ler e não pude evitar um sorriso. A conquista da imortalidade está realmente no acto criativo e original. A prova é que Dickens está mesmo a nosso lado quando lemos o seu livro.

Monday, September 05, 2005

Janela

Anseio por uma janela
Só minha.
Uma janela que me traga
O vento de outros sítios
E que dê de beber
à minha alma, fatigada
neste mundo de quatro
paredes.

Não importa que a janela
Não dê para outro mundo
Ou que o sol não se veja
Brilhar…
Desde que a janela seja
Só minha,
O sonho tem lugar.

Lúcia/2004

Sunday, September 04, 2005

Spider Man

"This is my gift.This is my course. Who am I? I'm spider man!"
Nunca desde pequena me interessei por banda desenhada, fosse ela qual fosse... Acho que sempre preferi imaginar, talvez a importância dos livos seja essa mesma.
Mas o filme do spider man detem a única história que eu gosto. A maneira como a picada da aranha mutante provocou a mudança no rapaz mais desastrado envolve-nos na esperança de que todos temos direito a uma mudança.
Nesta história, o heroi tem de se deparar com as escolhas que faz: ser mais um entre tantos, ou assumir a sua responsabilidade. Mas vemos logo pela sua personalidade que o Peter Parker não é um entre tantos...
Talvez seja dificil encontramos alguma vez um spider man nas nossas vidas. Talvez seja mais dificil ainda encontramos um Peter Parker.

Friday, September 02, 2005

Vaidade

Sonho que sou poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que ou alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quanto mais no céu eu vou sonhando,
E quanto mais alto vou voando,
Acordo do meu sonho...E não sou nada!...

Florbela Espanca

Monday, August 29, 2005

Arrumações

No fim de Agosto é sempre costume fazermos arrumaçoes e limpezas... Parece que se gosta de preparar o retorno sempre tão inevitável, em Setembro. Este ano, o tabalho foi bem árduo, deu para ficar com dores nas costas e nas pernas... Mas é sempre engraçado as coisas que se descobrem nos sitios que menos esperamos... e ver como , ao longo dos anos, os mesmos objectos mudam de sitio e de importância.
Sempre gostei desta fase, parece que demarcamos aqui o fim do Verão. Inquestionávelmente é o fim das férias. Mas por outro, é a chegada do Outono, que eu tanto gosto.

Friday, August 26, 2005

Intimidade

Que ninguém hoje me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo.
Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.

Fernando Namora

Thursday, August 25, 2005

Cúmulo da preguiça

" Acordar mais cedo, para estar mais tempo sem fazer nada..."

Tuesday, August 23, 2005

Memórias de Infância

Tenho andado a fazer a colecção dos DVD's com a série de desenhos animados da Alice no Pais das Maravilhas que dava quando era pequena na RTP. Ontem vi o DVD nº12 que contem o episodo que eu melhor me lembro e que, durante tantos anos ficou retido inexplicavelmente na minha memória. É um episodio em que a Alice mergulha numa tina com água da chuva que comunica com uma catarata, para que assim entre no Pais das maravilhas e possa resgatar o seu coelho que tinha desaparecido.
Durante anos, sonhei com algumas imagens deste episodio e quando o vi ontem sabia quase de cor tudo o que se passaria a seguir. Porque será que certas coisas permanecem tão fixas na pelicula do nosso cérebro, e outras que conscientemente até achamos mais importantes, se desvancem tão rapidamente? É quase bizarro, descobrir que não somos nós quem decide que memórias guardar...

Monday, August 22, 2005

Aventuras

"Todos os homens morrem,mas são poucos os que vivem"
Talvez porque no Verão estamos de férias, ou talvez porque os fins de tarde são os mais bonitos, o facto é que sempre, todos os anos, em dias como este me apetece sair por aí á descoberta de uma aventura...
Normalmente habituamo-nos á nossa vida previsível e acabamos por nos afeiçoar a ela, na corrida contra o tempo não podemos questinar-nos demasiado. Mas quando estamos assim, longe de tudo, percebemos que ansiamos por algo diferente, que nos revire a cabeça e que nos faça largar tudo.
Eu acredito que não viverei verdadeiramente até essa oportunidade chegar.

Wednesday, August 17, 2005

Curta viagem

Hoje a curta viagem foi até ao cinema. O filme escolhido foi, Chalie e a fábrica de chocolates. Para começar devo dizer que adoro apanhar transportes publicos em Agosto porque parece que a população diminiu para metade. Não houve filas, gritos nem apertões.
Em relação ao filme, foi engraçado mas quanto a mim longe de outros filmes do Johhny Depp e do Tim Burton, talvez até porque o tema não o permitia. A expectativa de quem já viu ( e adorou) filmes como o Eduardo mãos de tesoura e a Lenda do Cavaleiro sem cabeça é claro muito grande. A história deste filme é muito simples e cheia de encanto e fantasia. Usamos a nossa imaginação se quisermos chegar até ela. E o Jonhhy Depp.... fantástico, aliás como sempre. :)

Tuesday, August 16, 2005

Poemas

MANIA DO SUICÍDIO

Às vezes tenho desejos
de me aproximar serenamente
da linha dos eléctricos
e me estender sobre o asfalto
com a garganta pousada no carril polido.
Estamos cansados
e inquietam-nos trinta e um
problemas desencontrados.
Não tenho coragem de pedir emprestados
os duzentos escudos
e suportar o peso de todas as outras cangas.
Também não quero morrer
definitivamente.
Só queria estar morto até que isto tudo
passasse.
Morrer periodicamente.
Acabarei por pedir os duzentos escudos
e suportar todas as cangas.
De resto, na minha terra
não há eléctricos.

Rui Knopfli
in Memória Consentida

Sunday, August 14, 2005

Regresso

De regresso, sinto enorme felicidade de ter voltado à minha civilização. Uns dias passados longe de tudo isto fizeram bem, principalmente para descansar e pode partilhar comigo própria uns momentos de isolamento. Ideal para a reflexão, como se as decisões a serem tomadas e o caminho a percorrer se mostrasse mais claro, menos ensombrado. Adoro sempre a calma do mar e, nunca me cansarei de dizer, os reflexos do sol nas ondas, o seu cheiro e o seu barulho melódico. Mas ao fim de uma semana, anseio pela cidade, pelos meus pequenos rituais. Essencialmente sou uma pessoa urbana.

Não esquecer que hoje é assinalada a data da Batalha de Aljubarrota! Uma grande salva aos portugueses que tão bem se bateram contra os espanhois, a fabulosa táctica do quadrado e a destemida Brites de Almeida!

Friday, July 29, 2005

Narcisismo

" O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:
- Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo. Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, minha própria beleza reflectida"

Oscar Wilde

Tuesday, July 26, 2005

Eclipse

Hoje, enquanto lia as minhas notícias astronómicas, descobri que dia 3 de Outubro vai haver um eclipse do Sol anelar! Para quem não sabe , o eclipse anelar é um eclipse, que que a lua atravessa completamente o sol nunca chegando a tapá-lo por completo parecendo sempre mais pequena (!). Para quem vive no norte de Portugal, especialmente em Trás-os-montes, o eclipse é total, para quem vive em Lisboa, vai ser só parcial. Contudo, se puderem não deixem de ver. Os eclipses são fenómenos magníficos e a oportunidade de vê-los, ás vezes, pode ser única na nossa vida inteira. Isso basta para torná-los desejados e misteriosos. Só espero que , aqui de Lisboa se tenha uma visão ainda bastante grande de que é um eclipse anelar,pois de todos os tipos de eclipse este foi o único que ainda não vi, nem que fosse on-line na internet...

Monday, July 25, 2005

Escandinávia

Agora que estou de férias, e que paro à minha janela sem nada que estudar, e que parece que detenho todo o tempo nas minhas mãos, não deixo de pensar nas viagens que gostava de fazer, na minha enorme vontade de conhecer a Dinamarca e os outros países nórdicos. Apesar de ter a praia tão perto, é o frio daqueles países que me atrai, os fiordes, o gelo, a própria paisagem natural tão gelada. Nunca soube muito bem o que me faz gostar tanto destes povos. É algo de incompreensivel que me faz sempre fluir para eles e gostar da sua cultura e tradições. Bem sei que nunca conheci nórdicos, nem nunca fui á Escandinávia. Mas existem gostos que nascem conncosco e coisas que nos atraiem de modo tão primitivo que nunca conseguimos explicar.

Sunday, July 24, 2005

Mudanças

Ás vezes, tudo muda. Um pormenor, um dia mais longo, o aroma certo. Achámos durante tanto tempo que o Mundo era infinito, e no entanto é o nosso dia-a-dia que não tem fim, inexplicavelmente rodeado de cores se soubermos olhá-las. Achámos que tudo sempre esteve tão longe, e de repente vemos que tudo esteve sempre perto, nós é que estivemos sempre distantes. Ás vezes, tudo muda. Num segundo, o relâmpago atinge-nos e toda aquela névoa incerta em que adormecemos todas as noites se transforma num céu estrelado.

Monday, July 18, 2005

Verão

Verão sempre me soube
a maçãs,
a destinos por viver,
a uma súbita alegria
naqueles dias em
que tudo é perfeito
e nos deitamos na
areia, a ouvir somente
os nossos pensamentos.

Verão sabe-me a leite
fresco, acabado de engolir
à janela da cozinha, onde
entra o bafo quente da
manhã, e onde saem, pelos
meus olhos
as imagens do sonho
que tive de noite,
quando adormeci nos
lençóis brancos e leves
do meu quarto solitário,
onde as persianas estão
corridas, e tudo cheira
a nostalgia.

Lúcia- 2003

Thursday, July 14, 2005

Charadas

Os Relógios Loucos de Carroll :

"Qual dos relógios regista o tempo mais fielmente? Um que se atrasa um minuto por dia ou um que não funciona?"

Sunday, July 10, 2005

Nevoeiro

Hoje fui à praia de manhã. Em vez de um dia solarento, com o céu azul e o cheiro a Verão, fui recebida com um espesso nevoeiro que me molhou os cabelos. Talvez este não seja o melhor dia de Verão, mas o cenário fantasmagórico da praia assim não deixa de ser cativante. É como se tivesse vontade de descobrir todos os segredos que estão escondidos, encontar todas as coisas que são proibidas.... O nevoeiro torna tudo incerto, cada passo um imprevisto.

"Espero sempre por ti, o dia inteiro,
quando na praia sobe, de cinza e oiro,
o nevoiero
E háem todas as coisas o agoiro
de uma fantástica vinda "

Sophia de Mello Breyner Andersen

Friday, July 08, 2005

Neville Longbottom

O tão anunciado livro de Harry Potter está quase, quase aí... Um bom momento para saciar a curiosidade que me cercou quando acabei a última página do quinto livro.
No ínicio, detestei toda a história e, ainda hoje acho o primeiro livro o pior de todos... Mas depois, aos poucos, entrei naquele mundo paralelo ao nosso, e compreendi que o enredo é muito mais complexo do que parece. Não tanto pelas histórias cruzadas dos vários personagens nos vários livros, mas pela complexidade de conceitos sobre "quem é o bom e quem é o mau". O quinto livro em particular mostra-nos as pessoas na sua essência com defeitos e qualidades. O heroi dexa de o ser, pois não existem pessoas perfeitas. Além disso, como se vê ,o próprio Mundo molda as pessoas e acaba por ter a influência decissiva em muitos casos.
Harry Potter nunca foi a minha personagem favorita. É demasiado arrogante e convencido, bastante cego quando perde a calma, e tem uma particular vontade de salvar todos para poder ser o heroi. Ao invés dele, sempre gostei do Neville Longbottom, uma personagem que quase passa discreta ( em alguns livros quase que nem damos pela sua presença), não fosse o seu azar, as suas distrações, o seu nervosismo sempre que vê o Snape e a sua capacidade de se atrapalhar na situação mais normal. E eis que no quinto livro, esta personagem, sempre tão inoportuna toma um relevo especial. Será que a minha personagem, afinal é muito mais importante do que se pensou? O sexto livro deve responder.

Thursday, June 30, 2005

A realidade da Matemática

"A questão de as leis da matemática estarem relacionadas com a realidade não é uma certeza; o estarem correctas não faz com que estejam necessariamente relacionadas com a realidade."

Albert Einstein

Wednesday, June 22, 2005

Part of that World

Temos dias em que compreendemos a Pequena Sereia.

I wanna be where the people are
I wanna see wanna see 'em dancing
walking around on those(what do you call 'em? oh, feet)
flipping your fins you don't get to far
legs are required for jumping, dancing
strolling along down a(what's that word again?) street
up where they walk
up where they run
up where they stay all day in the sun
wandering free
wish I could be
part of that world
what would I give
if I could liveout of these waters?
what would I pay
to spend a day
warm on the sand?

Tuesday, June 21, 2005

Uma sala vazia

A semana passada assisti ao concerto mais estranho... Uma banda de jazz portuguesa do Montijo (cujo nome não percebi) composta por dois trompetes, uma tuba, uma trompa, um trombone e uma bateria tocaram durante quase duas horas para uma audiência de 10 pessoas. Apesar de ter gostado muito, sentiu-se claramente a falta do calor do público e aquele ambiente que entusiasma os artistas. Por outro lado, foi tão intimista que me senti privilegiada por estar ali sentada, quase a ter um concerto exclusivo.
No meio de tudo isto, tive tempo para apreciar com muito deleite os sons de todos os instrumentos. Fixei-me à vez em cada um deles, mas o meu preferido foi , sem dúvida o trombone. Talvez porque o rapaz tocava muito bem, talvez porque o instrumento tem um som forte e ligeiramente rouco, o que é facto é que adorei. Gostamos tanto e aplaudimos tanto, que no fim, eles acabaram por tocar mais uma...

Saturday, June 18, 2005

Poemas matemáticos

A solução para a minha
Equação tão estranha,
Neste mundo de resultados tão reais
Só podias ser tu:
Um número imaginário.

Lúcia

Friday, June 17, 2005

Fairy Tales

Fairy tales are more than true: not because
they tell us dragons exist, but because
they tell us that dragons can be beaten.

G.K.Chesterton

Monday, June 06, 2005

Começo a conhecer-me.Não existo.

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos
no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.

Álvaro de Campos

Thursday, June 02, 2005

A cigarra e a formiga

A propósito de um concurso televisivo recordei a fábula da cigarra e da formiga. Desde sempre que gosto de fábulas. A moral súbtil desta história não é apenas o facto que todos sabemos: a cigarra cantou durante todo o Verão e quando chegou o Inverno ficou sem casa e sem comida. Para mim, a fábula mostra o que na realidade se passa em cada momento da nossa vida: para tudo o que fazemos existe uma consequência. Podemos ser a cigarra e cantarmos enquanto quisermos, mas sabemos que mais tarde vamos ser prejudicados por não termos trabalhado. Mas tambéma formiga sofre as suas consequências: pode ficar quentinha durante o Invern com todo o alimento que recolheu, mas suporta a tristeza de nunca ter cantado o Verão.

Monday, May 30, 2005

Poemas

O sonho conquista-me.
Tal como tu, quando
te pressinto prisioneiro
da liberdade.

Abraço-me à tua simplicidade
E acabo por
descobrir as nuvens
baloiçando nos teus olhos,
e a fragrância das noites
quentes nos teus gestos.

Lúcia 28.05.05

Sunday, May 29, 2005

"Os Corvos"

Sábado à noite, sai de casa acompanhada dum vento gelado que me lembrou as noites de inverno mais crueis. No auditório dos recreios da Amadora assisti ao concerto dos Corvos, um grupo apenas instrumental que conta com violinos, viola de arco e violoncelo, para além de uma bateria. A música deles transmitiu de tudo um pouco e elevou-me para diversos estados de alma em pouco tempo. Apreciei muito o violoncelo, instrumento discreto mas dum som tão gutural que estremeceu a frequência da minha alma.
Prova de que realmente não é necessario falar para se transmitirem sentimentos: a música é a maior de todas as linguagens.

Friday, May 27, 2005

As poucas palavras

Foi um dia, e outro dia, e outro ainda.
Só isso: o céu azul, a sombra lisa,
o livro aberto.
E algumas palavras. Poucas,
ditas como por acaso.

Eram contudo palavras de amor.
Não propriamente ditas,
antes adivinhadas. Ou só pressentidas.
Como folhas verdes de passagem.
Um verde, digamos, brilhante,
de laranjeiras.

Foi como se de repente chovesse:
as folhas, quero dizer, as palavras
brilharam. Não que fossem ditas,
mas eram de amor, embora só adivinhadas.
Por isso brilhavam. Como folhas
molhadas.

Eugénio de Andrade

Saturday, May 21, 2005

Évora

Ontem voltei ao Alentejo, numa visita de estudo. De manha passei por Évora, e ao ver a cidade, veio-me à memória o clima da “Aparição” de Virgílio Ferreira. Todo aquele existencialismo combina com o calor do Alentejo e com a paisagem sempre tão monótona aos meus olhos. É como se as planícies tão vastas, nos impedissem de ver só o que queremos: a realidade é demasiado visível para ser ignorada.
Apesar de ter adorado o livro (e adorei porque me mostrou ideias e caminhos que desconhecia), o regresso a Évora nunca é feliz. A loucura de Sofia e Carolino vigia-me nas ruas. A compreensão de Alberto prende-me a respiração e impede-me de apreciar as pequenas paisagens belas. Tudo é exactamente o que é. Da primeira vez que visitei Évora também uma ténue tristeza existencialista me percorria, um “saber que as coisas são assim”. Tinha renunciado à vida utópica e só a consciência de mim mesma me interessava. Évora será sempre o palco da constatação dessa consciência. E estará sempre agarrada ao sentimento vazio e perturbante do conhecimento amplo sobre a vida e sobre nós. Muitas vezes matamos o Alberto que nos tenta falar a verdade, mas que nos retira o mel da nossa vida. Em Évora ele está sempre vivo.

Monday, May 16, 2005

Fim de tarde

Hoje, ao fim da tarde, apanhei o autocarro para chegar a casa. O céu estava particularmente bonito, apesar de ter chovido bastante antes. Talvez por isso o ar estivesse bem fresco… esfreguei os braços na busca de algum calor, mas em simultâneo gostei daquele vento, sempre tão fresco e liberto. O autocarro chegou na altura em que pus os phones e ouvia a voz do Jamie Cullum. Procurei lugar na janela e sentei-me a apreciar a paisagem. Esta é a hora do dia que mais gosto, e é sempre nesta altura que me sinto mais livre, mais sonhadora e de alguma forma mais confiante. As nuvens fazem desenhos estranhos, diferentes todos os dias, e a luz parece filtrada, mais fina e encantadora: o mundo transforma-se (e com ele, eu também). E penso que nem que seja para ver todos os dias o fim de tarde, vale a pena viver…

Sunday, May 15, 2005

O mistério da Lua

"A janela aberta de par em par. O soalho quieto esperando um passo. A noite serena e grave cobrindo tudo com a sua capa de escuridão e mistério. O ar pesado sustentando o silêncio que teima em se fazer ouvir.
Majestosamente o luar entra no quarto e banha tudo com o seu brilho mortiço que aviva a chama das recordações.
Deu dois passos e sentou-se na janela, mas o soalho não respondeu expectante. A Lua ergue-se com a pose de uma rainha que é admirada no cimo, por todos os seus súbditos. E ergue-se com a postura de quem sabe que o seu encanto nasce nos dias em que está escondida.
Olha a Lua e não pode deixar de admira-la lá no alto, vendo tudo, tão segura e determinada. Encanta-a aquela certeza que a mantém no mesmo sítio e que a faz aparecer e desaparecer sempre nos mesmos dias.
De repente baixa os olhos e sente as mãos frias coladas à parede. Será admiração ou simplesmente inveja? O estalido da madeira diz-lhe que a inveja é tão humana como a admiração.
E ao ver as árvores inundadas com aquela estranha luz sente-se regressada ao passado, como se o luar fosse a luz mágica que ilumina o palco onde desfilam as memórias. Talvez seja esse o mistério da lua: não permitir o esquecimento. E talvez seja por isso que se sente tão grata. Limita-se assim a fechar a janela devagar para não quebrar o silêncio, observador discreto e maravilhado."
Lúcia-2000

Thursday, May 12, 2005

There is no spoon

De novo, o Matrix na televisão. Como não consigo resistir, lá me estirei no sofá. O encanto deste filme ultrapassa a minha compreensão. Desde as referências à Alice, passando pela importância da mente, e talvez ainda mais pela profundidade de alguns pensamentos, que estimulam a minha reflexão. A diferença entre realidade e sonho, a questão sempre tão pertinente sobre " como sabemos o que é real?" Real é o que vemos?O que ouvimos? Sempre tive a sensação de que existe um ténue limite entre o sonho e o que chamamos de realidade e ás vezes é difícil definir em que mundo estou, como se fizesse sentido estar em qualquer dos dois. E sinto-me exactamente como o Neo: " uma pessoa que acredita nas coisas mais impossíveis porque de alguma forma espera vir a ser acordada".
A vida puramente física e objectiva perde a graça que só uma certa incerteza imaginativa pode trazer. E é esse o poder de there is no spoon.
Discordo de quem acha o filme superficial e apenas repleto de efeitos especiais. O poder da nossa mente, quer o nosso mundo seja o Matrix ou não, é sempre verdadeiro.

Monday, May 09, 2005

Weird

"Isn't it weird?Isn't it strange?
even though we're just two strangers on this runaway train
We're both trying to find a place in the sun
We've lived in the shadows, but doesn't everyone
Isn't it strange how we all feel a little bit weird sometimes?...

Isn't it hard? standing in the rain
You're on the verge of going crazy and your heart's in pain
No one can hear, but tou're screaming so loud
You feel all alone in a faceless crowd
Isn't it strange how we all feel a little bit weird sometimes...
(...) "

Friday, May 06, 2005

Pensamentos

Os úlimos dias, tal como previsto têm sido cansativos, agora que os trabalhos estão no auge e o tempo parece ser cada vez mais pequeno. O dia de de hoje estava particularemente bom, o que faz com que a ideia de trabalhar quase toda a tarde pareça absolutamente torturante. Por entre o sol que me vai queimando a pele, tenho milhões de pensamentos que fervilham... Mas quando chego a casa, parece que perco as ideias e que tudo o que planeei fazer me parece demasiado complicado: uma preguiça enorme abraça-me. Acabo por deitar-me, ouvir música ou ficar simplesmente à janela, a pensar de novo. E o tempo que já parece tão curto, vai ficando cada vez mais pequeno...

Monday, May 02, 2005

Pôr-do-Sol

Fiz este poema há algum tempo atrás, mas gosto de relê-lo porque de uma forma um bocado inesperada, a essência do que eu sentia ficou presa naqueles versos. Primitivo, mas verdadeiro.

Pôr-do-Sol

Quando o sol se põe no horizonte
e se afunda aos poucos no mar...
quem sente na vida saudade
baixinho, ouve o sol a chorar...

E o a cor que ele deixa no céu
e o som que ele faz ao chorar
é apenas o seu lamento
de não ver a Lua ficar...

Por isso o sol,
é meu confidente ao fim da tarde
e com ele afunda sempre
toda a minha saudade...

Lúcia-1999

Sunday, May 01, 2005

" e tudo o que sonhei, tu serás assim..."

Na noite de arraial do Técnico lá estivemos presentes, depois de termos feito mais um teste ( desta vez Hidrologia) umas horas antes. Curioso o facto de que, mesmo numa noite de festa, as pessoas têm dificuldade em esquecer a ciência de que é feito o nosso dia a dia. Sem querer a conversa adquire um teor químico ou físico e por vezes as piadas até são matemáticas. E isso parece já tão natural, que não surpreende existir um shot chamado análise IV! Ás vezes é assustador constatar que esta realidade objectiva se apoderou de nós, e que quem sabe, já nem damos conta de muitos dos nossos hábitos estranhos.
A noite não terminaria sem assistirmos ao concerto do Pedro Abrunhosa. E pelo menos ao som de " tudo o que eu sonhei, tu serás assim...", não existiu espaço para a objectividade das expressões matemáticas...

Wednesday, April 27, 2005

O mais simples...

Há dias em que o mais simples nos basta.

"Coroai-me de rosas,
coroai-me em verdade
De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
e basta. "

Ricardo Reis

Sunday, April 24, 2005

Aeroporto

Sexta feira, ás 5 da manhã levantei-me para ir levar a minha irmã ao aeroporto, o tão esperado dia da sua viagem de finalistas. Apesar de estar a morrer de sono, apreciei a atmosfera do aeroporto, o cheiro a viagens e a lugares longínquos ( nunca esse cheiro tinha sido tão intenso) e a emoção de quem vai viajar, tão espelhada na face e nos gestos que se fazem.
Até àquele momento, ainda não tinha tido a percepção exacta de que eu não ia viajar. Tudo se resumia a uma frase que eu repetia e cujas palavras diziam apenas isso, e mais nada : " eu não vou". Mas quando chegámos à porta onde tivemos de nos separar, ai tomei consciência, que é como quem diz... ai comecei a sentir uma pena enorme e uma vontade louca de seguir em frente também. Mas não pude. A minha irmã desapareceu do meu horizonte, a caminho de Londres e eu apanhei o autocarro de volta ao ruído de Lisboa ao acordar.
Quando em 1999 ocorreu aquele eclipse do Sol tive uma sensação semelhante... sabia que da minha janela só iria ver um eclipse parcial, mas só quando a Lua parou de avançar e eu vi na televisão o eclipse total, só aí é que eu tive a percepção instantânea de que não ia ver nada. São uns breves momentos de realidade fulminante, que me acertam em cheio.
De qualquer modo, pensei em voltar ao aeroporto de vez em quando, para sentir de novo aquela atmosfera. Afinal é o mais perto do longe que consigo estar...

Thursday, April 21, 2005

Espelhos

"Bem, se estiveres com atenção, Kitty, e não falares demais, conto-te todas as minhas ideias sobre a CASA-ESPELHO. Primeiro há a sala que vês através do espelho - tal e qual como a nossa sala de visitas, só que os objectos se vêem ao contrário. Quando subo a uma cadeira consigo ver a sala toda... excepto uma pequena parte atrás da lareira. Oh! como gostava de ver esse bocadinho!Gostava tanto de saber se eles têm lume no Inverno; nunca se sabe excepto quando a nossa lareira deita fumo e também há fumo na outra sala... mas tudo isso talvez não passe de uma artimanha para nos convencer que eles também têm lareira. Ora bem, os livros são como os nossos, só que as palavras estão escritas de trás para diante; sei isto porque pus um dos nossos livros em frente do espelho e eles fizeram o mesmo na outra sala." Lewis Carrol

Há que reparar com mais atenção nos espelhos. Em vez de meros objectos egocêntricos que nos reflectem e que nos devolvem o que já conhecemos, podemos vê-los como a passagem para outro Mundo, tornando a visão do nosso proprio mundo muito mais alargada!

Tuesday, April 12, 2005

Dias de Primavera

De manha antes de estudar, gosto sempre de dar um passeio... Ainda que seja só uma escapatória para beber um café, não dispenso os phones e a música que me apetece no momento.
Hoje não foi excepção. O sol já robusto de primavera é uma companhia simpática para os meus pensamentos. Ao sabor do ritmo da música fui andando ás voltas ( adiando sempre que possível o meu regresso a casa), até chegar á minha escola primária. Aí, parei por uns momentos a recordar os meus dias de primavera daquela altura. Que saudades daquele Mundo tão perfeito, onde com um pedaço de imaginação, tudo era possível...

Sunday, April 10, 2005

Memórias

Sexta feira. Pick nic adiado (devio ao frio). A festa faz-se dentro de casa. Entre muitos risos e já alguma bebida, algumas revelações inesperadas!Depois de algum fado, cigarros e cerveja... Bairro Alto. Encontros e desencontros, o Mundo tão pequeno, ás vezes fica grande! O fim de noite... e aquela vontade de querer que os dias continuem sempre. O resto do tempo passado nos lençois, a conversa no escuro e as verdades que se dizem. O sol da manhã avisando que é altura de dormir.

Sunday, April 03, 2005

Prefiro

"Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem"

Wednesday, March 30, 2005

Tímidos

Gosto da maneira como as pessoas falam dos tímidos. Dos seus conselhos. Dos seus risos. Gosto quando dizem " qual é o problema?". O problema é quase sempre enorme, porque a realidade de um tímido é vista de um ângulo estranho o que torna os caminhos quase sempre mais longos. É como se existisse sempre uma ilusão de óptica. ( há tímidos que nunca chegam a perceber que é uma ilusão de óptica...)
O tímido vive preso ás teias que ele imagina que estão lá, à vergonha do bloqueio sempre presente e á voz que o segue e que lhe diz " não vais conseguir".
Para quem não é tímido e não compreende os tímidos : imaginem algo que vos seja dificil realizarem ou do qual tenham vergonha. Agora pensem que para um tímido qualquer acção que vos é banal se reduz ao vosso problema inultrapassável.

Sunday, March 27, 2005

Hipercubo

Com o braço direito engessado e umas férias de páscoa desertas, o meu tempo tão disponível tornou-se num monte de segundos organizados, que educadamente passaram...
Ao menos sempre aproveitei para ver alguns filmes, e em boa hora o fiz porque um dos que aluguei foi O Hipercubo, o segundo filme de O Cubo, que eu já tinha visto. Sendo o primeiro mais matemático e o segundo mais físico introduzindo as realidades paralelas ou a relatividade do espaço e do tempo, o que interessa é que descobri a existência desse objecto teorico de quatro dimensões: o hipercubo. Depois de algumas rápidas pesquisas pela net, encontrei algumas informações deslumbrantes sobre a quarta dimensão espacial e o modo como o hipercubo ( o correspondente ao cubo na 4º dimensão) se pode projectar no nosso mundo 3D, assim como uma sombra dum cubo 3D aparece no plano...
Cheguei mesmo ao ponto de encontrar informação sobre o numero de vértices, arestas, quadrados e cubos que um hipercubo supostamente tem... É por isso que por vezes acho que a matemática consegue ter mais poder do que a física. Ao ser mais abstrata é mais ilimitada.
Só é pena não podermos mesmo ver o hipercubo... isso deixa-me a pensar em tudo o que existe e eu não vejo...

Wednesday, March 23, 2005

Genial

Ao ver a biografia de Beethoven que deu num dos canais por cabo, não pude deixar de me voltar a impressionar… Que génio era Beethoven, para perder a audição ainda jovem e ainda arranjar arte para escrever a 9º sinfonia, mesmo sem ouvir os sons que produzia…
Como reagiríamos nós se nos roubassem justamente o sentido que nos dá vida?
Eu, não me imagino sem ouvir… Sem ouvir música, sem ouvir os sons calmos da Natureza, sem ouvir os tons das vozes que me rodeiam. Acabo sempre por gostar ou não de uma pessoa através do seu timbre. Se não a ouvir, não a conheço. Que seria de mim sem este sentido que me conecta ao Mundo?
Beethoven, era sob todos os aspectos, genial!

Monday, March 21, 2005

Dia Mundial da Poesia e da Árvore

Gostava tanto de me encontrar na vida
com o à-vontade desta cerejeira
e sentir a terra na raiz
e dar versos ou florir desta maneira.

Abrir os braços e deixar cair
flores, folhas ou o que quer que seja,
e ver o tempo, como um bicho verde,
a roer o coração de uma cereja.

Eugénio de Andrade

Sunday, March 20, 2005

Mundos Paralelos

Pensei em escrever sobre esta fantástica trilogia hoje, porque acabei de lê-la no Verão e ainda hoje, de vez em quando me pica a memória. Fantásticos os livros, que nos fazem ver as imagens e que modelam os nossos sentimentos. Foi tão intenso, que nunca mais voltei a ler…
No primeiro livro, Os Reinos do Norte, Philip Pullman conta-nos a história de Lyra, uma menina inglesa rebelde que vive num mundo muito semelhante ao nosso, mas com uma diferença: neste mundo cada pessoa tem um génio. Estes seres, assumem a forma do animal que melhor representa a personalidade da pessoa que complementam. Fazem o papel de almas ainda que bastante independentes. Este pormenor magnífico é na minha opinião o mais excelente de todos. A capacidade de materialização do nosso interior.
Quando no segundo livro ela encontra Will, que é um rapaz do nosso mundo, a história fica mais realística. Mais uma vez ,divina a parte em que Will tem a faca subtil e com ela abre janelas que lhe permitem passar entre os Mundos. O terceiro, é a conclusão de tudo e o fim é algo trágico, e o modo como tudo aquilo acontece ( depôs de termos lido todas aquelas páginas onde quase acreditamos que aquilo é verdade e que eles existem mesmo) faz-nos ter pena… Talvez nem seja o desfecho em si, que me provocou este sentimento, mas sim o decurso da história e o modo subtil como foi escrita.
Momentos que me recordo sempre: quando Lyra encontra um criança no Norte sem génio, que desesperadamente se agarra a um peixe para colmatar o vazio que a vai acabar por matar; quando Will perde dois dedos ao obter a faca e o modo como nenhum ser mágico lhe restitui os dedos até ao fim; e por último quando Lyra deixa Pantalaimon no cais para entrar no mundo dos mortos… muito bem descrita a dor de abandonarmos a nossa alma…
Para uma pessoa apaixonada por outros mundos e dimensões como eu, a trilogia é perfeita. Para além dos pormenores humanos, existe uma lição de física e teologia por detrás de tudo e os livros têm um fio condutor que acaba com uma lógica impressionante. Quem leu, sabe do que falo. Quem não leu, não sabe o que perde…:)

Saturday, March 19, 2005

Surpresas

Ontem, depois de um grande jantar, fui à festa de Ambiente, na Expo. Para além de a noite ter sido muito agradavel, foi insperadamente surpreendente. Por vezes, é quando já não esperamos nada que os caminhos mais estranhos e imprevisiveis se mostram, dando-nos a conhecer que tudo é possível, se tivermos audácia para os seguir.

Tuesday, March 15, 2005

Esta Noite

Gostava que esta noite
tivessem pena de mim
e me dessem umas
asas,
e eu fosse um Ícaro
com um fim diferente.

Gostava que a Lua
estivesse ao alcance
do meu braço estendido
E que as asas, planassem
ao vento,
murmurando consolos
escondidos, nas penas
que tivessem de mim.

In "De vez em quando" - Lúcia/2002

Monday, March 14, 2005

Princípios

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice

Saturday, March 12, 2005

Sonhos

Hoje sonhei, que perto da minha casa podia ver a torre Eiffel. A estranheza e a simplicidade do facto é o que torna os sonhos tão fantásticos. E também um excelente meio para nos conhecermos. Por vezes quando sonhamos é como se a realidade que nos circunda viesse em codigo, num puzzle que so nós proprios sabemos fazer. E cabe-nos descobrir a charada, para fazermos a proxima jogada em consciencia. Muitas vezes o sonho é a melhor maneira que temos de falar com nós proprios. É como se comunicassemos com o outro "eu", o que se alimenta da nossa alma e vive do outro lado espelho. E é como se ele nos dissesse como nos sentimos, o que queremos, do que temos medo. Na verdade nós não sabemos assim tanto sobre o que somos...
E lá estava eu, a sonhar com Paris no meu sonho, mas a suspirar por uma torre Eiffel, bem visivel aos meus olhos... Espantoso como as distâncias podem ficar tão relativas.

Thursday, March 10, 2005

Impossible is nothing

Adoro o anuncio da Adidas. Aquele em que um rapaz está a dormir, entra em diversos sítios, por diversas direcções e em diversas perspectivas, acabando por voltar à cama. Simplesmente perfeito: a música, a ideia e a excelente concretização. Uma breve passagem pelo país das maravilhas, vista de outro ângulo :) Afinal... Impossible is nothing!

Tuesday, March 08, 2005

Dia da mulher

Para que o dia da mulher não seja só um presente ou uma flor para as senhoras... aqui fica um post dedicado a todas as mulheres que ao longo dos tempos se revoltaram contra a sua condição sub-humana, e que tornaram possível que hoje, eu pudesse estudar numa faculdade, pudesse usar calças, pudesse votar e que (mais coisa menos coisa) me garantiram um tratamento humano. E já agora, e porque o mundo ainda não é perfeito, este dia também deve ser dedicado às mulheres, que hoje continuam a não se resignar e que contribuem para que o mundo seja, não mais feminino, mas equilibrado e justo.

Monday, March 07, 2005

Atletismo

Este fim de semana lá se foram os campeonatos de atletismo. Para variar lá segui o mais que pude. Há sempre algo que me fascina no desporto... E então estes campeonatos: têm bandeiras e hinos ( que eu adoro) e emoção ao máximo. Vibro tanto como num jogo de futebol...
E sendo assim, adorei a vitoria da Naide Gomes :) , o concurso de salto à vara feminino onde a Yelena Isinbayeva bateu mais um record do mundo, e ainda me fartei de rir quando na estafeta de 4x400m um espanhol caiu levando a espanha a acabar em ultimo.
O concurso que segui com mais emoção foi o de salto em altura masculino ( um dos que mais gosto) onde o título esteve dificil de atribuir, mas acabou por ler arrebatado pelo sueco Stefan Holm que saltou 2,40m!
De referir também que os campeonatos estavam muito mal organizados (além daquele erro quase fatal no comprimento...), e a realização deixou muito a desejar...

Thursday, March 03, 2005

Mais comboios

Finalmente puseram em circulação mais comboios na linha de Sintra... Agora posso viajar todos os dias sentada, ao pé da janela. Espantoso como uma simples medida pode afectar a minha reflexão de todos os dias. Conheço a paisagem de cor, e nem mesmo assim gosto dela. Mas preciso de ir agarrada ao vidro, para ir procurando aquilo que vai faltando na nossa vida tão regulada. ( Ás vezes quando encontro o que procuro, apetece-me seguir em frente no comboio e continuar a viagem.)

Wednesday, March 02, 2005

O tempo

Por vezes tenho vontade de arriscar tudo. Por vezes tenho receio que o tempo passe enquanto eu espero... Por vezes não sei se me admire ou me recrimine. Inevitavelmente o tempo passa.

"Não creias, Lídia que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.

Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.

Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.

Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo" Sophia de Mellho Breyner

Que já é tarde, isso é. Agora resta saber o que foi o "não vivido"...

Tuesday, March 01, 2005

Gostar demasiado

Depois de os últimos dias de férias terem sido aproveitados ao máximo, o normal regresso às aulas representa o regresso à realidade.
Não que estivesse mal em férias, mas o facto de gostar do que faço impede-me de me abstarir completamente.
Antes de ter mudado de curso, sempre tinha sido imprecisa a decisão de ir para a faculdade... A minha impusição a mim própria seria sempre aplicar-me em algo que realmente gostasse. Foi muito dificil perceber-me , mas estas são as melhores conquistas. Agora que gosto do que faço e que quase perdi a tentação de "chorar" por um dom, não consigo desligar-me por completo em quinze dias, nem a minha alma consegue deixar de sentir saudades. Gosto demasiado para isso. É sempre o preço a pagar quando nos envolvemos demasiado.

Thursday, February 24, 2005

Feelings

No outro dia, uma amiga devolveu-me o cd dos Offspring que já lhe tinha emprestado há um tempo... Isso lembrou-me a letra duma música deles que se chama" Feelings". É uma letra que sabe bem acompanhar quando se está zangado com alguém... :P Além do mais vale pela originalidade.... também se pode dedicar uma música a alguém que se odeie...

Feelings
Nothing more than feelings
trying to forget my
feelings of hate
Imagine
beating on your face
trying to forget my
feelings of hate
feelings
for all my life i'll feel it
I wish I'd never met you
you'll make me sick again
(...)
feelings like I never like you
feelings like I want to kill you
live in my heart
feelings
feelings like I wanna deck you
feelings like I've gotta get you
Out of my life

Wednesday, February 23, 2005

Mar

Ainda reflexos do dia de ontem... Resolvi escrever aqui mais um poema da Sophia de Mellho Breyner... retirado do livro de poemas "Mar", que eu tanto gosto. Oferecido pela minha mãe, que mo comprou na feira do livro aqui da Amadora. Nesse ano tinha tinha perdido a cabeça e gastei quase tudo em livros que vi à venda...

Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
a tua beleza aumenta quando estamos sós.
e tão fundo intimamente a tua voz
segue o mais secreto bailar do meu sonho
que momentos há em que eu suponho
seres um milagre criado só para mim.

É sempre estranho pensar que existem pessoas que nunca viram o Mar...

Tuesday, February 22, 2005

Cascais

Dia de passeio a Cascais. Entre risos, aguaceiros e um passeio de bicicleta o dia passou, com aquela sensação de reconforto quando o dia se passa bem. Pequenas pausas para aprecisar o mar, aqueles momentos em que paramos para assimilar mais uns raios de sol e damos connosco envoltos numa onda de optimismo, como se não existissem obstáculos na nossa vida ( ou como se fosse fácil transpo-los). Tudo me parece tão amplo, tão fácil de atingir, como se cada gesto que preciso de fazer me saisse naturalmente. Ao pé do mar tudo fica natural...
São instantes fugazes como os pingos que me vão marcando a roupa ao de leve...Mas são os suficientes para que saiba com quem partilhar as nuvens que se colapsam no fundo do horizonte...

Sunday, February 20, 2005

Matrix

Depois de pesquisar, achei o que procurava à algum tempo: alguém mais que achasse que existem muitas semelhanças entre a história de Alice de Lewis Carrol e o filme"Matrix". Depois de já ter lido ( como é obvio) os livros de Lewis Carrol, assim que vi o filme todo aquele enredo sobre outro mundo me levou para o Pais das maravilhas... Além de todas as analogias que encontrei, o proprio filme respira a filosofia do livro: a curiosidade de se seguir um coelho branco quando intimamente desconfiamos que vivemos num sonho.
E eis que um diálogo num site italiano sobre cinema veio confirmar as minhas expectativas:

- Sei tu che non capisci un tubo. Stiamo parlando della stessa cosa: Alice e Matrix sono una sola storia. Costituiscono due metafore del medesimo complotto.Ci riflettei un po' su, ma non riuscivo a capire dove volesse andare a parare. - Complotto? Una sola storia? Spiegati! - gli intimai.- Certo, caro il mio sempliciotto! - disse il PC con inflessione sfottente. - L'hai visto quel film, no? Rispondi: cos'è che fa Alice per entrare nel Paese delle Meraviglie?- Segue il Bianconiglio, no?
- Appunto. E cosa suggeriscono a Neo? "Follow the white rabbit", segui il coniglio bianco. E lui segue la ragazza con il tatuaggio di un coniglio bianco.
(...)
- Un riferimento? E Morpheus che gli dice: "I'll show you how deep the rabbit hole goes", ti mostrerò quant'è profonda la tana del coniglio?
(...)
- Te ne elenco altre di... coincidenze. Avrai sicuramente presente il ruolo peculiare che assumono gli specchi nelle avventure di Alice, in particolare in Through The Looking Glas. Bé, ricordi Neo che tocca lo specchio e la sua mano inizia a trasformarsi? O la scena in cui si vede riflesso nello specchio rotto che poi si ricompone?- E allora?

E allora? :)

Saturday, February 19, 2005

O chocolate vicia?

Hoje, sábado, fiz mais uma receita do livro que a minha avó me deu. Trata-se de receitas com chocolate... depois de já ter feito os crepes com molho de chocolate para sobremesa, esperimentei hoje as trufas. Ficaram bons... pelo menos é o que diz quem provou :P
E de acordo com o livro, o chocolate têm um lípido que se chama anandamina que provoca o mesmo efeito que substâncias presentes na marijuana, e ainda outras substâncias que causam dependência. No entanto não há razão para preocupação, porque para viciar, uma pessoa tinha que comer vários quilos de chocolate por dia...
Moral a retirar: Os livros de receitas também podem ter coisas interessantes para nos dizer.

Friday, February 18, 2005

Escrever ou não escrever?

Deverei eu continuar a escrever no blog se ninguém o ler? Esta é a questão que se impõe hoje… É mais complexa e abrangente do que se possa pensar…
Até onde vamos na importância que damos “aos outros” acerca das coisas que fazemos? Ás vezes torna-se fácil incutir em nós próprios que não dependemos de ninguém, que somos soberanos. Outras admitimos claramente que a opinião geral nos importa…
O segredo está em manter um equilíbrio. Devemos ter em conta a opinião alheia quando a opinião alheia é alguém de quem gostamos ou alguém em quem confiamos; devemos seguir a nossa vontade quando nos achamos correctos. Aliás, essa é a grande prova ao nosso sentido moral: parar quando devemos e não quando os outros nos dizem para parar. Somos nós que temos que analisar as questões e agir de acordo com a nossa liberdade, para que tenhamos liberdade. Quem não se sente preso por abdicar de algo, que lhe é vedado pela opinião dos “outros”? È uma prisão muito forte, aquela que nós próprios fazemos…
É por isso que escreverei no blog até não poder (ou não me apetecer…), mesmo que ninguém o leia. Isso deve-se ao facto de que, prioritariamente, escrevo para mim.

Thursday, February 17, 2005

Hábitos

A minha cadela passa os dias, em cima do sofá, à janela... Conhece as pessoas que passam: as que têm cães,as que lhe fazem festas, ou aquelas que por ali costumam estar. Fica inquieta quando vê as crianças jogar á bola e anseia por se juntar a elas. Incrivel como um ser não racional consegue ganhar estes hábitos tão rotineiros...

Wednesday, February 16, 2005

Típico dia de férias

Depois de já ter aproveitdo bastante os dias, (principalmente o sol de fim de tarde na praia:) ) o típico dia de ferias chegou... pequenas arrumações, o puzzle que se começa, o chá a ferver na chávena ao lado da manta onde me enrolo no sofá... as cartas que nunca mais se releram... Aqueles pequenos dias, que não tendo nada, por vezes nos dão tudo.

Tuesday, February 15, 2005

Pesadelo

Acordei de noite com um pesadelo. Daqueles que nos fazem ter medo, e não querer apagar a luz… Sonhei que estava numa cidade, onde iria haver uma explosão, e eu sabia que ia morrer. E tudo o que eu podia fazer era abraçar-me e despedir-me das pessoas que estavam comigo…Era uma sensação grotesca, aquela de saber que no próximo segundo já não estaria ali. Quando acordei e vi que ainda estava viva, aquela sensação de alívio tão peculiar, invadiu-me. Mas demorei a expulsar da minha mente o medo, e a pena… sobretudo a pena de saber que a vida ia acabar.

Monday, February 14, 2005

Dia dos Namorados

Neste dia, por vezes tão consumista, aqui fica um poema que se adapta maravilhosamente . Sempre achei que a linguagem é uma fonte de mal entendidos...

"O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz."

Sunday, February 13, 2005

Simples

Sempre apreciei as coisas simples. Pensamentos simples, sonhos simples, poesia simples… Pessoas simples. Talvez porque só a simplicidade tem o poder de exprimir o que muitas vezes só é palpável aos nossos sentidos. Pena é que, ás vezes, não nos apercebermos do mundo que pode existir numa palma de simplicidade.
Como o rei da história do reino de Helíria… estando velho e cansado, decidiu questionar as suas três filhas acerca do amor que elas sentiam, para que se decidisse a repartir o reino por elas. A mais velha, sedenta do reino do pai disse: “ meu senhor, o meu coração é pequeno de mais para conter todo o amor que vos tenho. Quero-vos muito mais do que ao Sol que me alumia, muito mais do que à luz dos meus próprios olhos, muito mais que ao marido que vou desposar…”. A segunda, seguindo a ambição da irmã, continuou o discurso magnânimo: ”O meu amor por vós não tem fim, é maior do que a imensidão das águas e dos céus. “
Estava já o rei, imerso em alegria, quando falou a terceira filha. Esta, que realmente o estimava, e ao ver todos aqueles exageros, falou com sinceridade recorrendo a uma analogia simples: “ O que não tem fim, não se pode medir. É difícil encontrar medida para o amor.(…) Preciso de vós… como a comida precisa do sal…”. E ao ouvir isto, o rei ofendido com a comparação tão pouco grandiosa, entregou o reino ás duas primeiras filhas e expulsou a última, mandando-a nunca mais olhar para ele.
Anos mais tarde, as filhas mais velhas, fartas do pai, mandaram-no embora, e ele… velho e cego, mendigando nas ruas, foi ter ao palácio da filha mais nova, sem saber onde se encontrava. Ela, que logo o reconheceu, levou-o a um banquete onde mandou preparar os melhores pratos: o melhor peixe e carne. Os melhores alimentos e os melhores cozinheiros. Mas tudo, sem uma pitada de sal. Quando o rei esfomeado começou a comer, ficou horrorizado com o sabor daquela comida. Ao que a filha mais nova respondeu: “vistes agora a falta que o sal faz?”.

Saturday, February 12, 2005

Hoje em dia

Antigamente as princesas tinham que beijar muitos sapos até encontrar o principe. Hoje em dia, neste mundo de principes encantados, tornou-se difícil encontrar o sapo...

Friday, February 11, 2005

Hoje nada estraga o meu dia

Hoje é o dia do meu último exame (finalmente!), mas nem isso torna a minha manhã menos solarenta. Acordei tão bem, e sinto-me feliz por uma qualquer razão que desconheço...( talvez seja o facto de não saber o que é, que me deixa assim tão feliz...)
Mas que interessa isso? O que é preciso é aproveitar o momento, sem questões demais que nos racionalizam... Hoje nada estraga o meu dia.

Thursday, February 10, 2005

desabafos

Hoje o dia não foi grande coisa... a minha mana está doente... e quando vemos alguem de quem muito gostamos mal... acabamos por ficar mal também... não é?
Para além disso, por entre o bafio das horas que se escorreram hoje, a ligeireza de um remorso passado assolou-me... Talvez seja a idade e a responsabilidade, cada vez mais presente, dos nossos actos...

" Não fui capaz de entender nada. Devia tê-la avaliado não pelas suas palavras , mas pelos seus actos. Ela perfumava-me e dava-me luz! Eu nunca devia ter fugido! Devia era ter sido capaz de perceber toda a ternura escondida naquelas suas pobres manhas. As flores são tão contraditórias! (...) "
O Principezinho

Wednesday, February 09, 2005

Aniversário

Quando andava no secundário tive de fazer um trabalho sobre um poema da Sophia de Mello B. ... Talvez porque foi perto da data dos meus anos, talvez porque gostava muito dele e o examinei a fundo, o que é certo é que neste dia... é sempre o poema que me vem à memória:

"De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
onde me uni ao mar ao vento e à lua

Cheiro a terra as àrvores e o vento
que a primavera enche de perfumes
mas neles só quero e só procuro
a selvagem exalação das ondas
subindo para os astros como um grito puro"



Tuesday, February 08, 2005

Férias...

Anseio desesperadamente por férias... ( quem não anseia, não é?) Sinto-me cansada de corpo e alma, de algum modo. Não é o facto de ter que estudar que me limita... mas sim a pressão do tempo. A obrigação e as regras no seu geral. Apetece-me gastar o meu tempo com coisas parvas, como deitar-me na cama a ouvir música durante uma tarde ou apanhar sol á janela... gastar o meu tempo, da maneira como eu quero... Tanto tempo temos nós de vida... e talvez, se contarmos, o único tempo que gastámos a fazer o que queriamos, passou na infância.
Férias, a eterna palavra salvadora! Não interessa se as nossas férias sao longas ou nao, interessa que quando as prevemos, adormecemos a pensar nelas, perdemos tempo a antecipar o que vamos fazer ( ou o que não vamos fazer) e irradiamos felicidade quando acordamos , abrimos os olhos e nos invade a consciênciade de saber que elas chegaram. Mantêm-nos vivos e confortam-nos. No fundo, todos sabemos que "o nosso tempo" é um bem muito precioso.

Monday, February 07, 2005

Mestre

Em dias em que não sabemos o que dizer, citamos o nosso mestre.

"Domina ou cala. Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias?Goza
Bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido"

Ricardo Reis

Sunday, February 06, 2005

Chuva

Chuva, finalmente!Confesso que, apesar de adorar os dias de inverno solarentos, pra poder passear e inspirar o ar seja gélido, já tinha saudades dum dia chuvoso. Até porque como tenho que estudar, este é sempre o melhor tempo. De manha, um cafezinho a escaldar, e de tarde, por entre as páginas do livro de Materiais, um olhar sempre atento à janela e ás gotinhas de água que escorrem. Abre-se a janela... e sente-se o melhor perfume natural: o cheiro a terra molhada. Não posso deixar de me lembrar que este cheiro é devido a um composto que umas bactérias que "moram" na terra produzem quando chove.... fica assim provado que a microbiologia serve verdadeiramente para alguma coisa:)
Entre todas estas divagações não me apetece estudar. Fico com vontade de largar isto tudo e ir dar um passeio plas ruas molhadas, à espera quem sabe... de um arco-íris...

Saturday, February 05, 2005

Viagens

A minha irmã vai a Londres em Abril, numa viagem de finalistas... Sem querer dou comigo ligeiramente melancólica, porque sei que a minha janela se vai continuar a abrir todos os dias para a mesma paisagem...

Friday, February 04, 2005

Carnaval

Estamos pertinho do Carnaval... por isso mesmo, hoje enquanto vinha na rua cruzei-me com várias crianças mascaradas... Tenho que dizer que não gosto nada do Carnaval...( balões de água, partidas, palhaçadas...) com excepção das mascaras, que acho formidáveis... Quando era pequena adorava mascarar-me e ... se pudesse ainda hoje o faria. Não tenho idade ( eu sei) , mas se pudesse , este ano mascarava-me de palhaço Mimo, aqueles com a cara pintada de branco, e camisola ás riscas que usam luvas ( gosto particularmente das luvas) e que não falam, comunicam só com gestos... Seria a mascara perfeita :)

Thursday, February 03, 2005

Imaginação

"Tristes da pessoas que já se esqueceram ( ou nunca souberam) imaginar..." é tudo o que me apetece dizer por hoje.

Wednesday, February 02, 2005

Cinema

Fui ao cinema hoje... Exactamente como gosto: a uma hora em que há pouca gente. A sala fica intimista, como se o encontro tivesse sido premeditado por todos os que, àquela hora, decidiram fugir ao ruído da cidade.
Para completar este cenário... o filme não desilude. Entre sonhos e realidades, objectividade e imaginação a tela faz-nos esquecer para além de onde estamos: quem somos!
De qualquer modo... e mesmo que o cenário não fosse o perfeito tenho a certeza que gostaria do filme do mesmo modo. Não haveria melhor para ver hoje, a oito dias do meu aniversário: mesmo que não quisessemos o Mundo obriga-nos a crescer....

Tuesday, February 01, 2005

"Olá? Está aí alguém?"

“Hallo? Er det noen her?” é o título do livro do norueguês ( nórdicos...:) ) Jostein Gaarden. Como se o título não fosse sugestivo o suficiente, o livro fala metaforicamente da importância das perguntas, da nossa consciência, dos sonhos… Aliás nada mais próprio do que para este blog, a sempre tão presente alusão aos sonhos. Parecendo que não a Alice e o génio de Lewis Carroll andam sempre por ai...

“Talvez estejas a perguntar a ti mesma se encontrei Mikka de verdade ou se foi simplesmente um sonho. (…) Cheguei à conclusão de que, no fundo, o que importa é termo-nos encontrado.”

“Recordar um sonho é quase tão difícil como apanhar um passarinho, mas ás vezes , é como se o passarinho viesse pousar espontaneamente no nosso ombro.”

Monday, January 31, 2005

Patinagem Artística

Este fim de semana assisti ás competições de patinagem artística no meu querido canal “Eurosport”. É sabido que adoro quase todos os desportos, mas a patinagem é o mais sublime: além de técnica os patinadores precisam de arte.
Foi com muito agrado que vi o russo Yevgeny Plushenko ganhar a medalha de ouro com o seu estilo inconfundível e a sua capacidade de comunicar com o público... Há pessoas com talento...
A medalha de ouro de pares ( a modalidade que mais gosto de ver) desiludiu-me um pouco. Não que o par russo dançasse mal... ( eles dançam melhor em patins do que eu com os meus pés), mas depois de há alguns campeonatos atrás ter visto o par francês Marina Anissina e Gwendal Peizerat , todos os outros se tornam “bons”, mas “não muito bons”. Eles eram originais... ela foi a primeira patinadora a patinar de calças e tinham uma presença marcante... ele com a sua cabeleira loira e ela ruiva. Além disso tinham mais qualquer coisa... via-se que gostavam do que faziam... tanto que enquanto actuavam faziam-nos esquecer da técnica , dos passos obrigatórios, das regras. Para mim eram perfeitos.
Ás vezes sou tentada a pensar que se pudesse, não hesitava em trocar a minha vida de “estudo” e de futura engenharia, por uma vida assim, cheia de arte...
É preciso muita imaginação para conseguir ver arte na engenharia...

Sunday, January 30, 2005

Monet

Este Natal a minha irmã ofereceu-me um calendário com quadros de Monet, um para cada dia do ano… Tenho-os neste momento à minha frente, enquanto escrevo. Folheio as páginas e acabo por nunca conseguir decidir-me sobre qual é o meu preferido. Sempre que os observo acabo por descobrir quadros novos em que ainda não tinha reparado. Ao folheá-los hoje, novamente, não posso deixar de me lembrar do dia em que conheci Monet. Foi há coisa de quatro anos, andava eu no 12º. Num dia exactamente igual a tantos outros (e nesse tempo, os meus dias eram mesmo todos iguais…), sentei-me na aula de português. Sozinha e calada como sempre. Por acaso foi nesta altura que me comecei a interessar pela literatura, mas isso não me impedia de estar distraída na aula. Os meus colegas achavam-me muito estudiosa, e vendo-me sempre tão solitária, achavam que estava compenetrada a tomar atenção ás aulas. Nesse dia, como nos outros, os meus pensamentos voavam pela janela, transpunham a escola e perdiam-se nas nuvens… Folheava o livro, desinteressadamente quando o quadro de Monet se mostrou, forçando-me a descer à terra. A minha ignorância até à altura não me permitia saber quem era Monet e o que era o impressionismo. O meu interesse pelo quadro foi simples: gostava de olhar para ele. Era de algum modo triste e compreensivo, e por outro lado misterioso. O quadro de que lado é o tão conhecido “Impressões do sol nascente”, o quadro mais famoso de Monet e o que se revela como o percursor de um estilo até então desconhecido: o impressionismo.
Mesmo depois de ter conhecido outros estilos de pintura, e até outros pintores impressionistas, nenhum tem o lugar que Monet ocupa em mim. Acabei por me afeiçoar aos seus traços e a reconhecer as suas paisagens favoritas… aquelas nuvens de dias solarentos, ou os céus incandescentes e feridos ao pôr-do-sol.
Lembro que quando a aula acabou, mantive o livro aberto na página do quadro, nesse dia e em muitos outros. Fazia-me companhia. Talvez haja uma explicação psicológica para o facto de eu gostar tanto de Monet e dos seus quadros. Não sei. A verdade é que gosto de olhar para eles.

Saturday, January 29, 2005

welcome

Tenho reparado ultimamente que toda a gente tem um blog... Resisti durante algum tempo a fazer o meu próprio, mas pronto... acabei por ceder "à moda". A questão é que há vários anos que escrevia pequenos diários com o que prenchia o meu dia ( ou não...). Tinha já três disquetes cheias de textos ordenados por datas, quando perdi tudo o que tinha na primeira e segunda disquete... Perder tantos anos de registo da minha vida fez-me ficar tão triste, que nunca mais voltei a escrever assim, diariamente. Até hoje. Confesso que tinha saudades...

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