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Thursday, December 27, 2007

Natal

A igreja estava fria. Não porque fosse Inverno. Era Natal.
Não chovia,nem nevava. O cenário era frio até nisso.
A noite inebriante estendia-se pelas ruas que levavam à igreja. As ruas que percorrera para ali chegar. Equanto andara não sentira frio. O contínuo dum breve futuro aquecia-lhe as mãos.
Era Natal. Nada nas pessoas à porta da igreja lhe indicava que fosse Natal. Mantinham um estado alternado entre um sorriso ocasional e um cansaço nos olhos, que se escapava sem querer. E ele precisava tanto de calor, algo que lhe aquecesse a alma, que o fizesse acreditar. Tanto que ele precisava que fosse Natal...
A igreja era fria. Mais fria do que a rua. Quando se sentou para ouvir as crianças cantarem sentiu as mãos duras, azuis. Devagar essa cor atravessou o corpo todo deixando-o dorido e fixo no banco da igreja.
À medida que as vozes límpidas ecoavam nas paredes e se atiravam contra ele, sentia-as cairem nas profundezas do seu ser. Algumas caíram nos seus eternos buracos, aqueles vazios que ele queria esquecer. Não voltaram mais. E tornaram-se azuis, como as suas mãos.

Monday, December 17, 2007

A última carta

Porque Pablo Neruda passou uma última noite estrelada igual à minha. E porque tem muito mais talento do que eu.

Porque esta é a última carta, os “últimos versos que te escrevo”.
Por isso te peço que abandones os meus textos. Não quero que os leias, não quero a tua nostalgia. Como vês, tenho Pablo Neruda para me fazer companhia... Enquanto continuares a ler, a “minha alma não se vai contentar por haver-te perdido”. E eu quero que esta seja a última carta, e a “última dor que tu me causas”.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
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Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
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O vento da noite gira no céu e canta.
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Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
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Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
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Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
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Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
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Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
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Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
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Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
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Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
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A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
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Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
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De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
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Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
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Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda
tradução de Fernando Assis Pacheco.

Sunday, December 02, 2007

Essência fatal

"O homem de neve olhou para dentro da casa e viu um objecto preto bem brunido, com o seu forno de cobre. Por baixo luzia o lume. E o boneco sentiu uma sensação difícil de explicar.
(...) Era o degelo. Este aumentou, o homem de neve diminuiu. Não disse nada, não se queixou. Tinha de ser assim.
Certo dia esbarrondou-se. No lugar onde ele estivera, ficou um atiçador do lume, em volta do qual os garotos o haviam modelado.
-Agora compreendo- disse o cão. - O sujeito, afinal tinha o atiçador no corpo, não admira que sentisse nostalgia do fogão. Foi isso que o matou. "

O Homem da Neve - Hans Cristian Andersen

Tuesday, November 20, 2007

De tarde

Ontem estava em casa, doente. De tarde, enrolada em mantas deitei-me no sofá a ver televisão. Dantes, era um acto tão comum. Ontem pareceu-me uma extravagância.
De repente, mudei para a rtp2 e estava a dar um programa para crianças. Veio-me subitamente à memória, que quando era pequena existia um programa em que uma rapariga mantinha uma especie de ET no sotão, que tinha a abilidade de passar desenhos animados como uma televisão. Era como se a fita com os bonecos fosse o seu alimento. Na altura aquilo fazia-me sonhar, e esperava por aquela hora para ver o "monstro" comer os seus desenhos animados que eu também tanto gostava. E anexado a isso, estava o lanche quente e a chuva lá de fora a bater nos vidros.
Foi uma sugestão de momento. Um caminho que o meu cérebro seguiu, pela associação de ideias que fiz. A sensação esvaiu-se. Ficou a memória.

Sunday, November 18, 2007

Pensamento do Dia

Há os sonhadores que amam outros sonhadores. E depois há os outros. Os verdadeiros. Os que amam as pessoas normais, na iterativa esperança de amar um sonhador.

Tuesday, November 06, 2007

and nothing else matters

Oiço só a música, sem a letra. Faço –o aqui ou no metro, como num dia em que me esqueço do mp3. A música habita o meu cérebro ( ou talvez o meu coração). Porque é que temos sempre tantos objectivos que se esfumam em nuvens lindas? Porque é as castanhas quentes a arder nas mãos, ao fim do dia não chegam? Ás vezes tenho curiosidade em saber o que aconteceria se isso fosse realmente o suficiente. Como uma curiosidade semelhante à de quem lê um livro e espreita umas páginas mais à frente. Algo que está para além de nós, mas que não nos pertence, não nos diz respeito.
Anexado a esse aparente desapego, as castanhas adquirem este novo espelho. Como aparentemente não chegam, são tudo o que existe. São tudo para que se vive. Mas sabendo que não são tudo o que se quer. Acabo por – lhes dar assim muito mais atenção, reparar em como me aquecem as mãos. E a alma. Em como sendo tão pouco, afinal são tanto. E em como sem elas, já nada mais importa...

Sunday, November 04, 2007

Reflexão do Dia

Na complexidade do ser humano, há sempre algo que me surpreende. Isso é a minha benção de todos os dias: eu não acertar sempre que vejo alguém que ainda não conheço.
Gostava de me observar como observo os outros, sair do meu corpo, ver-me de cima. Criticar-me, adorar-me. Mudar-me. E quando aqui chega o pensamento, aquela dúvida antiga afoga-se. E renasce. A surpresa recai também por vezes sobre mim, sobre alguem de quem não sei nada e pior, de quem não consigo saber nada. E no entanto, reconforta-me a minha simplicidade. Aquela postura do sitio errado. É uma teoria diferente dos que se encontram nas estações certas e que esperam, talvez até o mesmo comboio que eu. Mas que ao meu lado permancem-me inexplicavelmente complexos.

Saturday, October 27, 2007

Divagação

Quando penso em Copenhaga, penso inevitavelmente nas duas personagens que criei numa altura em que me apeteceu escrever uma história. Penso neles, como se fossem pessoas, às quais eu dei um destino. E pelo qual eu sou responsável.
E de certo modo, é como se apenas em Copenhanga (onde eu nunca estive) eu pudesse vir a encontrá-los, estar perto dos sítios onde eles estiveram. E pedir-lhes desculpa, pela vida que lhes criei.

"- Ás vezes estamos bem melhor sós. A solidão é mais leve quando é verdadeira. Demarca o que és… e não te afastes da tua pessoa. Pior do que o sofrimento de te afastares das outras pessoas é afastares-te de ti. Essa solidão é a mais fria.
Demorou algum tempo a sugar as palavras dela e fitou-a com cuidado, como quem olha um espelho procurando a alma que está lá dentro.
- Quem és tu? –acabou por dizer.
- Helga. Sou uma viajante em busca de Copenhaga."


Alice - Um Pôr-do-Sol no porto de Copenhaga

Sunday, October 21, 2007

Nada em comum

Um fim de tarde na Praça do Comércio trazido pelo vento do Outono, mostrou-me a orquestra de Jazz a inundar a praça com o ritmo, a melodia que falta num Verão já distante. O Jazz tem este sabor quente, das coisas quentes... A luz baixa tapava os olhos, como se nos obrigasse a ouvir apenas ( os olhos por vezes apenas deturpam o que os ouvidos compreendem).
Nesse momento, senti-me fatalmente em Paris, naquele fim de tarde onde sentada ao pé dos lagos com enormes repuxos ouvi Jazz, no bairro de La Défense. Havia na singularidade do momento alguma ironia, algum fado. E no entanto, nada lembrava nada. Porque a única coisa em comum era o Jazz num fim de tarde. E os lugares ( o sitio e Eu) são tão diferentes, que afinal até o Jazz é diferente. E não há nada em comum.

Sunday, October 14, 2007

Carta "a ti"

“Que pode fazer? Há a tenacidade. A dureza dum bicho que não quer morrer. Características que se destilam da sua pele de seda.
Toca-lhe, se quiseres. Isso não a vai incomodar. Mas a ti, os dias parecerão mais pequenos. Ou mais infinitos, como preferires. Será igualmente inútil: com ou sem eternidade. Há já uma eternidade que lhe mora no coração, cresceu ali.
E a ti, vai parecer que ela já está longe. Que já fugiu. E nessa música que voa, há uma tristeza que desconheces. Porque ela nunca foi. Para ela, amanhã já é tarde. E como sabe que tem razão, não se importa se lhe tocas hoje, ou se foges amanhã. Isso já é ontem.
O perdão está para além das estrelas, para além da tua compreensão. Ela não precisa dele, não lhe serve de nada. Guarda-o contigo, mas não fiques triste. Pensa que tu não compreendes, mas ela compreende. E não pode fazer nada. É uma prisão pior.
Ela segue aquela música como um santuário. Tem fé. E tu não sabes o que isso é. Esperar.
Um dia, eu sei , ela vai ver-te. Nesse dia vai dizer adeus. E talvez nessa altura, tenhas então oportunidade de conhecê-la.”

Tuesday, October 02, 2007

Marquês

Todos os dias vou até ao Marquês de Pombal. Hoje, por trás da estátuta, estava um céu de baunilha, umas nuvens pontilhadas, um sabor de morangos no ar.
Gosto de fazer isto: ficar ali a olhar, a tomar consciência. Quando paro para olhar para o Marquês como num dia de hoje é como se ficasse mais perto do outro longe, como se o primeiro passo para ir embora, fosse este, o de observar o que fica, o que se tem. É por isso que gosto tanto do Marquês. Porque sei que o Mundo está cheio de rotundas destas, que eu não conheço mas que um dia eu poderei ver e cheirar. Mas porque ainda não as vi, o Marquês é todas elas.

Sunday, September 23, 2007

Nuno Júdice

De tarde, no campo, nenhum pássaro cantou;
e só neste fim de dia um vento traz o assobio
da primavera melancólica: despedidas,
imagens breves, nenhuma inspiração. O sopro nocturno,
porém, anuncia um reflexo de espelho no fundo
do corredor. A voz surge de um dos quarto
sem que a ausência se perde. Um baço
murmúrio se aproxima do gemido que evoca
o mar - sem que a onda se decida, quebrando
o som agonizante. Então, abro a porta
e chamo-te; sabendo que só a noite me responderá.

Nuno Júdice - Poesia Reunida 1967 - 2000

Saturday, September 15, 2007

Pensamentos

A noite de sexta-feira encontrou-me num espirito melancólico. Não sei porque é que somos tão cíclicos, que poder tem “o passar um ano”. O tempo anda inequivocamente para a frente numa linha recta que nem na matemática mais avançada é curva. Mas nós gostamos dos movimentos de translação. Gostamos de pensar que o tempo é de certa forma o mesmo sempre que a Terra passa pelo mesmo sítio.
Apanhei um eléctrico e com ele o vento de Lisboa e o cheiro do Rio. O movimento lento e compassado permitia-me apreciar suficientemente a paisagem para perceber que há momentos assim: estamos em total desacordo com o Mundo que nos rodeia. Até a paisagem linda, a simpatia do motorista, os estrangeiros que nos fazem perguntas. Tudo está no sitio errado. E no entanto está correcto. E percebemos que não podemos estar em fase com o Mundo. Ainda que o Mundo nos dê o melhor que tem. E na noite de sexta-feira, o Mundo esmerou-se. Depois daquela viagem fugidia a horas despropositadas no eléctrico, enchi os meus sentidos com o Tejo e com a pedra do Mosteiro. Um cemitério de sentimentos. De silêncio. Uma humidade de perguntas que ali deixam de ter sentido, porque não há fala. Há apenas olhos, e o coração. E o céu por cima da pedra, é um lago negro, onde moram monstros.

Tuesday, September 11, 2007

Provérbio Alemão

Para quê correr, se vamos no caminho errado?

Sunday, September 02, 2007

Trabalhando até tarde...

"Eu não quero ser
A luz que já não sou
Não quero ser primeiro
Sou o tempo que acabou
Eu não quero ser
As lágrimas que vez
Não quero ser primeiro
Sou um barco nas marés"

Pedro Abrunhosa

Thursday, August 09, 2007

O meu gato de Schrödinger

"Um físico chamado Schrödinger, propôs que fossem colocados dentro de uma caixa um gato, um contador Geiger, um frasco de veneno, e um punhado de elemento radiativo. A chance de o elemento radiativo emitir radiação numa hora deveria ser 50% e o veneno deveria ser letal, mas o gato poderia ser de qualquer raça ou cor.
O experimento se desenvolveria da seguinte maneira: se, por acaso, o elemento radiativo emitisse radiação, o contador Geiger iria perceber o facto, activando um mecanismo que quebraria o frasco, libertaria o veneno, e mataria o bichano. Para o cientista, tudo que resta é abrir a caixa depois de uma hora, e ver se o gato estava morto ou vivo. Para solucionar o problema, o físico Hugh Everett III propôs, em 1956, a teoria dos mundos paralelos. Segundo essa proposta, quando o elemento radiativo emite a radiação, o mundo divide-se em dois universos paralelos: um onde o gato vive, e outro onde o gato morre."
Não há nada pelo que possa chorar. Não posso chorar pelo teu regresso adiado. Não existe regresso. O que existe é a mágoa do que deveria ter sido. Existe o desalento de um mundo que existiu paralelamente a este; existiu demasiado colado e possível durante demasiado tempo. Mas os mundos que não existem, separam-se. O único que conta é o real, o que prevalece. Nas tuas mãos um dia, esteve a determinação do mundo que seguiria.
Existe por isso o desalento de não ter pelo que chorar. Os meus motivos enterram-se numa realidade paralela que me acompanha mas que não existe, a não ser para mim.

Wednesday, July 25, 2007

Sunday, July 22, 2007

O quarto

O quarto estava aí. De um ângulo estratégico mirava-o. Havia um perfume de Verão no ar, de tardes perdidas à espera do cair da noite, longa como só nestes tempos.
A cama estava impecavelmente feita e fresca, os livros alinhados, limpos, sentia-se o cheiro doce da madeira. A roupa simples repousava no armário fechado, onde o espelho reflectia o quarto, dando-lhe um ar de salão, interminável.
Também não havia barulho. Nada perturbava o calor mole que escorria por entre as frestas das persianas corridas. Não havia carros lá fora, nem pessoas. A hora era quase sagrada, de retiro.
Olhado o quarto mais uma vez, apercebia-me da harmonia que se sustentava no ar. Havia por isso, um medo de mexer nas coisas, ver a perfeição estilhaçar-se, como um espelho que não suporta notas agudas. Em cima da mesa estavam folhas, impecavelmente arrumadas e secas, as canetas imóveis, o candeeiro debruçado: o lugar certo das coisas certas. Por cima, suspendiam-se fotografias, momentos captados e que se queria perpetuarem-se. Apesar de desengonçadas, faziam parte da ordem e frescura do quarto.
À frente dos cortinados espessos, estava um puff, de cores alegres que convidava a uma reflexão. No meio do cheio de Verão, era bom olhar o tecto, ver as sombras deslocarem-se, segui-las...
O quarto estava aí. Perfeito de tão harmonioso. E no entanto, faltavas tu.

Tuesday, July 10, 2007

Já passou demasiado tempo
para ser um erro.

Há estrelas diferentes. E estão
longe de ser bonitas.

É assim a fé: acreditar que o
céu é infinito.

Posso ouvir aquela música? Apenas.
Vai embora,
de vez em quando gosto de não
me sentir só.

Monday, July 02, 2007

À memória de Sophia

"Mostrai-me as anémonas, as medusas e os corais
Do fundo do mar.
Eu nasci há um instante."

Sophia de Mello Breyner Andresen - Mar

Saturday, June 30, 2007

Frase do Dia

"Nunca tiveste aquela sensação de que isto é tudo um sonho do qual esperas ser acordado?"

in Matrix

Saturday, June 16, 2007

Seven

Se de facto, observarmos o nosso dia a dia. Se observarmos as pessoas, vemos que os sete pecados mortais são comuns. E por serem comuns são aceites.
"Seven" foi a primeira vez em que concordei com um assassino; e quase me horrorizei ao ter uma base comum ao pensamento dele.
De uma forma cruel, o assassino ensina-nos como deveriamos ser castigados por cada um dos pecados mortais que cometemos tão indiscriminadamente.
Sempre que vejo o filme, foco-me naquele que sei ser o meu pecado capital... Inevitavelmente, o medo da nossa justa morte no filme, faz-nos pensar nas nossas acções de todos os dias. Nos pecados consentidos.

Monday, June 11, 2007

A Menina dos Fósforos

Estou cansada.
Perco-me todos os dias
em sonhos inúteis.
Fósforos que acendo para
suportar o frio que
me deixaste.

Canso-me ao acordar todos
os dias para a mesma
caixa de fósforos.
Canso-me a acendê-los.
Canso-me a acreditar que
me podem aquecer.

Estou tão cansada... Estou farta
dos meus clarões de sonhos
inúteis.
Ridículos, como fósforos
no meio da neve.

Chama o Anjo.
Eu estou cansada.
Ele que acabe com o frio,
os sonhos já não me fazem falta.

Alice - à memória de Hans Christian Andersen

Thursday, June 07, 2007

O Mar

"Oh Mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!

Sunday, June 03, 2007

Há coisas piores

Há coisas piores.
Gosto de pensar que há coisas piores. Podia não existir. Podia não haver Sol. Podia estar sempre frio. Podia viver numa ilha deserta, feia e sem ninguém. Podia morrer ai, sozinha.
Podia não ouvir e perder Beethoven. Podia não ver e perder o Azul.

Mas ás vezes, mesmo depois desta reflexão, continuamos tristes. Porque a verdade é que não conseguimos ouvir, não conseguimos ver. Sentimos frio e no meio de uma existência duvidosa, o mundo é a nossa ilha isolada, onde se passa mais um dia, à espera do último.

Friday, June 01, 2007

"O dia devia ser sermpre o fim da tarde..."

" O dia devia ser sempre o fim de tarde..."
Uma Lua prateada e magnética surgiu no alto da noite.
"Cuidado com o que desejas..."

Perco-me.
Raramente é de propósito. É antes uma falta de consciência, uma falta de realidade que sempre me faltou nas pontas dos dedos.
Ás vezes é a busca daquele sentimento extremo: o medo de estar no meio de uma planície deserta, a angústia do precipicio numa roda da feira popular, olhar o fim do Mundo...

Mas nem sempre me perco.Nem sempre tenho essa sorte. Na maior parte das vezes deambulo, fecho os olhos. Abro os olhos. Não procuro sítios, procuro reflexos.
Sem nenhum tipo de sobressalto, sem nenhuma quebra na monotonia do compasso do meu coração, vou seguindo em frente, depois ando às voltas, quando seguir em frente é já um caminho demasiado longo para o retorno, porque há sempre um retorno...( até quando?)
Quando estou cansada, paro. Paramos sempre quando estamos cansados.
Mais um dia que se pôs, mais uma viagem.

Tuesday, May 08, 2007

PARIS PARTE III - O rio

Creio que uma das coisas que menos gostei em Paris foi do rio. Parte desse desencanto veio da cor, suja. Muito pouco convidativa.
Por outro lado o facto da cidade estar praticamente em cima do rio deixa que os edíficios se reflictam sobre ele, como se o esmagassem, como se a luz se sobrepusesse à sua natureza selvagem. Até o rio é artificial.
As muitas pontes, fazem-nos esquecer que atravessamos água. É facil passar para o lado de lá, tão fácil que deixa de ser misterioso, deixa de ter encanto. Principalmente quando os dois lados são iguais...
Mas o que estraga o rio é a falta de ambiente à sua volta. Não há recantos. Não lugares. Não há o horizonte e o sol a brilhar na água azul. Não há a esperança e o sonho.
Em Paris, estamos numa ilha. Uma grande ilha sem Mar. Em que tudo conflui para o rio, que asfixia entre edífcios grandes e a poeira das pessoas que por ali se agrupam em busca de um encanto, que simplesmente não existe.

Wednesday, April 25, 2007

Tanto me faz...

Podias fazer-me um favor. Aplaca a minha dor, põe o volume dessa música mais alto. Já viste, há tantas estrelas no céu...
Não há nada que possas fazer. Mesmo que voltes, mesmo que digas que me amaste. Aumenta o volume dessa música. De resto, fica ou vai, tanto me faz...


Alice

Sunday, April 22, 2007

PARIS PARTE II - Claude Monet

Foi assim a entrada no museu de Orsay: podem dizer-te como é o paraíso mas se não o vires isso de nada te vale.
O sol quente de Paris, um pouco inexplicável, levou-me à entrada deste museu prometido. Lá dentro a sombra fresca levitou-me para outras épocas, para outros estados e dimensões do meu ser. É por isso que gosto de pintura.
Sabia que ia encontrar Monet. Mas isso de nada me valeu. Quando espreitei ao de leve e vi um dos meus quadros preferidos na sala em frente à que eu estava, senti um aperto no estômago, uma curta e breve indisposição. Não podia ser verdade.
Mas era. Uma sala inteira, branca, linda, cheia de quadros. Os meus olhos começaram a olhar para todos os lados, e de todos os lados vinham as pinceladas que eu tão bem conheço. De todos os lados me vinham as paisagens que conheço de cor. Que vejo se fechar os olhos. Olhava para todos os quadros e todos me eram familares, apetecia-me passar ali o resto do tempo.
Talvez algo sofregamente, atropelei as pessoas e fixei-me com cuidado nos meus preferidos expostos (a mulher com a sombrinha e os nenufares), uma alegria verdadeira de saber estar a olhar directamente para a cor que tantas vezes me dá cor. Senti uma profunda vontade de chorar. A beleza era tanta que quase magoava . E o que me desperta quando os vejo, foi muito mais intenso ali.
Sabia que ia ver Monet, mas isso realmente, de nada me valeu.

Monday, April 16, 2007

Aquela Música

O dia quente. A música na minha cabeça. O regresso a casa, a música. A noite quente, a janela aberta. A música. Aquela música. Sempre, como um preencimento. Sem ela, a o vazio é um infinito maior. A ausência como uma obcessão, queima-me cerebro. Cega-me a vista.

Como uma obcessão, amanhã posso já não pecisar dela. Mas hoje, é o meu fundo.

Sunday, April 15, 2007

PARIS PARTE I – Jim Morison

Uma semana em Paris. E o retorno a Lisboa.

A viagem para o cemitério de Pere Lachaise foi feita, o mais possível fora do metro. Faz-se de tudo para evitar aqueles túneis sombrios, os rostos tristes. Desde cedo que para mim, a visita a este local se tornara obrigatória. Mais do que saber se Paris é romântico ou se está inundado de luz, se tens lojas caras ou onde estão os famosos estilistas.
A entrada para o cemitério é pequena, e mesmo em frente ao metro. Isso foi a primeira coisa que me espantou quando lá cheguei: a proximidade entre mortos e vivos. Depois de comprar a planta para que me pudesse orientar, percorri finalmente, as ruas do cemitério alheias aos olhos dos visitantes. Aquelas ruas eram ruas calmas, sombrias, quase tenebrosas. E por isso mesmo convidavam a uma adrenalina extra , a um sentimento com dupla personalidade. Por todo o lado se amontoavam campas, de pedra. Imóveis. Fixas e duras. Altos e trabalhados jazigos onde repousavam famílias inteiras. Os nomes quase desapareciam naquela atmosfera escura, de ferro gasto. Por vezes as ruas não eram definidas. Pequenos lances de escadas levam-nos por uma pequena viagem entre as campas, uma aproximação quase tão proibida como excitante. Corvos isolados faziam-se ouvir no horizonte. As copas altas impediam a visão clara. Felizmente. Aquele cemitério com sol límpido perderia certamente todo o seu semblante.
Paralelamente à minha euforia, o jardim guardava os mortos. E que eram isso mesmo: apenas mortos. Nesse aspecto, o meu amor aquele cemitério era tão despropositado como a inquietude das pessoas que não gostam desta proximidade.
Jim Morrinson foi o último que visitei, depois de Oscar Wilde e Edith Piaf. Ficou estrategicamente para o fim, como um adiamento curto que se faz de uma coisa que se gosta. Estranhamente, o meu coração não parava de bater, numa ansiedade que eu própria estranhei. Ninguém mais do que eu sabe que ali só estão mortos. Disse que gostaria de voltar ao cemitério ao fim da tarde, quase noite. E repito. É nessa hora que os mortos se levantam das sepulturas? Pois bem, era mesmo isso que eu queria ver. Poder falar um pouco com o fantasma do Jim Morrinson... Dizer que durante uma noite inteira ouvi sem parar o “People are strange”. Agradecer-lhe por ter sido uma pessoa diferente, um louco. Que me fez ver que as convenções e as regras são para quem tem uma visão demasiado curta. Que me ensinou que na vida, a nossa única amiga é a música. Que me compreendeu, nas alturas e que fui estranha, em que fui diferentes dos outros, em que me via ao espelho vezes sem conta. Que me compreendeu, repito.

No cemitério de Pere Lachaise são estão mortos. Sim, é verdade. E é uma pena.

Wednesday, April 04, 2007

E do longe se faz perto...

Quand il est midi aux États -Unis, le soleil, tout le monde sait,se couche sur la France. Il suffirait de pouvoir aller en France en une minute pour assister au cocher du soleil. Malheureusement la France est bien trop éloignée.

Le Petit Prince

Friday, March 30, 2007

A rua com o meu nome

A rua tem um cheiro a maças verdes, doiradas pelo sol. No chão de pedra brilhante, caiem compassadamente folhas das arvores plantadas ao logo do eixo no centro. Apesar de alinhadas, não são simétricas. Os ramos desordenados espraiam-se para os céus, e dão à rua um ar futurista, paradoxalmente acolhedor. As folhas que vão caiando formam uma cortina que impede o Sol de marcar o rosto. E é assim que fixo as imagens, processadas por um filtro. Sabem a mel, as imagens.
Os ramos batem com o vento. Não são simétricos. Mas o acaso trouxe-os às janelas. Cada uma tem uma árvore, como se isso fosse condição necessária, sem a qual não existiriam janelas. E o vento inconstante fica pouco tempo no mesmo lugar. Enrola-se nas árvores, ás vezes pesaroso por ir embora. Indecisões rápidas que estremecem nos vidros da minha janela. Por mais que pareça o contrario, a rua é fixa. E o vento escolhe, não tem outra opção.
Ao pé das árvores, perto da porta das casas, existem bancos velhos . O jardim, ao fundo da rua, tem um lago onde nadam peixes. Ás vezes vamos ver os peixes, vê-los contemplar o Mundo enorme que conhecem. Do jardim vê-se a rua toda. Vêem-se os recantos mais sombrios, vêm-se os ramos que se baixam para o centro, as casas de pedra. Imóveis. Vêem-se as cores. Do jardim vêem-se as árvores, que apesar de juntas, não são simétricas.


P.S: Este texto nasceu de mais um desafio. O meu Muito Obrigado ao Tiago.

Thursday, March 29, 2007

Os olhos mais tristes

Um dia cansativo. Lisboa na sua azáfama não nos dá tréguas. O metro, o autocarro, o Marquês. Não há lugar para paisagens pitorescas. Dizem que a cidade é bonita. Talvez seja, gosto de andar a pé. Descer até ao Terreiro do Paço. Há coisas que descubro assim, na intermitência dos raios do sol enquanto me espreguiço contra o branco das paredes. Quando regressei a casa, sentaste-te à minha frente. E vi com desagrado, que tinhas os olhos mais tristes do dia, da semana , quem sabe do ano. Fitavas a envolvência como se os pormenores te interessassem, como se paisagem decrépita fosse um jardim exótico. Mas eu vi, os teus olhos caídos. As mãos abandonadas, cheias de manchas, o corpo flectido. Se o Mundo acabasse ali, não terias vontade de te levantar.
Discretamente observei os teus olhos. Os olhos mais tristes. Enquanto a viagem durou eu olhei para os teus olhos. Gostava de extrair essa tristeza, guardá-la num frasco. Depois levar-te a ver o Mundo, e na outra ponta do penhasco, atirar o frasco para o desconhecido. Mas tu saíste na paragem antes de mim. E desapareceste.

Sunday, March 25, 2007

Loucura

No outro dia senti esta loucura. Este formigueiro nas pontas dos dedos, que me fazem comichão enquanto vou na viagem de autocarro. E ás vezes esta loucura confunde-se com algum desejo de liberdade. Por vezes, quero ser livre de mim mesma, livre do que
penso.

Mas eis que esta música deu nome à minha loucura. Não o sei dizer em palavras, mas foi isso que ela fez, definiu o meu estado de espírito, acomodou-o. É por isso que consigo escrever, porque ela está aqui comigo e segue os meus instintos mais profundos. Orienta-os.

Ás vezes somos salvos por uma música.

Wednesday, March 21, 2007

Grito

Ás vezes podia resolver tudo num grito.
A realidade condensa-se em padrões complexos, ás vezes repetem-se, outras não: são irracionais.
Cansamo-nos a descodificá-los. Mas se não os descodificarmos, ficamos sós, na imensa planície que nos sufoca, de tanto espaço que nos oferece.
Queremos de mais. Queremos de menos. E por vezes o Mundo é apenas um quadro bonito, de passagem. Um pincelada que alguém deixou.
Outras não.
Outras, são as memórias cinzentas, a chuva que bate no passeio de manhã. O dia sem fim. Ás vezes é pior o infinito. Ás vezes é bem pior o infinito...
Resolvia tudo num grito profundo, grave, quase mudo. A frequência certa.

Thursday, March 15, 2007

Exigência

É bom passear. É bom saltar o muro do jardim, e ver o que há do outro lado. Porque há sempre outro lado, até do espelho.

Esta semana estive em Sintra. E tal como Évora, é uma cidade que me diz pouco. Talvez seja aquele clima húmido, as folhagens demasiado cerradas, talvez a visão cortada, o semblante romântico. Talvez seja isso, ou a minha exigência. A critica implicita, na maneira como olho para o que me rodeia, como se só pelo facto de estar perto fosse motivo para não ver beleza alguma.

Como um viajante cansado, cheguei a casa e fotografei a paisagem da minha janela. A janela de todos os Mundos.




Monday, March 05, 2007

Provérbio chinês

O tempo que passas a rir é tempo que passas com os deuses.

Sunday, March 04, 2007

Notas Soltas

Mais um eclipse. Adoro ver as pessoas todas a olhar o céu. De repente, parecem-se comigo. É noite de ilusão...
Desta vez, o céu não mudou espectacularmente de cor. E a Lua parecia algo perdida entre o nevoeiro da sombra da Terra... Mas ainda assim, um momento único. Inexplicavelmente único.


PS: Sexta feira voltei a fazer a viagem de Alentejo para Lisboa ao fim da tarde. Como é possível eu ter-me apaixonado pelo sítio que mais detestava? Como é posível eu nunca ter notado que ele estava lá, à minha espera?

Sunday, February 25, 2007

Indefinição

Acorda-me, diz-me que
é um sonho,
ou um pesadelo.
Diz-me que há outra dimensão,
outro espaço aqui,
onde tudo é diferente,
onde o que eu vejo não se
explica.
Faz-me acreditar que o Mar
não tem fim, ou então
mostra-me o penhasco onde
acaba tudo.
Conta as estrelas que vês
todas as noites.
Até ao dia em que não
sobrará nenhuma
e o céu estará negro:
o teu ou o meu?

Alice- 25/02/07

Wednesday, February 21, 2007

A realização

É bom realizar os nossos sonhos. Mas igualmente bom é voltar e poder pensar que os realizámos. É bom poder sentar aqui, na minha secretária e escrever ( porque ao escrever sinto). Relembro agora o post em que falei da viagem a Londres da minha irmã. Foi disso que me lembrei quando a semana passada entrei no avião com destino a Barcelona. Tantas vezes tinha pensado naquele momento que parece que já estava gasto. A felicidade que se sente em viver o que se anseia há muito tempo é tão forte que quase não a sentimos. Pensamos demasiado nela para a sentirmos. Depois sim, vêem as descobertas. Os sítios que não conhecemos, as pessoas diferentes, a vida que se altera de maneira exuberante. Tudo aquilo que sempre quisemos, mas que não sabiamos definir. Essa felicidade sente-se porque é exporádica, vem a soluçar durante todo o caminho.

Foi assim Andorra. As montanhas, o sky, o sol entalado numa paisagem que nunca tinha cheirado. Foi assim a neve a cair-me nos ombros, a rodear-me. Foi assim o som de várias línguas que se falavam. Foi assim o nosso apartamento (" é que não cabemos mesmo!"), as nossas refeições, os risos, a vista da janela de manhã.

É por isso que quando chegamos sentimos uma tristeza enorme. Porque quando a definição do que sempre quisemos se aproxima, temos de ir embora. Quando já estava habituada aos soluços da minha felicidade, o avião voltou para Lisboa. A parte boa, é que uma vez a descer a montanha só se pára quando se está cá em baixo. Sinto que o Mundo é meu.

Thursday, February 08, 2007

Borrow

Today you may feel a little sleepy
Maybe the morning is too soon
I guess I'll have to borrow
One of your sunny afternoons
But afternoons they never come
There's nothing left for me to borrow

Devia ter 15 anos quando Borrow do Silence4 fez sucesso. Confesso que na altura ouvia a música porque ela estava lá para ser ouvida. Hoje, verifico que a oiço todos os dias. Há uma simplicidade intensa na maneira como a oiço, como a interpreto. Como se estivesse sempre actual em mim. Mas sendo tão simples, como consegue produzir um encanto tão grande?

Tuesday, February 06, 2007

Conselho do Mestre

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.

Odes- Ricardo Reis

Tuesday, January 30, 2007

Saudade

De repente, entre as páginas que estudo e um olhar à janela onde o céu se sustenta, prestes a rebentar, sinto uma vontade enorme de ver o Mar.

Monday, January 29, 2007

Parabéns

Faz hoje dois anos que iniciei este blog. Para mim, o desafio de por vezes escrever textos camuflados, os meus pensamentos em plavras simples, indirectas. Porque o que é directo de mais, perde o encanto que só as grutas encondidas têm.E porque a avaliação só pode ser feita pelos que visitam o blog... aqui deixo, este post... entregue às opiniões daqueles que quiserem ( e acharem que devem) :)

Friday, January 26, 2007

A Perfeição

Os Campeonatos Europeus de Patinagem começaram esta semana e como sempre adoro esta competiçao que tem tudo: a exigência física, a inteligência, a arte e a originalidade. E continuou a preferir sempre as competições a pares. Quando existe perfeição é a dobrar e a sincronização dos patinadores é algo que me deixa maravilhada.
Por saudosismo fui à procura do meu par eleito, os franceses Marina Anissina e GwendalPeizerat, para mim os melhores de sempre que infeliemente já não competem... e depois de ver este vídeo ( e outros!) a competição deste ano deixou de ter tanto interesse...

http://www.youtube.com/watch?v=g-FLaZ66Wew

Wednesday, January 24, 2007

Ouvindo coldplay...

We live in a beautiful world...

E é verdade.
Quando é mentira é porque procuramos inutilmente a beleza onde ela não existe. A solução não é focarmo-nos na beleza, mas sim no nosso mundo. Em ultima instância, é ele que muda.

Monday, January 22, 2007

Gostar

Passei o dia todo a ouvir música. Não é que isso não seja prática corrente no meu manual de sobrevivência, mas hoje dediquei-me exclusivamente a isso.
Não sei porquê, mas as bandas sonoras de filmes exercem um especial fascínio sobre mim. Talvez porque as entrelace com as histórias de filmes que gostei. Ou talvez seja ao contrário e comece justamente a gostar dos filmes pelas músicas que os compõem. Gostar é simples. O processo que a isso conduz é que é complexo.

Sunday, January 14, 2007

Regresso

Há o sentir muito e pouco. E há a filosofia de Ricardo Reis.
Dantes recolhia-me sob os poemas que me ditavam a calma da retenção. Porque quem não se exalta não sofre. E isso era a minha melhor garantia.
Foi por ter vivido ao abrigo dessa capa, que hoje aproveito o limite da sensação, o verdadeito gozo de enfrentar o vento na cara. É o "muito e pouco" que se arrisca. Um turbilhão de sentimentos que dão continuidade à vida.

Mas hoje o turbilhão está longe. As minhas águas estão calmas, como no tempo em que Ricardo Reis era o senhor das minhas terras. E o mais estranho é que não lhe dei permissão para voltar...

Monday, January 08, 2007

Notas

Tenho a sensação quase cruel, de que o Ano Novo ainda não começou. Não é que peça mudanças no Mundo, mas anseio por mudar de perspectiva, ver a maneira de viver de modo diferente. Como a mobilia do quarto que se muda porque é bom acordar sob um ângulo diferente. Talvez tenha finalmente crescido.

A meteorologia e eu, continuamos em sintonia. A chuva não se decide a espreitar-nos, e eu mantive-me o dia todo no tema da banda sonora de Matrix que alterna entre um piano sério e um estilo electrónico aventureiro.

Saturday, January 06, 2007

Ensinamento

A primeira e pior de todas as fraudes é enganar-se a si mesmo. Depois disto, todo o pecado é fácil.

(J. Bailey)

Tuesday, January 02, 2007

Praia da Adraga

Foto gentilmente cedida por André Serrenho

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