Translate

Thursday, August 27, 2009

Enquadramento social

É uma questão de perspectiva. Sempre.
É uma questão de quantidade.De balança. De efeito de massa.

A tua diferença destacava-se num mundo desenquadrado.Sem fugas e sem prisões.
Soava a um ângulo novo,cheio de refracções de azuis e laranjas.
Mas afinal essas refracções não passavam dum efeito óptico saudável sob um mundo tão avariado e tão cicatrizado que reagia a qualquer luz.

A tua diferença não era uma salvação. Era um aviso.
De que o mundo era o errado.

Alice - Junho 2009

Tuesday, August 18, 2009

Pensamento do dia

O Mundo é um lugar tão bonito.
Ás vezes esqueço-me.

Sunday, August 09, 2009

Arrependimento

Arrependia-se. Ocasionalmente.
De te ter cedido o coração. De te ter colocado dentro daquela caixa branca cheia de areia escura do Verão esfumado que tem um inconfundível sabor a maresia. O coração galopava nas ondas que chegavam à praia desse Verão. Uma sonolência de poente pintalgava a praia onde estavas sentado. De costas para a cidade magnética. Os olhos verdes fixos no mar. A mesma cor. A mesma respiração salgada.
Lembra-se do vento que a vez descer à praia desse Verão pintado. Um vento de sul, quente a cheirar ao silêncio do Deserto. Uma praia quente ao fim da tarde, onde as ondas mornas te contaram histórias do horizonte. Histórias que tu viveste.
Mas ela arrependia-se. Ocasionalmente lembrava-se que fora um belo quadro, esse Verão imaginado. E que dera demais por esse belo borrão impressionista.
Alice

Thursday, August 06, 2009

É a segunda vez

É a segunda vez esta semana que passo no Rossio ao fim da tarde.
Vejo os estrangeiros, de mapa na mão a circularem entre o teatro D.Maria e a rua Augusta. Há neles um olhar de espanto, semelhante ao meu quando vejo uma cidade nova pela primeira vez.
E dou por mim a pensar em como seria ver Lisboa pela primeira vez. E apetece-me perder a memória. E ser o turista louco que chega à cidade lonquinqua no ocidente da Europa. E que está maravilhado com a luz, o castelo. O rio azul. E que entre a rua Augusta e o Rossio, decide ficar para sempre.

Tuesday, August 04, 2009

O amor é uma guerra

O guerreiro altivo e leal aproxima-se da cidade. Senta-se na sua saia de escocês e o ar puro das Terras Altas rasga-lhe o fundo dos pulmões.
Gosta do negro dos fumos nas pedras ancestrais e da água cristalina e fria onde bebe o seu cavalo.
Viajou e regressou. E escolheu aquela cidade. Ali a gaita-de-foles tocava sempre no vento da tarde e os poentes nunca eram laranjas, mas de um rosa esfumado pelas neblinas. O seu coração encoberto também gosta do nevoeiro de quem sempre fora.

E por isso, pensara em não conquistar a cidade. Tinha talvez a espada e a força necessária. Ou a liberdade na boca e os braços dos homens cegos, que partilhavam o mesmo coração. Mas a conquista roubava-lhe o amor que sentia.
E sem amor, a conquista era apenas uma escolha feita, que suportaria até ao fim.

Talvez um dia a cidade fosse sua. Porque o nevoeiro era igual. Porque a cidade já tinha visto muitos guerreiros e ele já tinha visto muitas cidades. A sintonia era mais poderosa do que a conquista.
Mas o tempo passou. E a cidade foi sendo saqueada. Trocada. Encantada. E o guerreiro voltou a viajar. Talvez houvesse outro nevoeiro, outra cidade que o deixasse ser conquistado.
Mas em todas, o vento não tinha melodia. E o nevoeiro, quando existia era transparente e roliço. E ele sentia falta da humidade grotesca da gruta do seu coração.
Porque ele amava as Terras Altas. Eram a sua terra, a sua melodia. O seu cemitério. O seu amor.

E voltou para conquistar a sua cidade. Com os seus braços e os braços dos homens que ouviam a sua liberdade. E conquistou-a em toda a sua altivez e segurança. E só assim, depois da luta, ela foi sua. E ele estava finalmente onde sempre quis estar, na sintonia profunda que sempre existira entre eles.

E não lamenta esse outro guerreiro vadio, que ás vezes ainda vagueia taciturno, à espera que a cidade o ame, com medo de a conquistar.
O amor é uma guerra.

Monday, August 03, 2009

Carta de Amor Inversa

Demorei tempo. Lamento.

Apareceste como meu herói numa versão superficial que sempre afastei para longe das minhas almofadas de sonhos. Prometias. Não, nunca prometeste. Mas era uma versão demasiado citadina dum quadro que eu criei na minha música. Não havia lugar para ti assim, tão disforme dentro do meu mundo. Dentro de todos os mundos.
Talvez te pudesses ir embora. Houve alturas em que o desejei, confesso. Os teus olhos críticos, desconfortáveis lembravam-me aquela gruta seca. Onde tantas vezes chorei. Não sabias. Mas talvez soubesses. E talvez os olhos não fossem críticos.
Resignei-me com a tua presença. Talvez um dia tu percebesses que não era o Monstro estragado que me fazias sentir. E deixei que ficasses assim, na borda duma ponte estreita. Uma ponte perigosa para o teu Mundo. Diferente. Diferente de tudo.
Insuportável conhecer esse teu mundo, tão invulgarmente superficial. Insuportável ver os teus olhos tornarem-se peixes atentos. Insuportável perceber o teu desconforto atraente comigo.
E evitar-te. A todo o momento.
E é por evitar-te, que não te consigo evitar.


Popular Posts