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Sunday, May 12, 2013

I hate you so much!


Hoje é segunda-feira e chove. Entre as cortinas de gotas, tudo se passa num clima morno de passividade. Há uma calma zen que me pertuba. Uma eterna aula de yoga que não paguei e da qual não consigo sair. Onde está o meu ódio? Mudo de música. Visto o casaco, saio à rua.
Os meus movimentos bruscos desvanecem, ninguém parece notá-los. Que se passa na minha face? Ninguém vê a minha raiva? Ninguém reage aos murros que dou no ar? Que desapontamento.
Se ao menos parasse de chover. Se ao menos aparecesse alguém que eu pudesse odiar. Mas odiar a sério, visceralmente. Alguém que me fizesse tremer. Sinto saudades dessa paixão invertida.
Mas a chuva é a simbologia da calma drogada que se abate sobre todos – eu incluída. Neste mundo cor-de-rosa todos são iguais e igualmente bonitos. Todos estão certos – a vida é que tem demasiados caminhos possíveis. As diferentes faces esticam-se na minha direcção “acerta-me e amar-te-ei de qualquer forma”. Um gesto tão apaziguador, que para além de aniquilar qualquer ódio que pudesse florescer, acaba por apodrecer tudo. O que resta de ti é nada. Um vazio insuportável de sentimento algum. Porque quando a chuva limpa tudo, não gosto de ti nem deixo de gostar.  
Mas o tempo há-de mudar. E ao virar da esquina, voltará a aparecer alguém tão medonho que o meu corpo se irritará só de ouvir a sua voz. Alguém que detestarei de coração inteiro e até ás pontas de todos os meus nervos. 

Porque odiar é amar ao contrário. E só tendo ambas as metades podes dizer que realmente vives.


Saturday, May 11, 2013

"Quando morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar"

A praia só tem duas cores : azul e amarelo. Tudo o que fica para além delas está para lá do horizonte e nunca interfere.
O sol está sempre a pique, é meio dia em todos os relógios do mundo. A areia recorta-se em lascas de conchas onde o sol reflecte tímidos arco-íris. Os grãos graúdos enterram-se com os passos, deixando para trás pequenas dunas que se emperigam com a brisa. O calor torna a areia morna e ela liberta aquele odor a doce,  sempre quente.
Chegando à beira mar, os pés arrefecem e a água das ondas rasas deixa uma linha na pele separando o seco do molhado. O cheiro da areia junta-se ao da maresia. O bater das ondas contínuo é reconfortantemente sempre o mesmo. Um som que acalma e espevita a vida.
Não há sombras nem projecções. A luz ilumina todos os espaços e aquece tudo.

E rompendo a orla, o meu corpo entra na água. A espuma desfaz-se nas minhas mãos e sabe a sal. O mergulho é amplo, repleto de continuidade. A minha pele escura brilha dourada enquanto os meus cabelos húmidos absorvem o cheiro a iodo. As ondas levantam-me no ar para momentos depois me pousarem de novo, delicadamente.

Fico assim, eternamente. E é sempre tão pouco. 



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