Lembro-me que que costumava sonhar repetidamente contigo
e nunca te disse.
Primeiro porque estive apaixonada.
Depois porque o tempo mudou. E a vida mudou.
E as casas trocaram de lugar.
A seguir a uma vida veio outra.
E de vez em quando sonhava contigo. Mas não te dizia.
Depois tu estiveste apaixonado. E o teu tempo mudou. A
tua vida mudou.
As casas voltaram a trocar de lugar.
E parecia não haver mais vidas a seguir àquela.
E claro, não te dizia que sonhava contigo.
Mais tarde desencantados seguimos solitários:
Eu sem ninguém, Tu com toda a gente.
Eventualmente um dia acabámos por nos encontrar no mesmo
sítio, com o mesmo
número de vidas e de casas trocadas.
Mas já não eramos nós e sim os resultados de todas essas
versões.
E tu dizias que nunca sonhavas.
Hoje já não há casas para trocar e acostumámo-nos a ser
felizes porque estamos vivos.
Se morrermos amanhã, nunca saberás que sonhei contigo.
Senão morrermos, talvez te diga. Ou talvez, como sempre,
acabe por esperar mais um pouco.