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Monday, June 22, 2015

Eutanásia

Recuso quase tudo o que me dão: comprimidos, conselhos ou maneiras de ver a vida. Não suporto esta maneira bem educada de saber o que se quer para a vida dos outros. Estou bem sozinha, muito obrigada. Quer dizer, ás vezes não estou. Ás vezes, até me apetecia estar com alguém, amar um coração perdido, cozer uma amizade em lume muito brando. Mas não sendo possível – e não o é a maior parte do tempo –fico-me pelo que tenho. É como ver um copo meio cheio que na verdade está mesmo quase vazio. Claro que posso sempre fugir para o campo e deitar-me no fresco chão dos campos de trigo a ouvir o vento embalar as espigas. Mas acabo sempre por guardar esse momento na mais pequena matrioska do meu coração. Ainda não é altura – um dia será. A vida é demasiado fodida para que eu ceda já. Quer dizer, tem de haver algo melhor do que isto, não se pode acabar simplesmente assim. Já se sofre tanto nesta puta de vida sem propósito nenhum, que resistir é a única careta que se pode fazer à morte.  E enquanto resistes, bebe as gotas que sobrarem dos copos esvaziados. Guarda, como diz a Sophia, as “coisas que sabes amar junto ao peito” e deixa que elas te preencham sempre que puderem. Já bastam as saudades, os mortos e os vivos que enterraste, as decisões que te estriparam. Já basta quando tens de assinar um papel a aceitar que a morte é a única solução.  No resto do tempo deixa-me me paz! Não faças da minha vida tua vida. Não faças dos meus pés o teu caminho. A vida é demasiado curta e cheia de tortuosidades para perdermos tempo com aquilo que não nos é verdadeiro. Mas é mesmo.

Sunday, June 21, 2015

Solstício


"Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze"

Sophia de Mello Breyner Andresen

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