Translate

Sunday, July 19, 2015

Insatisfação

I.
Eram 22 horas quando ele finalmente abriu a porta e saiu daquele mundo. Não estranhou a areia grossa nos pés, nem o silêncio rochoso que de um momento para o outro o rodeou. Não estranhou a noite azul púrpura na retina dos seus olhos nem a brisa quase estática, quente e perfumada. Não tinha tempo para estranhar, ocupado como estava a sentir-se feliz.

II.
Fazia já alguns anos que estas pontadas lhe surgiam. Como dores agudas nos ossos, quando o tempo muda, estas pontadas iam e vinham. Ás vezes demoravam-se um pouco mais e ele pensava “tenho de tratar isto”, mas acabava sempre por se fazer esquecer.  Até à proxima pontada. E eventualmente a distância entre pontadas diminuiu o suficiente para lhe começar a doer a toda a hora e ele perceber que as pontadas raras que agora lhe surgiam, eram as de alívio.

III.
O seu amor fora esfriando lentamente, como uma chama ténue de lareira. Ele ficara sentado no sofá a vê-la partir, sem mais combustível para a alimentar. Quando finalmente se extinguiu,  levantou-se, acendeu uma vela e caminhou tropegamente, assustado com a falta de clareza. Quando chegou à porta, pousou a vela e ajoelhou-se de olhos fechados. Devagar deixou os pensamentos que o cutucavam sair em liberdade.

IV.
Quando era novo, há muitos anos atrás, vivera nas montanhas perto do mar, onde a areia era grossa. Para quebrar o silêncio, costumava gritar o seu nome nos desfiladeiros e o som do seu eco enchia-lhe o peito dum amor que ainda não conhecia. Um dia, sufocado pela ausência de Tudo, pegou na mochila e apaixonado, mudou de Mundo.   

Friday, July 17, 2015

Alentejo

Quando o sol se abre, e tudo mostra
E a paisagem a um canto se encosta
Passa direita, no vazio que fica
A verdade lisa.

Popular Posts