As nossas vidas foram sempre paralelas.
E por isso poucas vezes nos olhamos francamente, cada um de nós ocupado em
seguir a sua própria linha reta, aquele fio de linha em que nos equilibramos
toscamente. Sempre fizemos tudo para evitar o vexame de cair da linha - acima
de tudo em frente a outros ou na presença um do outro. Os anos aperfeiçoaram a
nossa mestria de malabaristas, habilidosos como ninguém em escapar à vida. Do
nosso trilho pouco nos ficou, a não ser os vários corpos que intersectamos
consecutivamente e o odor a nostalgia que nos rodeia.
Hoje, tal como no passado, continuamos
os mais parecidos ainda que habitando planetas diferentes a vida corre ao mesmo
ritmo e na mesma direção para ambos. É uma espécie de fado que nos toca a toda
a hora e nos mantem de mãos dadas seguindo o mesmo rio mas com os pés em
margens distintas.