Muitas vezes tenho eu andado para trás e
para frente durante a noite, corpo estático claro está, sem mexer um músculo
dentro da cama. E tal como eu, também tu ias e vinhas. A maior parte das vezes
ias de tal forma que achava que já não voltavas. Era definitivo e o meu coração
retraia-se que é como quem diz preparava-se para a dor, a que viria – eu bem
sabia – não há nada pior do que a saudade que nos fica colada às mãos. Mas tu
acabaste sempre por voltar. Contra todas as minhas expectativas desfeiteaste
sempre o futuro e a indecisão, abriste a porta que eu fechei à chave,
sopraste-me o último fôlego. E assim foi passando o tempo; passou demasiado
tempo e eu habituei-me a que todas as vezes fossem a última nesta espécie de
ciclo infinito. Passou tanto tempo que já nem eu sabia como era a vida antes
disto tudo.
Mas ontem acordei a meio da noite e tu estavas
quieto. Tateei a escuridão húmida e os meus dedos encontraram uma gigantesca
ausência. Esse espaço de Nada é onde finalmente, vagueias agora.