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Wednesday, May 17, 2017

Céu de Baunilha

Há uma vida de céus intermitentes escondida entre o negro do medo
e o azul dos corais.
E o pássaro atrevido que esgravata entre as nuvens a promessa de um
arco-íris;
Talvez tenha medo do negro, talvez anseie de morte o azul dos corais.

Mas nos céus cruzados de propósitos e de traços geométricos, os pássaros
são como gaiolas: encerra-se neles todo o seu espaço.
Até que, por vezes, abrimos um escancarado céu de baunilha; E o mundo 
transforma-se na brisa morna do vento numa noite de Verão.
E os pássaros voam como crianças.

Mas a noite acaba. Eventualmente acabamos por fechar a janela
do céu de baunilha. E deixar os pássaros nas suas vidas.
Até que uma manhã tropeçamos no cadáver do pássaro 
que já não teve força para voar nos céus que tão bem conhecia.

É que as ações, as ações têm consequências. 

Monday, May 01, 2017

Amizade

Ocorreu-me ali. E é isso mesmo.
Nunca fui capaz de esquecer a imagem daquele rapaz sem cara. Sem nome.
Quem não tem nome, não chega sequer a existir.

A amizade é isso mesmo, uma existência sem imagens e sem nomes.
Com a pretensão de me ajudares, só pretendes ajudar-te a ti mesmo, garantir-te um nome.
Queres existir para mim.

A amizade é isso. É saberes que não podes ajudar. É não teres a pretensão que de que solucionas os problemas.
É não te imiscuíres diariamente nos meus pormenores.

Mas é estares lá. Sem nome. Como o rapaz sem cara.

(data indeterminada)


Saturday, March 18, 2017

Eternidade


As pedras do rio rolavam e rolavam sem sair do mesmo sítio,
espevitadas pela água fresca e cortante de um punhal.

Debruçado sobre elas, eu olhava a dureza daquela resistência,
Fascinado com a sua tenacidade de ser não-vivo.

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