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Saturday, October 27, 2007

Divagação

Quando penso em Copenhaga, penso inevitavelmente nas duas personagens que criei numa altura em que me apeteceu escrever uma história. Penso neles, como se fossem pessoas, às quais eu dei um destino. E pelo qual eu sou responsável.
E de certo modo, é como se apenas em Copenhanga (onde eu nunca estive) eu pudesse vir a encontrá-los, estar perto dos sítios onde eles estiveram. E pedir-lhes desculpa, pela vida que lhes criei.

"- Ás vezes estamos bem melhor sós. A solidão é mais leve quando é verdadeira. Demarca o que és… e não te afastes da tua pessoa. Pior do que o sofrimento de te afastares das outras pessoas é afastares-te de ti. Essa solidão é a mais fria.
Demorou algum tempo a sugar as palavras dela e fitou-a com cuidado, como quem olha um espelho procurando a alma que está lá dentro.
- Quem és tu? –acabou por dizer.
- Helga. Sou uma viajante em busca de Copenhaga."


Alice - Um Pôr-do-Sol no porto de Copenhaga

Sunday, October 21, 2007

Nada em comum

Um fim de tarde na Praça do Comércio trazido pelo vento do Outono, mostrou-me a orquestra de Jazz a inundar a praça com o ritmo, a melodia que falta num Verão já distante. O Jazz tem este sabor quente, das coisas quentes... A luz baixa tapava os olhos, como se nos obrigasse a ouvir apenas ( os olhos por vezes apenas deturpam o que os ouvidos compreendem).
Nesse momento, senti-me fatalmente em Paris, naquele fim de tarde onde sentada ao pé dos lagos com enormes repuxos ouvi Jazz, no bairro de La Défense. Havia na singularidade do momento alguma ironia, algum fado. E no entanto, nada lembrava nada. Porque a única coisa em comum era o Jazz num fim de tarde. E os lugares ( o sitio e Eu) são tão diferentes, que afinal até o Jazz é diferente. E não há nada em comum.

Sunday, October 14, 2007

Carta "a ti"

“Que pode fazer? Há a tenacidade. A dureza dum bicho que não quer morrer. Características que se destilam da sua pele de seda.
Toca-lhe, se quiseres. Isso não a vai incomodar. Mas a ti, os dias parecerão mais pequenos. Ou mais infinitos, como preferires. Será igualmente inútil: com ou sem eternidade. Há já uma eternidade que lhe mora no coração, cresceu ali.
E a ti, vai parecer que ela já está longe. Que já fugiu. E nessa música que voa, há uma tristeza que desconheces. Porque ela nunca foi. Para ela, amanhã já é tarde. E como sabe que tem razão, não se importa se lhe tocas hoje, ou se foges amanhã. Isso já é ontem.
O perdão está para além das estrelas, para além da tua compreensão. Ela não precisa dele, não lhe serve de nada. Guarda-o contigo, mas não fiques triste. Pensa que tu não compreendes, mas ela compreende. E não pode fazer nada. É uma prisão pior.
Ela segue aquela música como um santuário. Tem fé. E tu não sabes o que isso é. Esperar.
Um dia, eu sei , ela vai ver-te. Nesse dia vai dizer adeus. E talvez nessa altura, tenhas então oportunidade de conhecê-la.”

Tuesday, October 02, 2007

Marquês

Todos os dias vou até ao Marquês de Pombal. Hoje, por trás da estátuta, estava um céu de baunilha, umas nuvens pontilhadas, um sabor de morangos no ar.
Gosto de fazer isto: ficar ali a olhar, a tomar consciência. Quando paro para olhar para o Marquês como num dia de hoje é como se ficasse mais perto do outro longe, como se o primeiro passo para ir embora, fosse este, o de observar o que fica, o que se tem. É por isso que gosto tanto do Marquês. Porque sei que o Mundo está cheio de rotundas destas, que eu não conheço mas que um dia eu poderei ver e cheirar. Mas porque ainda não as vi, o Marquês é todas elas.

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