Tenho filtros de poesia nos
olhos, e já nasci assim.
Em criança parava para ver a água da chuva a cair nos beirais da escola. Os meus colegas berravam, que a chuva era inoportuna. Mas eu gostava, tanto quanto gostava dos dias de Sol. Cada qual do seu jeito.
Lembro dos vestidos fresco do Verão, de acordar de mansinho com o Sol a espreitar plas frestas, da minha pele a roçar os lençois frescos. Esperava sempre no caminho do comboio, para ver o Aqueduto e os azuleizos coloridos quando ia de carro. Os rituais preenchiam-me e faziam tudo ter sentido, como se as próprias pedras nos ditassem que fazemos todos parte duma grande roda que não pára de girar.
Já mais velha perdi tempo a ver os peixes vermelhos nadar no lago de pedra, olhava as pessoas para perceber que crianças tinham sido. Olhei. Olhei mais do que vivi.
Alturas houve em que a poesia me pesou. Era barreira instransponível entre mim e todos os outros Mundos. E a certeza de que a cadeira vazia do autocarro seria sempre para quem me amasse.
Mas nem assim essa poesia me largou os olhos. Consolava-me com o vento ao fim da tarde, o Mar. E as janelas, todas as janelas em que pudesse sonhar.
Em criança parava para ver a água da chuva a cair nos beirais da escola. Os meus colegas berravam, que a chuva era inoportuna. Mas eu gostava, tanto quanto gostava dos dias de Sol. Cada qual do seu jeito.
Lembro dos vestidos fresco do Verão, de acordar de mansinho com o Sol a espreitar plas frestas, da minha pele a roçar os lençois frescos. Esperava sempre no caminho do comboio, para ver o Aqueduto e os azuleizos coloridos quando ia de carro. Os rituais preenchiam-me e faziam tudo ter sentido, como se as próprias pedras nos ditassem que fazemos todos parte duma grande roda que não pára de girar.
Já mais velha perdi tempo a ver os peixes vermelhos nadar no lago de pedra, olhava as pessoas para perceber que crianças tinham sido. Olhei. Olhei mais do que vivi.
Alturas houve em que a poesia me pesou. Era barreira instransponível entre mim e todos os outros Mundos. E a certeza de que a cadeira vazia do autocarro seria sempre para quem me amasse.
Mas nem assim essa poesia me largou os olhos. Consolava-me com o vento ao fim da tarde, o Mar. E as janelas, todas as janelas em que pudesse sonhar.
Tenho filtros de poesia nos olhos, e espero que
fiquem comigo até morrer. Que debaixo dos filtros já não há nada e eu sou o que
a poesia fez de mim.