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Tuesday, September 26, 2006

A busca

Quando desejamos muito algo, preenchemos os nossos dias com uma só cor. E por vezes a ausência é tão violenta, que a cor cobre o vazio que sentimos, amacia-o. Como a busca não cessa, ansiamos por saber quando ela terminará. Quanto mais tempo passa, mais saborosa é a cruzada. Mas mais exigentes e incrédulos somos. Não cedemos facilmente a uma evidência.
Ontem, a minha busca terminou. Talvez seja imprudente escreve-lo aqui, mas o simples facto de o fazer, incute-me uma consciência desmedida de que é real. Acabou ontem, sem mais nem menos, sem hora marcada, sem nada que o fizesse prever. Acabou por soube que tinha acabado, porque de repente voltei a ver as cores todas. Se calhar é imprudente afiança-lo tão cedo, mas apetece-me faze-lo. Se a busca continuará ou não,não quero saber. Ontem, terminou.

Monday, September 25, 2006

Sonhos

Amontoam-se os meus
sonhos,
como almofadas na
cama.
Ás vezes durmo sobre
eles.

Lúcia Agosto-2006

Sunday, September 24, 2006

O Fim do Verão

"Alto e esguio, cabelo ruivo áspero. Os olhos azuis, doentes. Olha o Mar da praia, a areia sente-a demasiado na pele, como se o tacto fosse um sentido fresco acabado de descobrir. O poente lança faíscas de cores na sua direcção. O arco-íris desenhado tão diferente do de ontem, como será do de amanha alimenta-o. Vive disto, e do barulho das ondas. Sem elas, a vida faz um eco no vazio da sua caverna que não suporta.
Um dia houve em que não conhecera o Mar. Tão longe está dele esse pensamento, como a gaivota que por ali anda. Vai e vem. Ás vezes permanece na praia. Nesse tempo o cabelo era macio e os olhos não ardiam.
Na praia, a esta hora quase deserta, as ondas batem-lhe de mansinho, contam-lhe as histórias que trazem do outro lado do Mundo. Como ele não tem pressa, ouve com atenção. É por isso que fala pouco, diz que prefere ouvir o Mar.
Costumava ter um vazio dentro de si. O vazio do que não lhe fora roubado, do que nunca conhecera. O vazio de estar permanentemente cheio. Por isso partiu, ficar tornava-o igual todos os dias perante a ausência do que sempre lá esteve. Era como guardar a areia entre os dedos. Inútil.
Quando vira o Mar pela primeira vez, percebera finalmente porque é que tudo antes fora tão insípido para ele. Era tudo finito, de tão palpável. Era tudo pequeno, embora o pequeno fosse tudo o que conhecia.
Ficara com o Mar, quando o vira. O Mar devia ter nascido perto dele. Ali nunca nada estava preenchido. Tal como o horizonte, a vida era indefinida.
Dantes também falava pouco. Mas isso não mudara quando vira o Mar. O que mudou foi a extensão do que via, foi o alcance dos seus olhos, apesar de agora estarem mais baços, doentes.
Inspira o ar que tem o perfume único da espuma enrolada nos seus dedos e dos pedaços de areia de várias cores. Os rochedos aplacam tudo, protegem-no. Não lamenta as manchas na pele vermelha, que um dia foi branca imaculada de neve. Foi o vazio do mar que não conhecera que lhe dava agora a sensação peculiar daquela onda que se desvia do caminho e muda a forma da praia para sempre. "


Lúcia - Agosto 2006

Saturday, September 23, 2006

Liberdade

No dia em que vi a entrevista completa da rapariga austríaca raptada aos 10 anos e que esteve presa até aos 18, apercebi-me que o trauma que a atingiu não é muito diferente do que se pode passar connosco, em algumas alturas.
De facto, dizem os psicólogos que ela desenvolveu uma frieza calculista que lhe gelará o coração para sempre. Foi assim que sobreviveu, calando o medo e enterrando as memórias ruins que tinha. É assim que se luta pela liberdade. E é o que fazemos quando o pequeno quarto onde estamos ou a pequena cidade em que vivemos se torna na cave de Natasha. Esperamos dias, meses, anos pela oportunidade. Ás vezes chegamos a duvidar que ela apareça, mas é isso que nos mantem glaciarmente vivos: a esperança na liberdade.

PS: As minhas desculpas aos eventuais leitores deste blog, mas a avaria dos computadores é um problema de resolução lenta...

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