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Friday, December 30, 2005

Corpe's Bride

Ontem vi finalmente o último filme do Tim Burton, Corpe's Bride. O cinema não estava tão cheio quanto eu previa, no entanto o humor negro tão caracteristico deste realizador fez soltar alguns bons risos... A história é passada entre o mundo dos vivos: um lugar soturno e monótono, onde as pessoas são quase robots e onde a mesquinhez impera; e o mundo dos mortos, um lugar animado com musica, bebida e dança. Victor é um rapaz diferente, que passa pelos dois. Os bonecos são excelentes, bem caricaturados; a história é de uma suavidade comovente tendo como pano de fundo os cenários tão góticos como os bosques sombrios e os cemitérios. Mas o que mais gostei foi da música, a banda sonora em si já é boa... e depois recorre em vários momentos a solos de piano.... Momentos sublimes que apreciei com tanto gosto que hoje acordei com sede de piano e ainda estou a ouvir Moonligth de Beethoven...

Thursday, December 29, 2005

Pôr-do-Sol



"(...) Durante muito tempo, a tua única distracção foi a beleza dos crepúsculos. Fiquei a sabê-lo na manhã do quarto dia, quando me disseste:
- Gosto muito dos pores do Sol.Vamos ver um pôr-do-sol...
- Mas primeiro temos que esperar...
- Esperar o quê?
- Esperar que o Sol se ponha.
Começaste por ficar muito espantado, mas depois riste-te de ti próprio. E disseste-me:
- Ainda julgo que estou lá no meu sítio... (...)
No teu planeta pequenino bastava puxares a cadeira um bocadinho mais para trás. E vias quantos crepúsculos quisesses...
- Um dia vi o Sol pôr-se quarenta e três vezes!
E pouco depois acrescentaste:
- Sabes quando se está muito, muito triste, é bom ver o pôr-do-sol...
Estavas assim tão triste no dia das quarenta e três vezes?
Mas o principezinho não me respondeu."

O Principezinho - Saint-Exupéry

Wednesday, December 28, 2005

Relatos na 3ª pessoa

"Sentou-se numa mesa do café. Era dia de semana, estava de chuva e a sua presença foi logo notada pelas vizinhas do bairro que contabilizavam todos os que entravam. O café estava quente e fez-lhe bem, além de aquecer as mãos, aclarou-lhe os pensamentos.
Conhecia-o desde criança, sempre tinham morado perto um do outro. A primeira vez que o tinha visto na escola – lembra-se agora enquanto pousa a colher no pires tentando não fazer barulho – não tinha sido um bom encontro. Lembra-se que ele lhe tinha roubado as coisas, e ela tinha voltado para casa cheia de vontade de se vingar. Com o passar do tempo, tornaram-se amigos das partidas, em vez de se gladiarem. Ambos eram rebeldes, amantes da liberdade extrema e, ela agora também o admitia, partilhavam um gosto especial por não obedecerem a regras. Nesse tempo era tudo tão simples, as crianças tornam o mundo rústico. Nessa altura, o mundo era belo de tão perfeito. Eles davam-se bem, gostavam tanto um do outro. Depois veio a separação. Sem darem por isso, os anos foram passando e as vidas tornaram-se tão diferentes que quase não se reconheciam na rua quando se viam. Ás vezes ela via-o ao longe e comentava com alguém:” aquele rapaz foi meu amigo quando éramos novos.” Era uma fase dita sem pensar, quase um lamento inconsciente que não sabia que tinha. Passava anos sem se lembrar dele, e no entanto quando fazia esse comentário tinha a certeza que existia um mundo que a levava até ele cheio de memórias que a preenchiam.
Ela estava tão diferente desde esse tempo… tinha-se tornado uma pessoa sábia à custa do seu gosto por aprender. A vida era feita longe do bairro onde morava, por vezes só vinha a casa à noite. Era uma pessoa tão diferente… sonhava em mudar-se, em conhecer o mundo, quebrar a monotonia que nunca suportara. Ele, no entanto sempre vivera por ali…não tinha estudado, trabalhava num café ao pé da sua casa, nem sabia o que era feito dos seus irmãos….
Lembra-se tão bem de gostar dele, mas de uma forma natural como se nunca tivesse parado para adquirir esse conhecimento. Lembra-se de saber que ele também gostava dela… Como se pode lembrar tão bem disso? Levanta-se bruscamente da mesa e resolve dar uma volta pelo jardim. Espezinhar as memórias tem destas coisas, em vez de afugentá-las, atraímo-las. Guarda para si esses pequenos momentos, esses fios de pensamento que já nem têm rosto, são uma névoa sem fundo nem som…
Inevitavelmente pensa no que poderia ter acontecido se não fosse uma pessoa tão diferente, se fosse como ele… agarrada àquela vida de todos os dias, à alegria dos que não questionam e aceitam a simplicidade. Quando o vê, sente que gostava de ser assim, simples."

Friday, December 23, 2005

Tuesday, December 20, 2005

Rir

Em "Quem tramou Roger Rabbit" , um desenho animado pergunta a Jessica:

" - o que vês nesse coelho??? " ao que ela responde:
" - ele faz-me rir...."

Quem nos faz rir garante de facto um poder ilimitado ...

Thursday, December 08, 2005

Cansa sentir quando se pensa

Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar.
Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo.
E é uma noite a ter um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.

(Tudo isto me parece tudo.
Mas noite, frio, negror sem fim,
Mundo mudo, silêncio mudo -
Ah, nada é isto, nada é assim!)

Fernando Pessoa

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