Tem dias que é assim. Toca a música e a dor crava-se no meu peito, como uma lapa. Suga-me a felicidade do Sol a brilhar em dia de aguaceiro. Parece que é tudo novo outra vez, que vos perco um a um outra vez e pela primeira vez. A dor de vos perder e a dor da vossa ausência, tudo junto como numa rodilha maltrapilha. Não posso falar desta dor, nem de vocês, nem da vossa ausência. Não tenho essa permissão. Então ela enterra-se pelo meu estômago e vive ali a destruir as minhas entranhas. Às vezes bebo água, passeio pelos bosques, sinto o cheiro do mar e dor atenua-se. Mas depois toca a música e a minha agonia começa novamente.
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Friday, June 09, 2023
Friday, May 12, 2023
Monday, April 17, 2023
Saudades dos teus olhos verdes
Ao menos os teus olhos
permanecem verdes
todo o ano.
Jorge Sousa Braga
Friday, April 14, 2023
Não me consigo lembrar
A morte enche-nos a vida agora. Cheia de vazios, cheia de dúvidas sobre a última vez que vos vi. Cheia de angústias, por não ter havido mais uma vez - e havia tanto, mas tanto para dizer! A morte agora enche-nos a rua, abre-nos a porta, atende-nos o telefone. E enche-nos dum vazio que insufla. Estamos balofos de tanta morte. Cá dentro, tudo faz um eco incrível, não há respostas para nada. Tudo o que se ouve é a minha voz a perguntar ininterruptamente “quando foi a última vez que nos vimos?” E o vazio é exatamente esse fio de luz baço que se forma ao longo das palavras “não me consigo lembrar”.
Wednesday, April 05, 2023
Piloto Automático
Andava aqui pela vida em piloto automático desde que me deixaste. Deixaste-me sem a roupa que me tapa à noite e sem a poesia que me limpa os olhos. E assim continuei, sempre em frente, sem olhar para os lados e muito menos para trás. Todos os dias colhendo os trigos pela frente sem me permitir a pausar para olhar a flor amarela que nasceu fora de estação e se cruzou comigo. É que sabes, olhar a flor seria permitir-me a sentir a beleza. A sentir alguma coisa que fosse. O passado não volta e eu preciso de continuar a andar para que o passado seja longínquo o mais depressa possível. Mas hoje voltei a ouvir a minha música, e dei-me conta do que perco quando vivo em piloto automático. Com ela chorei e ri-me de felicidade, uma gratidão por ainda me conseguir sentir feliz e mais ainda por ser com esta minha música. É que afinal, não morri de todo. É que afinal ainda estou aqui, o espelho ainda me sorri. A música ainda me pode salvar e assim existe ainda a esperança de que eu seja quem costumava ser.
Sunday, April 02, 2023
Se Deus me visse agora
Talvez me limpasse as lágrimas
que caiem pela minha cara dura e rochosa.
Pernas dobradas, olhos esvaziados
A ver quem morria mais depressa.
afundado ele próprio nos seus demónios
Um de nós acabaria por meter a pistola na boca
E ter paz.
Miséria,
enquanto espero a minha vez de morrer.
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