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Sunday, December 28, 2008

Twilight quote

- And so the lion fell in love with the lamb.
- What a stupid lamb!
- What a sick, masochistic lion!

From Twilight movie

Monday, December 22, 2008

The Call of Ktulu

Não me deixes. A noite está tão escura.
Não me deixes. Não me deixes. Não me deixes. Não quero ficar com a noite escura. Amo-a de mais.
Não te vejo. Mas confio que aí estejas. É assim o nosso estranho amor, neste estranho lugar inóspito e agreste. Sinto a fúria do vento e o sal duma tempestade que já aconteceu há muito tempo. Hoje em dia o céu está sempre negro, mas nunca chove.
Não me deixes. É tudo tão instável.
Se me deixares a balança equilibra o coração e o amor arruma-se. E morre lentamente, abrindo os olhos para a vida. Não faças isso.
Não me deixes.
Mas talvez já não estejas aqui, como eu pensava. Talvez já não ouças. Talvez me tenhas deixado. Pode ser esta música o delírio vadio da minha consciência que não quer acordar. A noite é escura e eu estou sozinha.
Uma corda de perguntas enrola-se no pescoço. Não quero as respostas. Amasso-as com a mão de areia escura.
Deixaste-me.
Houve um tempo em que te pedi para não me deixares. Chamei-te. Seria eu? É que a noite escura sempre me abraçou. E não tenho a certeza que alguma vez te tenha visto.
Alice – The Call of Ktulu (Metallica)

Monday, December 15, 2008

Presépio - Braga

(Presépio iluminado - Braga 30 /11/08)

Sunday, December 07, 2008

Não é Amor

Esta semana fui ver Madagascar2. Qual não é o meu espanto, que no meio do enredo do filme, surge uma pequena história de amor entre a girafa hipocondríaca e a gorda hipopótama. Não é que esse facto, por isso só me choque. Sempre foi uma constante nos filmes de desenhos animados as histórias de amor e as suas morais interessantes, como a Pequena Sereia ou a Bela e o Monstro. No entanto, nos últimos tempos noto com desagrado que a moral que se passa às crianças é algo banal, para não dizer mesmo "lamechas".
Em Madagascar2 a girafa declara o seu amor, enumerando dramaticamente os gostos pessoais da Glória e em como ela era o seu objectivo de vida enquanto viveram no jardim zoológico. Mas pior do que isso, é ver que Glória, que nunca antes teve nada em comum com Melman, lhe retribui esse amor. Parece que tudo o que basta, é haver alguém que nos olhe, que nos adore, que nos siga nos nossos hábitos.
Fiquei também com essa sensação quando vi WallE. Surpreendeu-me pela negativa, uma vez que já Sheakspeare inventou uma história de amor tão profunda e original, ver um robôt desesperado por uma companhia, parece-me uma moral demasiado negativa a passar.
Quererão as pessoas apenas não ficar sós?
É porque é somente disso que se trata. Não há cumplicidade, nem química entre os bonecos. Não há identidade, nem a particularidade dum sentimento único que é estar apaixonado.
Tudo se baseia na vontade que os bonecos têm de dar a mão, de dar carinho, de adorar.
Mas isso não é amor.
Ou não deveria ser.

Wednesday, November 12, 2008

It's all tears

A paixão existe. Está aí, vermelha e negra. Á espera que a evites, que a negues. Á espera que dependas dela. Que queimes o coração que já não sentes.
O mundo já acabou há tanto tempo. Podes até já ter morrido. Encara isso como mais uma desgraça. A última quem sabe.
Vem ter comigo. Deixa-me matar-te. Abre as asas para um abismo que eu te prometo.
Não tens nada a perder. Por isso afoga-te neste amor. Talvez seja a última esperança. Porque toda a esperança morreu, e está comigo.
Alice - It's all tears (HIM)

Monday, November 10, 2008

Bye bye Home

É o adeus à minha casa.
Durante sete anos vivi no Técnico. Como estudante, como investigadora, como pessoa.
Foi o meu lar.
Mas o pássaro tem de voar.

E até continuou a estar perto. Mas não é o mesmo...
A semana passada, num almoço fortuito percebi que a vida seguiu em frente. Já não pertenço ali. Senti-me uma estranha na minha própria casa. Poucas coisas me doeram tanto ultimamente como essa breve consciência.

Essa época terminou. Terminou a semana passada, no último almoço na minha casa.

Wednesday, October 29, 2008

Mimo

Hoje acordei com esta profunda vontade. Apetecia-me ser um palhaço mimo. Ir pelas ruas, comunicar sem palavras.
Sempre me fascinou esta actividade. De tão ilusória. Acreditar tanto que as coisas estão ali, que afinal estão mesmo.
Sempre me fascinou. Hoje, acompanhou-me mais do que o normal.

Tuesday, October 28, 2008

Halloween

Que venha o Halloween. A noite das bruxas, do horror. A noite das coisas feias, dos tons desfasados. A música baixa, mórbida. Os mortos, os cemitérios. Os fantasmas.
Sempre gostei do Halloween... deste clima de filme de terror. Lembra-me o Tim Burton e todas coisas proibidas que dão sabor à vida. Passear num cemitério à noite, ou uma mansão abandonada com histórias lendárias de almas presas, loucas.
É todo um mundo paralelo que existe e que costuma criar desconforto. São as sombras que assustam à noite, as correntes de ar que acariciam a nuca. A sepultura húmida.
É todo um mundo que sempre me fascinou. Porque não existem tais coisas como bruxas, ou fantasmas. E os mortos são mortos.
Excepto na noite de Halloween, onde tudo é possível.

Sunday, October 05, 2008

Have you seen "Mamma mia" ?

"I had a dream..."

E assim no cinema a ideia formou-se no meu espírito. Ela já cá estava, cirandava pelo meu cérebro. Mas não tinha coragem de espreitar.
Mas por entre aquela paisagem da Grécia, finalmente expôs-se. Libertou-se.
O poder do cinema. Da música. E dos sonhos.

"Mamma mia, now I really know..."

Tuesday, September 30, 2008

Ajuda-me

Saberás levar-me daqui?
Por favor, ajuda-me. Preciso tanto de ser enganada. Preciso de errar, onde sei que devo exactamente errar. Preciso de abrir essa porta. Essa mesmo que dizes para não abrir, por não ter a certeza. Mas eu já sei que a casa do espelho não está ali. Vejo tão bem...É esse o meu problema, vejo bem demais. E tu podes ajudar-me nisso. Engana-me , por favor. Tanto faz que eu saiba ou não. De qualquer forma, eu vou saber. Lembra-te que vejo bem. Bem demais, como numa maldição cedida por um super poder.
Vou colocar a cabeça a jeito, ingenuamente à frente do teu machado. Por favor, tem piedade de mim e avança. E não te sintas culpado. Infelizmente eu nunca seria uma verdadeira vítima. Não te esqueças que conheço o cheiro do machado. Posso evitá-lo. Vamos só fingir que eu não sou assim. E que tu continuas como és. E assim eu terei uma hipótese de ser enganada. E é só disso que preciso. Um motivo. Sem ele não posso justificar a minha fuga, o meu desespero. As portas que não existem.
“Mas tu não sabes...”. Sei. Ajuda-me e engana-me.

Alice-2007

Wednesday, September 17, 2008

Espera

Espera e volta a esperar.
A noite dura. Mas acaba por ser fugaz. A espera faz o tempo passar depressa.
De repente é amanhã. E aí o tempo alonga, estica e dobra-se sobre si mesmo. As árvores estão tortas, as portas são pequenas. A rua é suja.
O dia é lento, feio e sem ninguém.
E é aí que a espera custa. Arde nos olhos.
Nas pontas dos dedos.
E está em todo o lado, cresce de dentro. E é enorme.

Wednesday, September 03, 2008

Regresso

Um dia, podia até voltar. Quem sabe, daqui a muitos anos. Daqui a muitos minutos. Poderia até trazer-lhe um coração que lhe soava ao seu. Com o mesmo ritmo alucinante adormecido. A mesma pele lisa, pronta a estalar.
Talvez até já tivesse voltado ocasionalmente - ou voltasse todos os dias que é o mesmo que nunca regressar. Não sabia ao certo.
O coração estivera na rua, apanhara chuva. Não era o seu. O seu morrera entre as esperas quadradas. E agora o vazio era redondo, infinito.
Alice

Tuesday, August 26, 2008

Respeito

Faz pouco barulho.
Se queres falar, fala
mas não perturbes o
silêncio.

Acabaste?
Espero que sim.
Resta-me tão pouco. Não
roubes o que me resta.
Tenho de implorar-te?
Deixa-me só.
Apaga a luz.
Eu sei que te parece
tão pouco...
Eu sei que te parece
nada...

Mas é o pouco que
tenho....
Respeita o pouco que me
resta...

Alice - Agosto 2007

Sunday, August 24, 2008

Compreensão

Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
(...)

Lisbon Revisited(1926) - Álvaro de Campos

Thursday, August 21, 2008

Voar

Se há coisa que me eleva o espírito é o desporto. Hoje, um português ganhou a medalha de ouro olímpica na modalidade de atletismo que sempre foi a minha preferida: o triplo salto.
Lembro-me de ser pequena e acompanhar sempre as competições de triplo salto. Via os grande campões e equacionava as possibilidade de um dia ver um português saltar mais alto. Ouvir o hino para o mundo todo.
Afnal o homem pode de facto, voar.





Wednesday, August 20, 2008

Inútil

Ás vezes não posso evitar pensar no tempo que já foi perdido. Gasto inutilmente. Em festas, em aulas, nas pedras do chão. No sol que nunca se põe.
Seriam alegres esses tempos, como a volupia da superfície dum lago.
Mas nunca passaram de tempos de demanda. De busca desvairada.
E eis que surges agora, finalmente. O fio condutor, o objectivo que sabia ser o meu. Tenho vontade de abraçar-te, pedir-te desculpa por chegar tão tarde.
Posso talvez agora recuperar-te o tempo perdido ? Não. Esse que ficou para trás está definitivamente perdido.
Agora duplamente. Porque uma vez que te encontrei para sempre, ele tornou-se de pedra,definitivamente.
E foi inútil.

Music is your only friend

Saturday, August 09, 2008

Roteiros

As breves férias levaram-me numa viagem nostálgica ao Porto. Primeiro a ribeira fresca e a ponte férrea. Depois a praça da Liberdade, os Clérigos e Gaia. Continuou a preferir o rio e aquela paisagem rústica e triste. Descobri que tinha saudades de estar sentada naquele granito a olhar o rio tão perto e ver aquela ponte tão macia. Saudades que tinham ficados presas, à espera que chegasse.
Depois Espanha, Vigo. Uma cidade iluminada e alegre. Cores vivas, uma ria a perder de vista, o velho e o moderno que convivem.
Entre isso, atravessei a fronteira. A divisão feita pelo rio Minho, nas suas águas escuras. E passei ainda por Viana do Castelo e o rio Lima, Caminha e Barcelos.
Os roteiros de um viajante eterno.
Eternamente preso ao Tejo.

Friday, August 01, 2008

Nunca mais

Um fio de consciência atravessa a noite.
Acontece ocasionalmente, quando cheira a nevoeiro. Quando a alma está húmida.
Por entre os fios emaranhados de dias reais, surge uma consciência fixa. Um espelho de olhos grandes e permanentemente abertos.
Ele morreu.
Fecho os olhos. Ele morreu. Não fará mais músicas.
Nunca mais voltará a salvar-me a vida.


Alice

Saturday, July 19, 2008

Amor

É um amor intrinseco ás viagens, ao Mar... O Amor que nos mata, ou que nos morre nas mãos. É nosso. Vive-nos. Saibamos nós viver com ele.

Quando eu morrer - pediu Hans - mandem construir um navio um cima da minha sepultura.
- Um navio? - murmurou o filho mais velho. - Um navio como?
- Naufragado - disse Hans.
E até morrer não falou mais.
(...)
A sua enorme sombra inquieta quem passe sozinho na avenida dos plátanos e muitos perguntam porquê tão estranha sepultura. Porém é nesse navio que, nas noites de temporal, Hans sai a bairra e navega para o Norte, para Vig, a ilha.

A saga - Histórias da terra e do mar-Sophia de Mello Breyner Andersen

Sunday, July 06, 2008

The severed garden

Retira o bolor das minhas costas. As flores sabem que estou só, deixaram de ter pena de mim há muito tempo. Elas sabem que estou deste lado do espelho, numa prisão que me inventaram. Estou tão longe.
Leva-me para longe.
Aqui estou perto demais. Aqui morro todos os dias.
Prefiro as flores que sabem. Prefiro morrer num jardim de indiferença. Os sonhos não compreendem a liquidez do espelho.
As flores sabem que estou só. Ouve-las? Não. Em silêncio, já não têm pena de mim.
Alice - “The Severed Garden- The doors”

Friday, July 04, 2008

Évora

Há algo de estranho no Alentejo. Voltei hoje de Évora e respirei aquele ar pesado de veneno existencialista. Talvez devido ao calor e ao isolamento. Talvez devido à falta de água no horizonte. Talvez.
Mas é inexplicavelmente belo com as suas paisagens amarelas e azuis, os seus verdes secos. É nessa beleza que nos cativa e nos prende e que depois surge a corda e a sua perfeição do pescoço. É dessa beleza isolada que surge a mão negra que se pousa no coração e o aperta. Ali há tempo. Há tudo e não há nada.
Há algo de angustiante no Alentejo. É muito mais do que nostalgia. É uma consciência estática que nos foca os olhos numa frequência fatal entre um conhecimento lógico e absolutamente louco.

Sunday, June 29, 2008

Memória

Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andreson
( 4 anos após a sua morte, a 2 Julho)

Tuesday, June 24, 2008

As 10 razões da minha permanência

1. Ver o sol debaixo de água
2. Sentir o vento na cara enquanto o barco corta as ondas
3. Ouvir a música de notas perfeitas
4. Sentir a corda do baixo nos dedos e ouvir o som vibrar no coração
5. Abrir os braços e deixar o vento bater nas costas num passeio de bicicleta
6. A adrenalina de estar só num sítio que não conheço
7. O som do mar
8. O cheiro da roupa lavada à janela
9. Entrar num avião
10. A sensação de abismo da montanha russa

Friday, June 13, 2008

Orion

É vergonha que sentes. É como se tivesses publicado o teu coração. Venderam-se as pétalas da tua pele, e agora alguém sente com os teus sentidos.
É noite. Não há por onde fugir. Quanto maior é o mundo, mais estrelas te observam. Admite que perdeste o controlo, desta vez não sabes o que fazer. Refugias-te nesse sorriso entrecortado que te matará. Deglutes o veneno devagar, na esperança que a tua rudeza o mate também. Mas as estrelas não o vêem, portanto ele não tem necessidade de morrer.
(Uma tristeza consome o teu orgulho. As tuas rosas já não choram. Até isso te roubaram.
Revoltaste, choras sem lágrimas tuas pelas lágrimas. E uma solidão imensa cresce como um balão no pequeno espaço do teu amor.)
As estrelas vêem. Continuamente. Ainda assim guardas a tua tristeza no bolso do casaco. As aparências também enchem espaços. Também regam rosas.
Só não cegam as estrelas.
Alice

Wednesday, June 11, 2008

Porque o meu coração está em Lisboa

"Sometimes I feel like my only friend
Is the city I live in,
the city of angelsLonely as I am,
together we cry"

Under the Bridge - Red Hot

Thursday, June 05, 2008

Dia Mundial do Ambiente

Melhora o teu ambiente. Ouve música!

Monday, June 02, 2008

Dia da Criança

"As pessoas grandes nunca percebem nada sozinhas e uma criança acaba por se cansar de ter que estar sempre a explicar-lhes tudo"

O principezinho - Antoine de Saint-Exupéry

Saturday, May 31, 2008

Music is your only friend

Ontem sem querer, acabou por vir ao meu encontro o vídeo perfeito para a minha noite. Talvez demasiado perfeito para uma simples coincidência.

http://www.youtube.com/watch?v=5Rzx4-So7X8

Um dia, um fantasma salvou-me a vida.
Music is your only friend.

Thursday, May 29, 2008

Wednesday, May 28, 2008

Rep Checa -parte II

Sem nada que o fizesse prever quando acordei, hoje senti saudades da minha viagem à Rep Checa. ( Ou melhor saudades explícitas, pensadas. Saudades tenho todos os dias...)
Um passeio fortuíto na hora de almoço e eis que, sozinha me encontro a comer uma sandes. Não que o local fosse parecido, mas o cheiro que me cercou era o mesmo. O cheiro que guardo de Praga, do quarteirão deslocado do centro onde ficava o meu hotel era assim: exótico e diferente. E foi como se por momentos estivesse lá de novo.

Frase do dia

"Quem sobe arrastando-se perde, na indecência do gesto, o direito às alturas."

William Shakespeare

Tuesday, May 27, 2008

La vie en rose

Ontem acabei de ver o filme sobre a vida de Edith Piaf. O que fica, para além da voz, é aquela sensação de inveja misturada com pena.
Tive claramente a noção que a interpretação dela provinha das profundezas da sua vida sofrida. E que apesar de ser agarrada ao espírito de viver, a tristeza habitava os seus olhos azul-violeta.
É como se não pudesse ter as duas coisas.E de facto não se pode ter as duas coisas. Há sentimentos que de tão profundos, não podem ser imaginados.
Acabo por venerar a artista, a voz que ouço tantas vezes. Mas lamento a mulher, a pessoa simples que existiu por detrás da arte.

Sunday, May 25, 2008

Flying in a blue dream

Ela era assim. Ele era assim. O Mundo é assim a não ser que nos dobremos sobre ele.
Era uma inconstância contínua de incerteza. Uma extensão de mar de coisas que ficaram sistematicamente por dizer. E cada vez que mais uma se acumulava, era uma perfeição de desencontros. Essas indecisões salgadas tornavam o mar delgado, apetecível.
Ela também era assim. Viam o mar da mesma forma, na mesma frequência. Até mesmo quando era noite, ou o Mundo tinha uma cortina espessa à volta. Viam com os mesmos olhos fechados.
Esta era a visão dele. A sua incerteza estreita. De olhos fechados há o Mundo inteiro ou então o vácuo do Nada. Ela podia estar em qualquer dos dois.
Ele também.
Apenas havia entre eles aquele mar de inconstâncias azuis.
Algures entre essas incertezas infinitas, existia um sonho azul. E nesse sonho as incertezas tornavam-se paralelamente certas, sem o continuarem a ser.
Ele só não sabia voar nesse sonho. Nem ela.
Alice

Monday, May 19, 2008

Fluorescent Adolescent

Chega a casa com o cheiro do mar na pele. O sal nos cabelos e o olhar quente e claro, dorido da luz. A casa está vazia e fresca, no chão de madeira propaga-se o som dos pés e da areia. "Fluorescent Adolescent" corta o silêncio em mil espelhos e surge uma adrenalina de Verão. Atira as roupas pelo chão, o banho frio estimula aquela sensação de montanha russa. Escolhe uma roupa qualquer, um sítio qualquer, um fim de noite qualquer - a liberdade destila-se dos poros.
O cabelo molhado acompanha a música frenética e nostálgica. Há um sabor intenso no corpo todo: a vida.

Wednesday, May 07, 2008

Poema do dia

Memória

Há uma ilha deserta
coberta de espuma
Onde os segredos são
conchas.
E a verdade desabrocha
na areia.

Nessa ilha onde tu morreste.
O vento canta de noite
numa melodia de búzios
E perpetua nas rochas
Uma memória gravada
De quem foste.

Alice - 03/05/08

Monday, April 21, 2008

Ás vezes

Ás vezes. O pássaro voa preso ao vento. Do mar recebe a luz do fundo, do verde escuro. O vento gira e canta. As nuvens prendem-se no céu. O magnetismo suspende-as no cenário do pássaro que se mantém num equilíbrio vitalício. As cordas de som vibram no horizonte cinzento de continuidade. Ás vezes.
Ás vezes.
O pássaro é feliz. Porque a felicidade é o verde e o cinzento. É a maresia do vento e a continuidade do equilíbrio. A liberdade da vibração do vento.
Ás vezes será infeliz, quando tudo isto lhe falta.
Ás vezes.
Ás vezes gostava de arrancar o meu coração, e amarrá-lo ao pássaro. Confiar nele a eternidade duma busca louca. E lógica.
Porque o meu coração nasceu sem asas. E ás vezes eu sou o pássaro morto que voa sob mar de terra.
Alice

Thursday, April 03, 2008

Rep Checa - parte 1

E assim cheguei a Praga. Depois do aguaceiro que observei do aeroporto de Munique, onde o céu se abriu do azul fundo para a neve cerrada; o avião insconstante que levou os passageiros aos gritos da Alemanha a Praga, e finalmente a minha chegada de autocarro à praça Dejvicka onde, nesse fim de tarde a neve me começou a cobrir os ombros e a liberdade extrema me encheu por completo. Estava perfeitamente só.
Poucas coisas se assemelham a esta sensação. É como ver um quadro que se gosta, emocionar com um filme que nos toca. Aqueles fins de tarde quentes virados para o horizonte.
É uma alegria que se sente internamente, bem no fundo do coração. É sonhar e acordar, e continuar a sonhar...
Para mim foi assim: vestir a liberdade da cabeça aos pés. O meu fato de sempre e para sempre.

Tuesday, April 01, 2008

O outro lado


A campanha de barco levou-me pelo Tejo, ao outro lado. Não da margem do Rio. Mas do outro Mundo. Um dos muitos.

Thursday, February 28, 2008

Poema do Dia

A troca

Criam-se poços sem fundo
de palavras.
E a normalidade sua
as mãos, como um terror
nocturno de apego,
onde o mel se torna demasiado
doce.
E a troca irreversível surge com
aquela onda.
Onde ficam os olhos e o medo.
A alma.
Presos, na frequência baixa de
maresia.

Alice

Thursday, February 21, 2008

Espaço-Tempo

Ás vezes , especialmente à noite, gosto de pensar nas linhas de espaço-tempo de Einstein. Cada momento é unico num lugar do espaço ( em cada uma das 3 dimensões espaciais) e num tempo. Esse momneto representa uma intersecção destas linhas que povoam o nosso Universo. Na minha janela, à noite, é como se visse esta rede a quatro dimensões estendida, como um tapete sobre o qual eu caminho. ( Em cada momento que passa, há uma intersecção, e outra, e outra...) E tudo é relativo. Menos a velocidade da luz. ( A luz do meu quarto é de facto absoluta. A que anda no universo não sei...) É demasiado dificil perceber. Mas tudo faz sentido, quando nada do que se conhece se conhece verdadeiramente. Da mesma forma como a Alice faz sentido, no desenrolar de uma história onde se demostra que nada tem sentido.
A minha viagem ( que começa e acaba na janela) termina nos buracos negros. Esses seres gulosos que de tanto sorverem massa, conseguem atrair para si corpos à velocidade da luz. Se se entrar num buraco negro, nunca mais se sai... Nos buracos negros as linhas rompem-se e o tempo e o espaço trocam de papeis.
Não há nada mais vulneránel do que o nosso espaço e o nosso tempo...

Saturday, February 16, 2008

Dia dos namorados

Com um pouco de atraso, aqui fica a contribuição artística para este dia tão consumista.

O paraíso terrestre é uma flor verde.
As árvores abrem-se ao meio.
O que é sucessivo perde-se.
Se o tempo modifica os seres e os objecto
seu sinto a diferença e gasto-me.
O sol é um erro de gramática, a luz da madrugada
uma folha branca à transparência da lâmpada.
Soam então os barulhos. Soam
de dentro das caixas fechadas há mais tempo,
de dentro das chávenas de café.
É tarde e és tu.
acima de tudo,
entre a manhã e as árvores,
à luz dos olhos,
à luz só do límpido olhar.

Nuno Júdice in «Poesia Reunida 1967-2000», O Mecanismo Romântico da Fragmentação

Monday, February 11, 2008

Pensamento do dia

Há dois tipos de pessoas: as que embarcam na caravela. E as que se despedem no caís.

Saturday, February 09, 2008

Aniversário

Todos os anos, no meu aniversário revivo a Sophia. Em memória daquele dia longínquo em que apresentei o seu poema do mar à minha simples turma do secundário. Desse dia ficou a memória dum apego, duma compreensão que me acompanha. E que enalteço todos os anos.


Breve Encontro

Este é o amor das palavras demoradas
Moradas habitadas
Nelas mora
Em memória e demora
O nosso breve encontro com a vida


Sophia de Mello Breyner Andresen

Tuesday, February 05, 2008

Livro do Desassossego - parte II

"Será doçura? Ou simplesmente saudade derretida?
O vento é meu amigo e fala-me de ti. Não sei que pensar da saudade que sinto. É saudade. Tu não estás em todos os dias. E em todos os dias cria-se o hábito de tu não estares. E isso é a única diferença ao longo dos dias. "

Alice

Monday, February 04, 2008

Sunday, February 03, 2008

Belém revisited

Dia de folga. Dia de passeio. Inevitavelmente dirigi-me a Belém. Desta vez, para escapar à multidão de turistas que por ali vagueava, percorri debaixo de um vento estimulante o caminho entre o padrão dos descobrimentos e a torre de Belém. Desta vez, sentei-me antes aí, nessa pequena baia onde os barcos costumavam partir.
Sente-se o cheiro da areia grossa e das ondas. Das antigas caravelas. Ali tudo cheira a sonho, a determinação. E acoplado a isso uma tristeza doce de quem parte para não deixar partir o sonho. E que passa claramente despercebida aos portugueses...

Saturday, February 02, 2008

Fotografia

(Alice - Março de 2007)

Monday, January 21, 2008

Saudade

Hoje tive oficialmente saudades do mar.

Saudades daquele por-do-sol incandescente. Do brilho dos ultimos raios num curto corredor de mar. Da areia escura, o toque frio. Das ondas que rebentam continuamente na alma.
Saudades daquela calma, daquela solidão prometida que descansa. Como fechar os olhos e dormir um sono profundo. Ali ainda melhor: com o melhor dos sonhos.

Sunday, January 20, 2008

Livro do Desassossego - parte I

"O dia passa. O que é o tempo se não uma mistura entre o verde e o azul? Mas esqueci-me, tu não sabes as cores. Não fazem parte do teu universo. Nem é uma questão de ser preto e branco. Para ti não há cores, porque não reparas nelas. E para mim o tempo era assim, também não existia.
Mas agora há mais do que isso que tu não vês. Aparentemente o que ambos não vemos construiu uma ponte. A nossa distância.
E até me sinto confortável. A definição é confortável. O tempo passa, e com ele varrem-se as lágrimas e a secura das rosas. E com ele fica a saudade e os mitos. As raízes velhas em torno do coração. Mas tu não sabes nada sobre raízes. Também não as vês, e elas também não existem. E como já não há rosas nem lágrimas o mundo é perfeito como uma nuvem isolada por detrás de um sol aparentemente tímido. "
Alice

Thursday, January 10, 2008

Aparição do novo ano

O Minotauro

Assim o Minotauro longo tempo latente
De repente salta sobre a nossa vida
Com veemência vital de monstro insaciado.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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