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Tuesday, July 30, 2024

Para além do Pai Natal

Para além do Pai Natal,
há outra grande mentira:
ninguém gosta de nós como nós somos.
É só conversa bonita, de anúncio.
Fica bem nos editais, nos filmes românticos,
e na embalagem dos produtos.
A maior das propagandas para te fazer descansar à noite
e dormir o sono dos mentirosos.
(e nunca percebi porque é que os mentirosos
dormem tão bem)
É que ninguém gosta de assumir que não quer comer
o outro cru. Comê-lo sem aquecer primeiro, sem a delícia
de trincar a pele crocante.
Não te condeno por não queres foder uma salada.
E a verdade não doi.
Ninguém gosta de nós como nós somos,
Gostam pelo que acham que podemos ser.
É tudo uma questão de potencial, de quanto
prometemos.
Crescer é prometer, e comprar os presentes.
Depois dizemos que somos mesmo assim,
o produto original dentro da caixa.
E pelo menos, dormimos bem.

Monday, July 15, 2024

Dez segundos de beijo

Li agora mesmo um texto que
aconselhava casais a trabalhar na relação.
Porque o Amor custa a manter,
mas é bom chegar a casa.
Curiosa, espreitei.
A trabalhar estava eu acostumada. Não conhecia
eu outra coisa. Trabalhava no trabalho (e tive tantos!)
Trabalhava quando saía à noite, quando fazia um hobby,
até trabalhava quando ia à praia com amigos.
A vida é uma trabalheira. Mas é sempre porque as coisas
boas custam a manter.
O texto dizia: “todos os dias dizer amo-te, deitar ao mesmo tempo,
e beijar durante dez segundos”.
Porque o Amor, numa relação, desaparece como num truque de
magia. Pelas nossas mãos de luvas brancas a brincar às rotinas,
aos crescidos, à magia de viver para sempre com o outro.
A magia, pensava eu, era que o Amor era única coisa
que nunca dava trabalho.
Que infantilidade a minha.
Conclui que as pessoas adoram relações. Ou então adoram
trabalhar.

Thursday, July 11, 2024

Amor

Perguntam-me porque não escrevo sobre o Amor,
Mas não há nada para escrever.
 
O Amor é a vida toda completa.
Compatibilidade. Encaixe. Planos juntos.
A maravilha de descer o rio de mãos dadas ao mesmo ritmo.
A calma. A Natureza do corpo em equilíbrio.
Amor é a perfeição de descobrir o Mundo acompanhado.
 
É bonito. Mas não há nada para escrever sobre isto.
O Amor não inspira nada. E até este poema
                                                                                                     Foi um desperdício.