O fado da minha vida é uma valsa. Uma valsa que foi escrita para outros, que não para mim. Mas que eu danço, danço, danço. Com uma alegria tão grande e uma vontade de ver o bom tão grande que sou a mais ridícula de todas. Vezes houve em que achei que o fado mudava. Que não era a valsa que eu ouvia. E que antes, uma música nova em folha, brilhante como folhas em dias de aguaceiro, se fazia ouvir em todo o lado. A maior ilusão de toda a vida, é esta mania que temos de ver o bem. De pintar de azul por cima de tudo o que é vermelho. Não é. Não é. Nunca foi. Nunca será. Deixemos esta verdade entranhar, perfurar a nossa pele e entrar diretamente nas veias. Só aí, com a verdade a circular no sangue, saberemos. E aí, os holofotes abrem-se no seu esplendor branco. O branco tem nele tudo, todas as cores com que pintas a vida. E aí, o chão duro, de mármore polido e limpo abre-se como uma paisagem. Para eu dançar a valsa. De braços abertos, a valsa é o meu fado. E eu estou nua, ridícula. Todos se riem. E eu também me rio, porque sou ridícula. E danço, danço, de braços abertos. Nua. Todos se riem de mim, todos se riem de mim, eu também me rio de mim, porque sou ridícula… E choro, uma última vez.
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Tuesday, April 30, 2024
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