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Thursday, September 12, 2024

A livraria da minha cidade é pequena

A livraria da minha cidade é pequena, mas eu vou lá todos os dias. A estante dos livros de poesia é ainda mais pequena, quase mais pequena do que a tenho em casa. E eu já li os poemas do Fernando Pessoa, do Miguel Torga, do Eugénio de Andrade e da Sophia. O livro do Bukowski que tenho em casa, vou lendo todas as noites. Abro as folhas ao calhas e vejo os poemas que me escolheram. Não gosto de ler livros por ordem, nunca gostei também de ouvir álbuns pela ordem certa, prefiro a estrutura de não saber o que vem a seguir.
Todos os dias vou á livraria com a esperança de que algo novo apareça e me encante. Como o poeta que esperava pela fada Oriana para lhe encantar a noite. Assim sou eu, um poeta à espera de outros poetas que me lavem os vidros da frente da vida. Na maioria dos dias, volto de lá tão pequena como as estantes. Noutros, as mãos tremem-me quando lá entro. Herdei um sentido subtil da minha avó, para perceber as micro mudanças que as asas das borboletas começaram a milhares de quilómetros de distância. Nesses, os olhos comem ávidos as letras escritas por alguém que me salva o dia. A semana. Quem sabe até o mês. É o mesmo com as músicas. Não me deixam morrer. E não é porque me salvam da morte, é porque me fazem sentir viva.

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