A rua tem um cheiro a maças verdes, doiradas pelo sol. No chão de pedra brilhante, caiem compassadamente folhas das arvores plantadas ao logo do eixo no centro. Apesar de alinhadas, não são simétricas. Os ramos desordenados espraiam-se para os céus, e dão à rua um ar futurista, paradoxalmente acolhedor. As folhas que vão caiando formam uma cortina que impede o Sol de marcar o rosto. E é assim que fixo as imagens, processadas por um filtro. Sabem a mel, as imagens.
Os ramos batem com o vento. Não são simétricos. Mas o acaso trouxe-os às janelas. Cada uma tem uma árvore, como se isso fosse condição necessária, sem a qual não existiriam janelas. E o vento inconstante fica pouco tempo no mesmo lugar. Enrola-se nas árvores, ás vezes pesaroso por ir embora. Indecisões rápidas que estremecem nos vidros da minha janela. Por mais que pareça o contrario, a rua é fixa. E o vento escolhe, não tem outra opção.
Ao pé das árvores, perto da porta das casas, existem bancos velhos . O jardim, ao fundo da rua, tem um lago onde nadam peixes. Ás vezes vamos ver os peixes, vê-los contemplar o Mundo enorme que conhecem. Do jardim vê-se a rua toda. Vêem-se os recantos mais sombrios, vêm-se os ramos que se baixam para o centro, as casas de pedra. Imóveis. Vêem-se as cores. Do jardim vêem-se as árvores, que apesar de juntas, não são simétricas.
P.S: Este texto nasceu de mais um desafio. O meu Muito Obrigado ao Tiago.
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Friday, March 30, 2007
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1 comment:
Eu também fiz o meu, apenas n tive oportunidade de te mostrar, ihih.
Muito bonita essa rua, a tua rua. Agora vais definitivamente ter de me explicar a tua insistência na assimetria (ou pensas q n reparava? ;)). Mas isso fica para outras núpcias. E nunca vi uma rua com macieiras...já vi com laranjeiras e era bonita, aposto que com macieiras faça um efeito parecido.
Muito, respondeste ao meu desafio com um texto muito bonito...parece que tenho de fazer mais ;)
Beijinhos :)
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