Wonderland
We are all mad here
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Sunday, September 28, 2025
Friday, July 04, 2025
Futebol
Não sou escritora. Nem nunca serei.
Não manobro as palavras como os escritores,
Não as sei driblar como os putos driblam
a bola de futebol.
Eu chuto as palavras com força. Nunca me chega o golo,
eu quero é rebentar com as redes da baliza,
até que não haja nem jogo, nem jogadores, nem
palavras para serem dribladas.
Não manobro as palavras como os escritores,
Não as sei driblar como os putos driblam
a bola de futebol.
Eu chuto as palavras com força. Nunca me chega o golo,
eu quero é rebentar com as redes da baliza,
até que não haja nem jogo, nem jogadores, nem
palavras para serem dribladas.
Tuesday, September 17, 2024
I like the way you kiss me
Gosto da maneira como me beijas
Como se me quisesses engolir inteira,
Como se eu tivesse alguma coisa cá dentro
que tu precisas
E nem é que gostes muito de mim, mas estás
desesperado.
Perseguem-te essas vozes, as sereias do Ulisses,
a morte que te beija devagarinho.
E nem é que eu goste muito de ti, mas estou
desesperada.
Já não oiço vozes e eu sou o Ulisses, a morte
não me seduz.
Só tenho é medo de não ter nada cá dentro.
Como se me quisesses engolir inteira,
Como se eu tivesse alguma coisa cá dentro
que tu precisas
E nem é que gostes muito de mim, mas estás
desesperado.
Perseguem-te essas vozes, as sereias do Ulisses,
a morte que te beija devagarinho.
E nem é que eu goste muito de ti, mas estou
desesperada.
Já não oiço vozes e eu sou o Ulisses, a morte
não me seduz.
Só tenho é medo de não ter nada cá dentro.
Thursday, September 12, 2024
A livraria da minha cidade é pequena
A livraria da minha cidade é
pequena, mas eu vou lá todos os dias. A estante dos livros de poesia é ainda
mais pequena, quase mais pequena do que a tenho em casa. E eu já li os poemas
do Fernando Pessoa, do Miguel Torga, do Eugénio de Andrade e da Sophia. O livro
do Bukowski que tenho em casa, vou lendo todas as noites. Abro as folhas ao
calhas e vejo os poemas que me escolheram. Não gosto de ler livros por ordem,
nunca gostei também de ouvir álbuns pela ordem certa, prefiro a estrutura de não saber o que vem a seguir.
Todos os dias vou á livraria com a esperança de que algo novo apareça e me encante. Como o poeta que esperava pela fada Oriana para lhe encantar a noite. Assim sou eu, um poeta à espera de outros poetas que me lavem os vidros da frente da vida. Na maioria dos dias, volto de lá tão pequena como as estantes. Noutros, as mãos tremem-me quando lá entro. Herdei um sentido subtil da minha avó, para perceber as micro mudanças que as asas das borboletas começaram a milhares de quilómetros de distância. Nesses, os olhos comem ávidos as letras escritas por alguém que me salva o dia. A semana. Quem sabe até o mês. É o mesmo com as músicas. Não me deixam morrer. E não é porque me salvam da morte, é porque me fazem sentir viva.
Todos os dias vou á livraria com a esperança de que algo novo apareça e me encante. Como o poeta que esperava pela fada Oriana para lhe encantar a noite. Assim sou eu, um poeta à espera de outros poetas que me lavem os vidros da frente da vida. Na maioria dos dias, volto de lá tão pequena como as estantes. Noutros, as mãos tremem-me quando lá entro. Herdei um sentido subtil da minha avó, para perceber as micro mudanças que as asas das borboletas começaram a milhares de quilómetros de distância. Nesses, os olhos comem ávidos as letras escritas por alguém que me salva o dia. A semana. Quem sabe até o mês. É o mesmo com as músicas. Não me deixam morrer. E não é porque me salvam da morte, é porque me fazem sentir viva.
Tuesday, August 27, 2024
Estrela cadente
Gosto de ouvir os grilos à noite, no campo.
São como a música da noite,
o som a escorrer debaixo do céu de estrelas.
Como naquela noite em que me deitei na relva fresca,
conectada com a humidade da vida,
passou uma estrela cadente e eu senti os meus olhos
molhados.
É isso que eu quero, uma existência única.
Somos todos únicos, eu sei.
Mas eu quero essa consciência concreta, exímia.
Vivemos a espremer a vida, a coletá-la dos orvalhos
que vamos encontrando. As fodas, as montanhas-russas.
Aqueles momentos de desespero em que tudo nos foge.
Eu nem cheguei a pedir nenhum desejo.
O desejo era que me passasse uma estrela cadente.
São como a música da noite,
o som a escorrer debaixo do céu de estrelas.
Como naquela noite em que me deitei na relva fresca,
conectada com a humidade da vida,
passou uma estrela cadente e eu senti os meus olhos
molhados.
É isso que eu quero, uma existência única.
Somos todos únicos, eu sei.
Mas eu quero essa consciência concreta, exímia.
Vivemos a espremer a vida, a coletá-la dos orvalhos
que vamos encontrando. As fodas, as montanhas-russas.
Aqueles momentos de desespero em que tudo nos foge.
Eu nem cheguei a pedir nenhum desejo.
O desejo era que me passasse uma estrela cadente.
Sunday, August 25, 2024
Sim
Quero dizer-te que sim.
(Quero!)
Afundar-me numa cama de penas contigo.
Tocar com a ponta dos dedos na mais
volumosa das nuvens.
Fazermos amor na areia.
Beber os gritos da borboleta.
(Quero!)
Afundar-me numa cama de penas contigo.
Tocar com a ponta dos dedos na mais
volumosa das nuvens.
Fazermos amor na areia.
Beber os gritos da borboleta.
Ver-te gritar como uma borboleta
que só desabrocha nas nuvens que eu
toco.
Eu quero isso tudo.
Mas quero, acima de tudo.
Dizer-te que sim.
O não está-me cosido nos lábios.
E tapou-me a pele com uma gigantesca
tatuagem, que me faz mais disforme
que a cara mais feia de Paris.
E por isso eu não quero as borboletas,
Nem o teu corpo suado a esporrar-se.
Eu quero é ser o Sim.
que só desabrocha nas nuvens que eu
toco.
Eu quero isso tudo.
Mas quero, acima de tudo.
Dizer-te que sim.
O não está-me cosido nos lábios.
E tapou-me a pele com uma gigantesca
tatuagem, que me faz mais disforme
que a cara mais feia de Paris.
E por isso eu não quero as borboletas,
Nem o teu corpo suado a esporrar-se.
Eu quero é ser o Sim.
Monday, August 05, 2024
Porta
Entrei na sala com vergonha.
É que eu não tinha o coração estropiado
por nenhum desastre.
Ninguém tinha morrido, pelo menos
os caixões continuavam vazios. Eu olhava
para trás e não via o meu corpo mutilado
por ninguém, pelo menos não havia marcas de
dentes.
Eu só não conseguia dormir. E quando dormia,
acordavam-me os pesadelos.
Tantas e tantas perguntas e eu desacreditada,
nenhuma resposta a não ser a óbvia:
a vida são as pequenas coisas.
E eu era uma má aluna, que não decorava
a lição.
Nunca duvidei que era uma péssima aluna
disto que é viver.
Mas eu sabia que tinha sido a brisa do vento que me impediu
de saltar para a linha do comboio.
A minha estúpida forma de ver beleza em sacos de
plástico é que me levou viva àquela sala.
Um dia, cheguei mais cedo e bati à porta.
Lá dentro um rapaz sentava-se na cadeira virada
de costas para a porta. Aquela era a nossa cadeira.
Ela sentava-se na outra, a ouvi-lo.
Imediatamente percebi o meu problema.
É que eu sentava-me sempre na cadeira
de onde pudesse ver a porta.
É que eu não tinha o coração estropiado
por nenhum desastre.
Ninguém tinha morrido, pelo menos
os caixões continuavam vazios. Eu olhava
para trás e não via o meu corpo mutilado
por ninguém, pelo menos não havia marcas de
dentes.
Eu só não conseguia dormir. E quando dormia,
acordavam-me os pesadelos.
Tantas e tantas perguntas e eu desacreditada,
nenhuma resposta a não ser a óbvia:
a vida são as pequenas coisas.
E eu era uma má aluna, que não decorava
a lição.
Nunca duvidei que era uma péssima aluna
disto que é viver.
Mas eu sabia que tinha sido a brisa do vento que me impediu
de saltar para a linha do comboio.
A minha estúpida forma de ver beleza em sacos de
plástico é que me levou viva àquela sala.
Um dia, cheguei mais cedo e bati à porta.
Lá dentro um rapaz sentava-se na cadeira virada
de costas para a porta. Aquela era a nossa cadeira.
Ela sentava-se na outra, a ouvi-lo.
Imediatamente percebi o meu problema.
É que eu sentava-me sempre na cadeira
de onde pudesse ver a porta.
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