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Monday, May 30, 2005

Poemas

O sonho conquista-me.
Tal como tu, quando
te pressinto prisioneiro
da liberdade.

Abraço-me à tua simplicidade
E acabo por
descobrir as nuvens
baloiçando nos teus olhos,
e a fragrância das noites
quentes nos teus gestos.

Lúcia 28.05.05

Sunday, May 29, 2005

"Os Corvos"

Sábado à noite, sai de casa acompanhada dum vento gelado que me lembrou as noites de inverno mais crueis. No auditório dos recreios da Amadora assisti ao concerto dos Corvos, um grupo apenas instrumental que conta com violinos, viola de arco e violoncelo, para além de uma bateria. A música deles transmitiu de tudo um pouco e elevou-me para diversos estados de alma em pouco tempo. Apreciei muito o violoncelo, instrumento discreto mas dum som tão gutural que estremeceu a frequência da minha alma.
Prova de que realmente não é necessario falar para se transmitirem sentimentos: a música é a maior de todas as linguagens.

Friday, May 27, 2005

As poucas palavras

Foi um dia, e outro dia, e outro ainda.
Só isso: o céu azul, a sombra lisa,
o livro aberto.
E algumas palavras. Poucas,
ditas como por acaso.

Eram contudo palavras de amor.
Não propriamente ditas,
antes adivinhadas. Ou só pressentidas.
Como folhas verdes de passagem.
Um verde, digamos, brilhante,
de laranjeiras.

Foi como se de repente chovesse:
as folhas, quero dizer, as palavras
brilharam. Não que fossem ditas,
mas eram de amor, embora só adivinhadas.
Por isso brilhavam. Como folhas
molhadas.

Eugénio de Andrade

Saturday, May 21, 2005

Évora

Ontem voltei ao Alentejo, numa visita de estudo. De manha passei por Évora, e ao ver a cidade, veio-me à memória o clima da “Aparição” de Virgílio Ferreira. Todo aquele existencialismo combina com o calor do Alentejo e com a paisagem sempre tão monótona aos meus olhos. É como se as planícies tão vastas, nos impedissem de ver só o que queremos: a realidade é demasiado visível para ser ignorada.
Apesar de ter adorado o livro (e adorei porque me mostrou ideias e caminhos que desconhecia), o regresso a Évora nunca é feliz. A loucura de Sofia e Carolino vigia-me nas ruas. A compreensão de Alberto prende-me a respiração e impede-me de apreciar as pequenas paisagens belas. Tudo é exactamente o que é. Da primeira vez que visitei Évora também uma ténue tristeza existencialista me percorria, um “saber que as coisas são assim”. Tinha renunciado à vida utópica e só a consciência de mim mesma me interessava. Évora será sempre o palco da constatação dessa consciência. E estará sempre agarrada ao sentimento vazio e perturbante do conhecimento amplo sobre a vida e sobre nós. Muitas vezes matamos o Alberto que nos tenta falar a verdade, mas que nos retira o mel da nossa vida. Em Évora ele está sempre vivo.

Monday, May 16, 2005

Fim de tarde

Hoje, ao fim da tarde, apanhei o autocarro para chegar a casa. O céu estava particularmente bonito, apesar de ter chovido bastante antes. Talvez por isso o ar estivesse bem fresco… esfreguei os braços na busca de algum calor, mas em simultâneo gostei daquele vento, sempre tão fresco e liberto. O autocarro chegou na altura em que pus os phones e ouvia a voz do Jamie Cullum. Procurei lugar na janela e sentei-me a apreciar a paisagem. Esta é a hora do dia que mais gosto, e é sempre nesta altura que me sinto mais livre, mais sonhadora e de alguma forma mais confiante. As nuvens fazem desenhos estranhos, diferentes todos os dias, e a luz parece filtrada, mais fina e encantadora: o mundo transforma-se (e com ele, eu também). E penso que nem que seja para ver todos os dias o fim de tarde, vale a pena viver…

Sunday, May 15, 2005

O mistério da Lua

"A janela aberta de par em par. O soalho quieto esperando um passo. A noite serena e grave cobrindo tudo com a sua capa de escuridão e mistério. O ar pesado sustentando o silêncio que teima em se fazer ouvir.
Majestosamente o luar entra no quarto e banha tudo com o seu brilho mortiço que aviva a chama das recordações.
Deu dois passos e sentou-se na janela, mas o soalho não respondeu expectante. A Lua ergue-se com a pose de uma rainha que é admirada no cimo, por todos os seus súbditos. E ergue-se com a postura de quem sabe que o seu encanto nasce nos dias em que está escondida.
Olha a Lua e não pode deixar de admira-la lá no alto, vendo tudo, tão segura e determinada. Encanta-a aquela certeza que a mantém no mesmo sítio e que a faz aparecer e desaparecer sempre nos mesmos dias.
De repente baixa os olhos e sente as mãos frias coladas à parede. Será admiração ou simplesmente inveja? O estalido da madeira diz-lhe que a inveja é tão humana como a admiração.
E ao ver as árvores inundadas com aquela estranha luz sente-se regressada ao passado, como se o luar fosse a luz mágica que ilumina o palco onde desfilam as memórias. Talvez seja esse o mistério da lua: não permitir o esquecimento. E talvez seja por isso que se sente tão grata. Limita-se assim a fechar a janela devagar para não quebrar o silêncio, observador discreto e maravilhado."
Lúcia-2000

Thursday, May 12, 2005

There is no spoon

De novo, o Matrix na televisão. Como não consigo resistir, lá me estirei no sofá. O encanto deste filme ultrapassa a minha compreensão. Desde as referências à Alice, passando pela importância da mente, e talvez ainda mais pela profundidade de alguns pensamentos, que estimulam a minha reflexão. A diferença entre realidade e sonho, a questão sempre tão pertinente sobre " como sabemos o que é real?" Real é o que vemos?O que ouvimos? Sempre tive a sensação de que existe um ténue limite entre o sonho e o que chamamos de realidade e ás vezes é difícil definir em que mundo estou, como se fizesse sentido estar em qualquer dos dois. E sinto-me exactamente como o Neo: " uma pessoa que acredita nas coisas mais impossíveis porque de alguma forma espera vir a ser acordada".
A vida puramente física e objectiva perde a graça que só uma certa incerteza imaginativa pode trazer. E é esse o poder de there is no spoon.
Discordo de quem acha o filme superficial e apenas repleto de efeitos especiais. O poder da nossa mente, quer o nosso mundo seja o Matrix ou não, é sempre verdadeiro.

Monday, May 09, 2005

Weird

"Isn't it weird?Isn't it strange?
even though we're just two strangers on this runaway train
We're both trying to find a place in the sun
We've lived in the shadows, but doesn't everyone
Isn't it strange how we all feel a little bit weird sometimes?...

Isn't it hard? standing in the rain
You're on the verge of going crazy and your heart's in pain
No one can hear, but tou're screaming so loud
You feel all alone in a faceless crowd
Isn't it strange how we all feel a little bit weird sometimes...
(...) "

Friday, May 06, 2005

Pensamentos

Os úlimos dias, tal como previsto têm sido cansativos, agora que os trabalhos estão no auge e o tempo parece ser cada vez mais pequeno. O dia de de hoje estava particularemente bom, o que faz com que a ideia de trabalhar quase toda a tarde pareça absolutamente torturante. Por entre o sol que me vai queimando a pele, tenho milhões de pensamentos que fervilham... Mas quando chego a casa, parece que perco as ideias e que tudo o que planeei fazer me parece demasiado complicado: uma preguiça enorme abraça-me. Acabo por deitar-me, ouvir música ou ficar simplesmente à janela, a pensar de novo. E o tempo que já parece tão curto, vai ficando cada vez mais pequeno...

Monday, May 02, 2005

Pôr-do-Sol

Fiz este poema há algum tempo atrás, mas gosto de relê-lo porque de uma forma um bocado inesperada, a essência do que eu sentia ficou presa naqueles versos. Primitivo, mas verdadeiro.

Pôr-do-Sol

Quando o sol se põe no horizonte
e se afunda aos poucos no mar...
quem sente na vida saudade
baixinho, ouve o sol a chorar...

E o a cor que ele deixa no céu
e o som que ele faz ao chorar
é apenas o seu lamento
de não ver a Lua ficar...

Por isso o sol,
é meu confidente ao fim da tarde
e com ele afunda sempre
toda a minha saudade...

Lúcia-1999

Sunday, May 01, 2005

" e tudo o que sonhei, tu serás assim..."

Na noite de arraial do Técnico lá estivemos presentes, depois de termos feito mais um teste ( desta vez Hidrologia) umas horas antes. Curioso o facto de que, mesmo numa noite de festa, as pessoas têm dificuldade em esquecer a ciência de que é feito o nosso dia a dia. Sem querer a conversa adquire um teor químico ou físico e por vezes as piadas até são matemáticas. E isso parece já tão natural, que não surpreende existir um shot chamado análise IV! Ás vezes é assustador constatar que esta realidade objectiva se apoderou de nós, e que quem sabe, já nem damos conta de muitos dos nossos hábitos estranhos.
A noite não terminaria sem assistirmos ao concerto do Pedro Abrunhosa. E pelo menos ao som de " tudo o que eu sonhei, tu serás assim...", não existiu espaço para a objectividade das expressões matemáticas...

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