Ontem voltei ao Alentejo, numa visita de estudo. De manha passei por Évora, e ao ver a cidade, veio-me à memória o clima da “Aparição” de Virgílio Ferreira. Todo aquele existencialismo combina com o calor do Alentejo e com a paisagem sempre tão monótona aos meus olhos. É como se as planícies tão vastas, nos impedissem de ver só o que queremos: a realidade é demasiado visível para ser ignorada.
Apesar de ter adorado o livro (e adorei porque me mostrou ideias e caminhos que desconhecia), o regresso a Évora nunca é feliz. A loucura de Sofia e Carolino vigia-me nas ruas. A compreensão de Alberto prende-me a respiração e impede-me de apreciar as pequenas paisagens belas. Tudo é exactamente o que é. Da primeira vez que visitei Évora também uma ténue tristeza existencialista me percorria, um “saber que as coisas são assim”. Tinha renunciado à vida utópica e só a consciência de mim mesma me interessava. Évora será sempre o palco da constatação dessa consciência. E estará sempre agarrada ao sentimento vazio e perturbante do conhecimento amplo sobre a vida e sobre nós. Muitas vezes matamos o Alberto que nos tenta falar a verdade, mas que nos retira o mel da nossa vida. Em Évora ele está sempre vivo.
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Saturday, May 21, 2005
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1 comment:
Parece que vou ser a primeira a comentar este post...
Não o vou comentar pelo significado que ele tem para ti, mas sim pelos sentimentos que ele fez despertar em mim... A Aparição!Que saudades do tempo da Aparição...Ao ler o teu post fiquei com uma vontade enorme de voltar a Évora, de reler a Aparição e de fazer uma viagem ao passado... Bons velhos tempos!!!
Beijo Grande
Sara
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