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Thursday, March 26, 2009

The Big Fish

“First he came earlier. Then he was too late”

The Big Fish é um filme fantástico que poderia apenas ter aparecido da mente diferente de Tim Burton.
Se tinha dúvidas, ontem ao rever o filme que estava a passar na televisão, apercebi-me que a metáfora é de facto a minha figura de estilo preferida. E aquele filme é, todo ele uma enorme metáfora onde se contam pequenas outras metáforas.
Gosto da ideia da imortalidade de uma alma que viveu verdadeiramente através de uma história que nunca existiu. Mas que ao ser tão autêntica permaneceu, ocupando o lugar de vácuo que a objectividade de uma verdade nunca terá criatividade suficiente para descobrir.
Mas acabado o filme, a minha mente fixa-se naquela frase. Uma metáfora pequena, quase inofensiva. E que fere devagar, com uma crueldade aparente de compaixão de quem fere devagar para que doa menos.
Não há nada pior do que resumir a vida a um erro dessincronizado do tempo. Duas vezes.

Wednesday, March 25, 2009

O Mito do 5º Império

O Mito do 5º Império
Não vale a pena renegar em mim esta mania louca de ver a tua sombra sobressair do nevoeiro espesso que cobre o azul da minha vida.
Jamais me habituarei a este nevoeiro. Porque tenho em mim a esperança portuguesa do regresso (ou da utopia). E essa nostalgia que medra na terra da minha alma torna o nevoeiro agreste e impede o nascimento de outras flores.
Outrora belos, os barcos partem do Tejo e conquistam o Mundo. Eu também já fui assim. Mas não quero esses barcos trôpegos que agora vagueiam por Lisboa. São demasiado sofridos. Habituaram-se ao nevoeiro e agora a única diferença é que se esqueceram que sofrem.
Eu prefiro este sofrimento constante de nunca te ver chegar. Esta nostalgia entranhada na humidade da sombra branca. Não me resigno.
Porque quero os meus barcos, os que conduzirás quando chegares. Porque o Tejo é azul. E só sem nevoeiro conseguirei navegar.
Alice

Thursday, March 19, 2009

Amor

É Natal.
Apetece-me enterrar em música. A música compreende-me e preenche pequenos vácuos que se vão instalando ao longo de estactides de dias. Por vezes a gruta está fria de mais, até para o meu espírito congelado numa noite negra, demasiado bonita.
É Natal. E o Natal é negro.
É brilhante e sedutor numa longa fileira de raiva muda que vê no cemitério o seu espelho. E a música está lá, ensurdecedora. É essa mesma a sua missão. Calar este Mundo branco ( sujo). E permitir que viva em paz, com a certeza que não haverá traições ou abandonos. Com a certeza que mesmo na mudança ínfima mais branca do meu coração negro, ela vai lá estar. Comigo.
E que só me deixará quando eu morrer.
Alice - Dezembro 2008

Tuesday, March 10, 2009

Ainda bem

Ia eu, na minha vida pós laboral de fim de tarde ao Vasco da Gama, quando decidi ignorar a minha necessidade de comprar e o meu propósito em ir à Expo para aproveitar o facto de a noite ter acabado de chegar ao Rio.
Quando abri a porta do Vasco, a "alameda" de árvores longas, junto à fileira de bandeiras olhou para mim, com uma lua cheia recortada num azul pastel fundo.
Foi talvez das melhores paisagens que já ali vi.
Decidi-me a ir até ao Rio. A rua das árvores esguias e amarelas-doiradas existia num plano superior aos meus olhos. Entre elas só a luz da lua e o azul profundo dum fim de tarde que ainda não é noite, mas já não é dia. E por isso existe numa realidade paralela. Maravilhosa.
Algo naquela paisagem azul e bucólica despertou um vento sonhador em mim. E todos os sonhos esquecidos ou enterrados voltaram.
E os meus sonhos são azuis e fundos.
E ainda bem que deixei o Vasco para trás.

Sunday, March 08, 2009

Into the wild

Ontem finalmente vi o tão prometido filme "Into the wild".

No início senti uma enorme vontade de seguir o mesmo rumo que a personagem. Senti, de uma forma quase abismal e impossível, que a pessoa que realizou aquele filme me conhecia, ou pior... conhecia os meus pensamentos, os meus desejos, os meus sonhos...

Segui o filme com uma atenção diferente, de uma forma como faço muitas vezes em livro: vivi "com ele, sendo ele" nas viagens que fez, no propósito que tinha. Embrenhei-me de tal forma que partilhei a mesma felicidade que ele, revi-me nas mesmas frases e nas mesmas decisões. E a meio do filme desejei ser ele. Ter a coragem dele.
Mas sofri também com ele. Pelo desespero momentâneo, pelos momentos que desejavamos apagar mas que não podemos. E antecipei da mesma forma que ele, que aquela breve história de felicidade não ia acabar bem.

Nos breves momentos do fim do filme, senti um enorme aperto no estômago. Um egoismo de quem se está a ver num caminho de vida que seria perfeitamente possível. Senti pena dele, como sinto de mim. Senti um desespero por ele como sinto por mim.

Antes de morrer, ele era exactamente como eu. Mas antes de morrer, ele percebeu algo que eu tal como ele, nunca tinha percebido.

E assim assisti em directo à minha morte solitária. Adorei o filme, mas nunca mais o quero ver.

Sunday, March 01, 2009

Representações

No sábado, estive uma vez mais no Saldanha Residence a seguir o clássico de futebol Porto x Sporting.
Desta vez, o piano estava calado e não havia a companhia do contra-baixo, que a semana passada me deliciou enquanto por lá lá estive.
Ansiosa e divertida a ver o jogo de futebol ( como sempre) não pude deixar de reparar no casal de namorados que estava ao meu lado. Ele, com um ar simples e desligado observava calado a televisão. Ela mantinha-se à sua frente a ler a "Happy" debaixo de uma camisola cor-de-rosa e de umas unhas vermelhas. Algo, neste constraste me chamou a atenção. Por vezes a rapariga esticava a mão, e sem olhar para o jogo tentava chamar a atenção do rapaz, mante-lo de mão dada. Ele, por sua vez parecia ter vergonha deste acto ( ou da própria rapariga) e tentava ignorá-la, olhando desesperadamente para um jogo que de facto, não estava seguir.
Este casal simboliza o passado histórico destes dois sexos. O homem que é obrigado a ser rude e a seguir o jogo de futebol. E a mulher que se ocupa de futilidades e cujo objectivo é prender a atenção do homem.
E assim se criam mundos sucessivos de ligações inócuas. Relações que nunca chegam a ser verdadeiramente estabelecidas. São pequenos passos de uma representação, como tantas que se fazem na vida.

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