Recuso quase tudo o que me dão: comprimidos, conselhos ou
maneiras de ver a vida. Não suporto esta maneira bem educada de saber o que se
quer para a vida dos outros. Estou bem sozinha, muito obrigada. Quer dizer, ás
vezes não estou. Ás vezes, até me apetecia estar com alguém, amar um coração
perdido, cozer uma amizade em lume muito brando. Mas não sendo possível – e não
o é a maior parte do tempo –fico-me pelo que tenho. É como ver um copo meio
cheio que na verdade está mesmo quase vazio. Claro que posso sempre fugir para
o campo e deitar-me no fresco chão dos campos de trigo a ouvir o vento embalar
as espigas. Mas acabo sempre por guardar esse momento na mais pequena matrioska
do meu coração. Ainda não é altura – um dia será. A vida é demasiado fodida
para que eu ceda já. Quer dizer, tem de haver algo melhor do que isto, não se
pode acabar simplesmente assim. Já se sofre tanto nesta puta de vida sem propósito
nenhum, que resistir é a única careta que se pode fazer à morte. E enquanto resistes, bebe as gotas que
sobrarem dos copos esvaziados. Guarda, como diz a Sophia, as “coisas que sabes
amar junto ao peito” e deixa que elas te preencham sempre que puderem. Já
bastam as saudades, os mortos e os vivos que enterraste, as decisões que te
estriparam. Já basta quando tens de assinar um papel a aceitar que a morte é a
única solução. No resto do tempo deixa-me
me paz! Não faças da minha vida tua vida. Não faças dos meus pés o teu caminho.
A vida é demasiado curta e cheia de tortuosidades para perdermos tempo com
aquilo que não nos é verdadeiro. Mas é mesmo.