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Friday, October 08, 2010

Futuro

Hoje estou farta do passado. Dos vasos cheios de tristeza que coleccionam belos poemas. Estou de farta de romantismos feudais, das folhagens de Sintra. De céus cinzentos e ácidos. De cidades barrocas e góticas. Estou farta da tristeza que nem sabe ser mórbida.

Hoje, para variar apetece-me o futuro. Os prédios enormes e listados de vidros, as ruas amplas e sem pessoas, os objectos geométricos. O sol.

Hoje apetece-me escrever sobre tudo o que ainda não aconteceu. Sobre o romantismo do jazz seco, sobre a decoração vanguardista. As roupas extravagantes e direitas.

Porque é ai que está a vida, é aí que estão todos os poemas necessários à minha sobrevivência. No futuro está a minha solidão inatingível, aquela que precisa de mim.

O passado é só uma folha borrada, que fingimos querer esquecer, para lhe espremer poemas como abutres. E o presente é uma espera dolorosa até que se cristalizem as palavras.


 
Mas não hoje.
Hoje o passado é mesmo passado e não se escreve sobre ele, porque não importa.

1 comment:

WinGs said...

Ás vezes "o passado é inutil como um trapo" porque "eu sou o que perdi" mas , em contraste, tambem "sou da altura do que vejo".

muito bom tema =)

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