Hoje estou farta do passado. Dos vasos cheios de tristeza que coleccionam belos poemas. Estou de farta de romantismos feudais, das folhagens de Sintra. De céus cinzentos e ácidos. De cidades barrocas e góticas. Estou farta da tristeza que nem sabe ser mórbida.
Hoje, para variar apetece-me o futuro. Os prédios enormes e listados de vidros, as ruas amplas e sem pessoas, os objectos geométricos. O sol.
Hoje apetece-me escrever sobre tudo o que ainda não aconteceu. Sobre o romantismo do jazz seco, sobre a decoração vanguardista. As roupas extravagantes e direitas.
Porque é ai que está a vida, é aí que estão todos os poemas necessários à minha sobrevivência. No futuro está a minha solidão inatingível, aquela que precisa de mim.
O passado é só uma folha borrada, que fingimos querer esquecer, para lhe espremer poemas como abutres. E o presente é uma espera dolorosa até que se cristalizem as palavras.
Mas não hoje.
Hoje o passado é mesmo passado e não se escreve sobre ele, porque não importa.
1 comment:
Ás vezes "o passado é inutil como um trapo" porque "eu sou o que perdi" mas , em contraste, tambem "sou da altura do que vejo".
muito bom tema =)
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