"O peixe encheu-me de vaidade com os seus elogios. Olhei tanto para mim que me esqueci de tudo. Dá-me outras vez as minhas asas. Eu quero voltar a ser como dantes. "
A fada Oriana - Sophia de Mello Breyner Andresen
Quando era mais nova e lia esta história condenava Oriana por se ter afastado dos que precisavam dela. Achava quase ridículo ela ter-se envaidecido com os elogios de um peixe que a fizera ver-se no espelho da água do rio. Era tão pouco o que o peixe lhe dava. Era tanto o que ela tinha.
Mas hoje, compreendo a moral da história como se a lesse pela primeira vez. É como se pudessemos experimentar a posição de Oriana de vez em quando. E então, deixamos o lenhador e o moleiro porque nos descobrimos, porque vemos que para além deles também existimos, também temos uma imagem que se reflecte no rio. E é uma descoberta incrivel. Depois deixamos o Poeta que costumamos encantar, porque descobrimos um encanto maior, porque sabemos agora que a vida está para além da nossa floresta e que não podemos encantar quando não estamos encantados. E por ultimo deixamos a Velha que depende de nós, porque nos habituamos aos elogios de um peixe maldoso, mas que ao reparar em nós nos mostra um Mundo desconhecido: nós próprios. E é quando deixamos a Velha que depende de nós , que essa descoberta se torna em vaidade, num narcisismo extremo que nos encandeia quando olhamos o rio. Oriana foi castigada e nos sê-lo-emos ao agir assim.
A diferença é que hoje compreendo-a.
Translate
Saturday, November 11, 2006
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
Popular Posts
-
"O baixo não se ouve, sente-se". Esta frase foi dita e ao pensar sobre ela, conclui que era verdade. O baixo é um instrumento de f...
-
Páginas breves que o tempo escreve. E o orvalho cai no pasto como essa consciência na minha noite estrelada. E ele não está comigo. E isso é...
-
E assim a Cinderela chegou ao seu concerto, numa mota espectacular e com a sua roupa e botas preferidas. Quando estacionou a mota, ouvia os ...
-
Estou cansada. Perco-me todos os dias em sonhos inúteis. Fósforos que acendo para suportar o frio que me deixaste. Canso-me ao acordar todos...
-
No caminho que fez a pé, passou pelo cemitério. E decidiu entrar. Ali encontrou solidão e um pouco de silêncio que tanto precisava. Caminhou...
-
Não devia. E provavelmente terá um curto espaço de vida até amanhã. Existirá depois talvez, mas já num Universo paralelo desviado. Agora, ne...
-
Serei sempre o leão. Não posso fugir a esse desígnio. Não são as estrelas que o determinam. Mas a minha sede de caçador. A minha eterna frie...
-
O Beijo. Acordou silenciosamente, tremendo. Era tão reprimido quanto isso. O soalho de madeira estava impecavelmente liso, espalmado pelo lu...
-
Em dias como o de hoje quando fecho os olhos é a tua figura que vejo. Estás na praia, aquela praia enorme e pura, cheia de amarelo e de um...
3 comments:
humm... k livro é tou interessada em ler :P gostei do post!" ehehh
Emmah
bjocas
:) A fada Oriana de Sophia de Mello breyner Andresen
É um conto que ela escreveu para criança, um dos que mais gosto. Posso emprestar-te claro :)
Beijinho e muito obrigado plo coment!!
E é quando temos a coragem de olhar pela janela que nos apercebemos da rua, do que está lá fora, e do quanto queremos estar lá fora.
E num acto supremo de egoísmo, mas de vaidade e amor próprio, abrimos a porta, saímos para a rua, e aí sim, finalmente, percebemos a que cheira o ar da rua :)
Beijão, como sempre,
Tiago :)
Post a Comment