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Saturday, November 11, 2006

Vaidade

"O peixe encheu-me de vaidade com os seus elogios. Olhei tanto para mim que me esqueci de tudo. Dá-me outras vez as minhas asas. Eu quero voltar a ser como dantes. "

A fada Oriana - Sophia de Mello Breyner Andresen

Quando era mais nova e lia esta história condenava Oriana por se ter afastado dos que precisavam dela. Achava quase ridículo ela ter-se envaidecido com os elogios de um peixe que a fizera ver-se no espelho da água do rio. Era tão pouco o que o peixe lhe dava. Era tanto o que ela tinha.
Mas hoje, compreendo a moral da história como se a lesse pela primeira vez. É como se pudessemos experimentar a posição de Oriana de vez em quando. E então, deixamos o lenhador e o moleiro porque nos descobrimos, porque vemos que para além deles também existimos, também temos uma imagem que se reflecte no rio. E é uma descoberta incrivel. Depois deixamos o Poeta que costumamos encantar, porque descobrimos um encanto maior, porque sabemos agora que a vida está para além da nossa floresta e que não podemos encantar quando não estamos encantados. E por ultimo deixamos a Velha que depende de nós, porque nos habituamos aos elogios de um peixe maldoso, mas que ao reparar em nós nos mostra um Mundo desconhecido: nós próprios. E é quando deixamos a Velha que depende de nós , que essa descoberta se torna em vaidade, num narcisismo extremo que nos encandeia quando olhamos o rio. Oriana foi castigada e nos sê-lo-emos ao agir assim.
A diferença é que hoje compreendo-a.

3 comments:

Anonymous said...

humm... k livro é tou interessada em ler :P gostei do post!" ehehh

Emmah
bjocas

Alice in Wonderland said...

:) A fada Oriana de Sophia de Mello breyner Andresen

É um conto que ela escreveu para criança, um dos que mais gosto. Posso emprestar-te claro :)

Beijinho e muito obrigado plo coment!!

Tiago said...

E é quando temos a coragem de olhar pela janela que nos apercebemos da rua, do que está lá fora, e do quanto queremos estar lá fora.

E num acto supremo de egoísmo, mas de vaidade e amor próprio, abrimos a porta, saímos para a rua, e aí sim, finalmente, percebemos a que cheira o ar da rua :)

Beijão, como sempre,
Tiago :)

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