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Monday, January 11, 2010

Resignar é morrer

Fechara a gaveta do escritório onde se encontrava soterrada todos os dias.
Naquele dia particular, isso parecera-lhe menos grave. Reparou pela primeira vez que a janela do seu lado direito era ampla e que o silêncio dos prédios sossegados era envolvente.
Normalmente todas as janelas lhe eram pequenas. Todos os horizontes lhe eram curtos. E nesta fracção do dia em que a gaveta ainda estava aberta, sentia saudades do mar. Das madrugadas frescas e dos salpicos das ondas na cara enquanto o barco seguia veloz. O mar era confortável.
E no instante em que a gaveta estava aberta, ela arrependia-se de ter deixado o Mar. E a mão ficava ali indecisa, à espera que a infelicidade dela fosse mais forte. Mas a gaveta era fechada com o Mar lá dentro. E ela era soterrada.
Naquele dia isso não aconteceu. A mão não tremeu. E a lembrança do Mar não lhe doeu como de costume.
O Inverno estava no fim e ela estava cansada daquela tristeza extenuante. Preferia ver-te e abraçar-te ao fim do dia. Preferia passear no tempo que lhe restava. Preferia ver o Sol. Preferia ignorar as mágoas. Preferia amar.

E nesse dia não se sentiu soterrada no seu escritório sombrio.
E foi assim que morreu, soterrada na sua felicidade.

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