Translate

Tuesday, June 15, 2010

Ao Léon

Les grandes personnes aiment les chiffres. Quand vous parlez d’un nouvel ami, elles ne vous questionnent jamais sur l’essentiel. Elles ne vou dissent jamais: “quell est le son de sa voix? Quels sont les jeux qu’il préfère? Est-ce qu’il collectionne les papillons?"
Elles vous demandent
“Quel âge a-t-il? Combien a-t-il de frères? Conbien gagne son père?"

Le petit prince

Foi a primeira vez em que pensei na matemática de forma diferente. Foi a primeira vez em que os números no meu caderno de quadrados olharam para mim como se fossem estranhos de rua, com um sorriso disfarçado e uma implícita atitude pré-concebida, de quem calcula.
Ironicamente, eu que tanto gostava de matemática, nunca calculava.
Foi, desde que me lembro, a primeira vez em que me senti sozinha. E comecei por odiar o Saint-Exupéry na sua eterna história diabólica sobre as pessoas grandes e a fixação pelos números.
E eu até tinha gostado do prólogo. Lembro-me que li vezes sem conta aquelas frases sobre o Léon. E pensava nele com mais cuidado do que pensava no principezinho que tinha a sua rosa, ou no Saint-Exupéry que tinha o principezinho.
Às vezes, à noite, ainda dou por mim a pensar nele, que não tinha nada e passava fome e passava frio. Dantes, até imaginava um romance vadio com esse francês moribundo que conservava intacto um coração. Sempre me pareceu a alma perfeita para amar.
Mas isso era dantes, em que havia sonhos e eu não era caloira. Hoje continuou a pensar nele, na sua breve passagem pelo mundo naquele prólogo daquele livro que me roubou a matemática. Mas o romance ficou preso dentro do livro e nunca mais voltou.

Dizem que eu aprendi a fazer contas antes de falar. E nunca me serviram as palavras, quando as usei na escola. Desde cedo que o Mundo não quis comunicar comigo e eu encontrei na matemática uma exactidão universal que bania da minha vida os incompetentes e os falaciosos.
Porque os números abstractos nunca me mentiam.

Até aquele dia em que li o Principezinho. E o Léon me aparecia de noite a morrer numa rua sem nome e me dizia “ As pessoas grandes só pensam em números”. E olhava para mim de forma desiludida e morria sem fazer barulho.
E nunca consegui deixar de sentir a desilusão dele. Sempre que comprava cadernos de quadrados. Sempre que passava a mais uma cadeira do meu curso de engenharia. Sempre que resolvia uma equação.
E sempre que passo mais tempo com os números e eles me dão um pedaço do velho descanso da minha infância é a voz do Léon dos meus sonhos que oiço.
E dou por mim com a garganta presa por palavras que nunca saem “Eu nunca quis crescer!”

Hoje, vou voltar para os números, porque afinal eu nunca soube comunicar e as palavras nunca quiseram o meu amor infantil. Há talvez um mundo paralelo onde eu existo e que seria difícil de conceber para o Saint Exupery.
Por isso, antes de voltar para os números num amor resistente e desgastado em discussões de intimidade,

Gostava de pedir desculpa ao Léon pela minha falha abstracta imperdoável. E garantir-lhe que nunca vou crescer.

1 comment:

WinGs said...

Discordo. O jeito para as palavras esta convencionada neste mundo como está a mais discereta rotina quotidiana. Diria que tens o jeito para as palavras, de dentro. Tens o jeito para as palavras de dentro, as que sao puras.

E é garantido que nao pertences unicamente ao mundo dos numeros ou nao sentirias tamanha compaixao e amor a alguem como O Leon. Poder-lhe-ias escrever um prologo, talvez menos artistico, mas igualmente humano e caloroso. E isso é tudo o que basta, isso e o jeito com as palavras.

Jeito com comunicaçao nao e jeito com as palavras. Na maioria das vezes, o nao é. Quem mais comunica facilmente, menos esta calado. E isso so revela uma vontade extrema de calar qualquer coisa. Ha que amar o prazer do silencio, é onde as palavras sao mais aureas e relevantes.

Adorei!=D

Popular Posts