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Friday, May 31, 2024

Não sabia que era possível

Fazia uma semana que sentia um quisto.
Podia ser inócuo, podia ser cancro.   
O pior do Schrödinger a viver-me na pele
como uma tatuagem.
Contei-te e tu sorriste – não era Nada. Mas podia ser,
e mandaste-me ao médico.  
O médico não sabia o que era. E tu sorriste – não era Nada. Mas podia ser,
e mandaste-me fazer um exame.
Eu marquei o exame, a viver o Schrödinger na minha cabeça.
Demorava tempo o exame e tu levaste-me a Itália.
Fomos comer gelados, procurar os sítios do filme do Dan Brown,
falar um pouco sobre os Romanos.
Todos os dias me entretinhas com novidade do Mundo, e eu cedia.
Houve um dia em que não me lembrei de nada a não ser da felicidade que sentia.
Mas o dia do exame chegou. E eu entrei. Tu sorriste-me e disseste que não era Nada.
Eu entrei e fiz o exame. O médico disse-me que não era Nada. E eu sorri.
Quando cheguei cá fora e te disse que não era Nada, tu abriste as mãos e sobre a cara
vi-te chorar.
Sempre que me dizias que não era Nada, era Tudo para ti.  Só não querias
é que fosse Tudo para mim.
E eu não sabia que era possível amar uma pessoa desta maneira.

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