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Tuesday, June 04, 2024

Gil

Um dia quando foste embora queimei tudo o que era teu. Fui á minha lista de emails e apaguei todas as mensagens. Limpei o teu nome do meu telemóvel, do chat no computador. Apaguei fotografias e rasguei os bilhetes que trocamos. Nessa altura nasceu-me a minha piromania. Acendia fósforos e via-os arder com uma paixão que até aí só tinha tido por ti. Muitas vezes me arrependi de te ter queimado assim, chorei amargamente com saudades. Gritei de raiva, atirei-me contra espelhos. Queimei as mãos no fogo que eu ateei. Que ódio profundo pela merda de pessoa que eu era e que te tinha mandado embora. Que merda de pessoa eu era por te ter queimado. Depois de tudo isso, só restava o calor da minha piromania. E só me lembrava do Gil do Triângulo Jota a deambular morto pelo Porto como um fantasma. As mãos cheias de fósforos queimados e o segredo Guardado no Coração.  Agora, tremem-me as mãos de prazer a pegar em fósforos. Amo este prazer da minha destruição. E não acredito que nada possa ir embora nem que eu me torne em algo que não seja esta merda de pessoa, se não pegar fogo à casa toda.

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