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Wednesday, June 26, 2024

Diabo

Sempre viveu em mim o desejo de ser o Diabo. E, no entanto, pernoita em mim a eterna chama de uma estrela bonita. Um fogo que arde e ilumina, mas nunca extravasa. Eu queria tanto ser a explosão nuclear que tudo arrasa, mas o meu corpo falava outra língua, e nesse estrangeiro em que se perde toda a tradução, só consegui atrair os físicos que gostam de astronomia. O que todos eles queriam era o Amor de uma aurora boreal, partilhar a cama com alguém que entende a beleza de um eclipse solar. O meu tempo todo para eles como a quarta dimensão que tudo completa.

O Diabo não sente nada disso. Sabe lá o que são buracos negros ou supernovas. O Diabo está lá para nos fazer descobrir as teorias que ainda não foram formuladas. Para nos rebentar um Big Bang nas mãos e nos abrir os olhos para frequências que nunca sintonizaríamos. O Diabo está lá para o orgasmo eletrificado pela certeza de que tudo já acabou antes de ter começado. E por isso ninguém vive com o Diabo. O Diabo vive-nos, de vez em quando. Já eu, estou lá para fazer um amor perdurar. Para trazer um equilíbrio perfeito na vida de quem encontrou o Diabo e continuou insatisfeito. E todos os que habitam o Diabo, depois de lhe sorverem o corpo e a adrenalina, acabam a desejar a luz de uma estrela que os guie.

Todos menos Eu. Eu, continuou a preferir o papel do Diabo. E por isso sou a única permanentemente insatisfeita.

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