Sempre viveu em mim o desejo de ser o Diabo. E, no entanto, pernoita em mim a eterna chama de uma estrela bonita. Um fogo que arde e ilumina, mas nunca extravasa. Eu queria tanto ser a explosão nuclear que tudo arrasa, mas o meu corpo falava outra língua, e nesse estrangeiro em que se perde toda a tradução, só consegui atrair os físicos que gostam de astronomia. O que todos eles queriam era o Amor de uma aurora boreal, partilhar a cama com alguém que entende a beleza de um eclipse solar. O meu tempo todo para eles como a quarta dimensão que tudo completa.
O Diabo não sente nada disso. Sabe lá o que são buracos negros ou supernovas.
O Diabo está lá para nos fazer descobrir as teorias que ainda não foram
formuladas. Para nos rebentar um Big Bang nas mãos e nos abrir os olhos
para frequências que nunca sintonizaríamos. O Diabo está lá para o orgasmo eletrificado
pela certeza de que tudo já acabou antes de ter começado. E por isso ninguém
vive com o Diabo. O Diabo vive-nos, de vez em quando. Já eu, estou lá para
fazer um amor perdurar. Para trazer um equilíbrio perfeito na vida de quem
encontrou o Diabo e continuou insatisfeito. E todos os que habitam o Diabo,
depois de lhe sorverem o corpo e a adrenalina, acabam a desejar a luz de uma
estrela que os guie.
Todos menos Eu. Eu, continuou a preferir o papel
do Diabo. E por isso sou a única permanentemente insatisfeita.