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Tuesday, April 19, 2022

Quebra-cabeças

As melhores, mais doces e suaves memórias que tenho são da minha escola primária. Nela, gostava do enorme espaço que tínhamos, terrenho de gravilha onde se assavam castanhas no Outono e dançávamos as marchas populares no início do Verão. Do campo de futebol onde jogávamos ao lencinho e do outro terreno, espaço inculto cheio de mato, um muro de tijolos meio desfeitos e uma árvore enorme, cuja copa nos abrigava em dias de muito calor. Este acho, era o nosso espaço favorito. No início da primavera, saíamos desembestados da porta da nossa sala de aula para o recreio e o ar gentil e morno da manhã acolhia-nos e incitava-nos a explorar. Saltávamos do muro, apanhávamos plantas, imaginávamos mil e uma brincadeiras naquele espaço sem nada e onde nós víamos tanto. Lembro-me de uma mala azul da cor do céu, pequena, que eu usava a tiracolo. Lá dentro, carregava sempre um pequeno lanche para a manhã que era passada na escola. O meu ritual era sempre o mesmo e é disso mesmo que sinto saudade. Gostava de imaginar que fazia um piquenique e por isso sentava-me debaixo da árvore com o meu lanche, uma peça de fruta ou uma bolacha, como se estivesse no campo. Lembro-me de todos estes objetos, do sítio onde me sentava e do cheiro a mato que estava por todo o lado. Era um cheiro de liberdade, de exploração, de tudo o que o futuro prometia. Dentro dessa minha mala, eu punha também todas as noites, um pequeno quebra-cabeças que me tinham oferecido e que depois de comer o lanche de manhã, eu fazia. Por isso, sempre que pego neste quebra-cabeças sinto este cheiro inebriante e um pouco de mim ainda sente o convite para fazer um piquenique e ver o que o futuro me promete. 

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