Lembro-me que entre nós pouco ou nada foi bom. Talvez uma tarde em que
havia Sol e nós fomos passear ao pé do rio. Ou talvez aquele momento difuso em
que tu disseste não sei o quê. Aquilo. Qualquer coisa que até foi bonita mas
que se escapa da minha memória.
Lá no fundo, é como se fosses apenas um fumo branco e cheiroso, uma nuvem
que promete eternamente um D.Sebastião. O anteceder de um concerto onde o nevoeiro
possibilita todas as notas de musica, todos os riffs, todos os solos que estão
por inventar.
Tudo entre nós acabou de forma abrupta e encarceradora, numa guerra feita
de sangue seco que coagulou nas únicas linhas de comunicação que poderiamos ter
tido mas que nunca soubemos usar. Assim morre o amor, dizem os livros. Dizem as
pessoas. Até tu me gritaste isso aos ouvidos, quando me atiraste com a porta no
meio de anseiras rancorosas. Afinal o amor tinha mais de amargo do que as horas
dolorosas passadas à espera que ele chegasse.
Mas não há nada que o tempo não cure. Ou, mais correctamente, não há nada
que o tempo não mude. Porque hoje, lembro-me que entre nós pouco ou nada foi
bom. Mas a verdade é que quando afasto o
nevoeiro saudosista que me atiram para os olhos, sei que na verdade nunca houve
amor nenhum e as boas memórias nunca tiveram chão para medrar, porque nunca as
chegamos sequer a semear.
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