Viajar sempre foi
um sonho tão desejado que possivelmente o Mundo o repelia de mim, como para me
obrigar a ver um pouco mais do espectáculo antes de ir embora.
Chegaria o dia,
diziam-me, em que entrar no avião seria tão banal como apanhar o comboio, ligar
os phones e adormecer um pouco para
acordar rapidamente noutro sítio.
Como amar uma pessoa e chegar um dia a casa e perceber
que a música de fundo é só uma forma de o tempo andar mais depressa, até uma
estação que não foi ainda desenhada.
E como se ao amar, já estivesse implícito que não se ama.
Como se o começo contivesse o fim dividido infinitamente pelas vezes em que o
pensamos.
Tremem-me as mãos
manchadas à porta do aeroporto. Que é porque amo demais as coisas que elas se
desgastam como fósforos.
Que é porque não as sei beber por goles que as paixões não duram.
Não as estico. Não as
permaneço.
Mas isso é como
entrar no aeroporto e por os phones,
sentar-me na cadeira e esperar pela chamada da voz rouca. É permanecer
semi-indiferente à realidade das cosias que chamam por mim. Se o amor devia ser
assim, então mais vale que não comece. Que acabe antes de ser morto às fatias.
1 comment:
"Como amar uma pessoa e chegar um dia a casa e perceber que a música de fundo é só uma forma de o tempo andar mais depressa"
Sente-se a influência de Neruda nesta frase. "Todo o fogo tem a sua metade de frio "
Gostei!
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