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Sunday, August 26, 2012

Se um dia escreverem a minha biografia quero que a façam por aeroportos


Viajar sempre foi um sonho tão desejado que possivelmente o Mundo o repelia de mim, como para me obrigar a ver um pouco mais do espectáculo antes de ir embora.
Chegaria o dia, diziam-me, em que entrar no avião seria tão banal como apanhar o comboio, ligar os phones e adormecer um pouco para acordar rapidamente noutro sítio.

Como amar uma pessoa e chegar um dia a casa e perceber que a música de fundo é só uma forma de o tempo andar mais depressa, até uma estação que não foi ainda desenhada.
E como se ao amar, já estivesse implícito que não se ama. Como se o começo contivesse o fim dividido infinitamente pelas vezes em que o pensamos.

Tremem-me as mãos manchadas à porta do aeroporto. Que é porque amo demais as coisas que elas se desgastam como fósforos. 
Que é porque não as sei beber por goles que as paixões não duram.
Não as estico. Não as permaneço.

Mas isso é como entrar no aeroporto e por os phones, sentar-me na cadeira e esperar pela chamada da voz rouca. É permanecer semi-indiferente à realidade das cosias que chamam por mim. Se o amor devia ser assim, então mais vale que não comece. Que acabe antes de ser morto às fatias.

1 comment:

WinGs said...

"Como amar uma pessoa e chegar um dia a casa e perceber que a música de fundo é só uma forma de o tempo andar mais depressa"

Sente-se a influência de Neruda nesta frase. "Todo o fogo tem a sua metade de frio "

Gostei!

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