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Tuesday, August 04, 2009

O amor é uma guerra

O guerreiro altivo e leal aproxima-se da cidade. Senta-se na sua saia de escocês e o ar puro das Terras Altas rasga-lhe o fundo dos pulmões.
Gosta do negro dos fumos nas pedras ancestrais e da água cristalina e fria onde bebe o seu cavalo.
Viajou e regressou. E escolheu aquela cidade. Ali a gaita-de-foles tocava sempre no vento da tarde e os poentes nunca eram laranjas, mas de um rosa esfumado pelas neblinas. O seu coração encoberto também gosta do nevoeiro de quem sempre fora.

E por isso, pensara em não conquistar a cidade. Tinha talvez a espada e a força necessária. Ou a liberdade na boca e os braços dos homens cegos, que partilhavam o mesmo coração. Mas a conquista roubava-lhe o amor que sentia.
E sem amor, a conquista era apenas uma escolha feita, que suportaria até ao fim.

Talvez um dia a cidade fosse sua. Porque o nevoeiro era igual. Porque a cidade já tinha visto muitos guerreiros e ele já tinha visto muitas cidades. A sintonia era mais poderosa do que a conquista.
Mas o tempo passou. E a cidade foi sendo saqueada. Trocada. Encantada. E o guerreiro voltou a viajar. Talvez houvesse outro nevoeiro, outra cidade que o deixasse ser conquistado.
Mas em todas, o vento não tinha melodia. E o nevoeiro, quando existia era transparente e roliço. E ele sentia falta da humidade grotesca da gruta do seu coração.
Porque ele amava as Terras Altas. Eram a sua terra, a sua melodia. O seu cemitério. O seu amor.

E voltou para conquistar a sua cidade. Com os seus braços e os braços dos homens que ouviam a sua liberdade. E conquistou-a em toda a sua altivez e segurança. E só assim, depois da luta, ela foi sua. E ele estava finalmente onde sempre quis estar, na sintonia profunda que sempre existira entre eles.

E não lamenta esse outro guerreiro vadio, que ás vezes ainda vagueia taciturno, à espera que a cidade o ame, com medo de a conquistar.
O amor é uma guerra.

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