Sempre apreciei as coisas simples. Pensamentos simples, sonhos simples, poesia simples… Pessoas simples. Talvez porque só a simplicidade tem o poder de exprimir o que muitas vezes só é palpável aos nossos sentidos. Pena é que, ás vezes, não nos apercebermos do mundo que pode existir numa palma de simplicidade.
Como o rei da história do reino de Helíria… estando velho e cansado, decidiu questionar as suas três filhas acerca do amor que elas sentiam, para que se decidisse a repartir o reino por elas. A mais velha, sedenta do reino do pai disse: “ meu senhor, o meu coração é pequeno de mais para conter todo o amor que vos tenho. Quero-vos muito mais do que ao Sol que me alumia, muito mais do que à luz dos meus próprios olhos, muito mais que ao marido que vou desposar…”. A segunda, seguindo a ambição da irmã, continuou o discurso magnânimo: ”O meu amor por vós não tem fim, é maior do que a imensidão das águas e dos céus. “
Estava já o rei, imerso em alegria, quando falou a terceira filha. Esta, que realmente o estimava, e ao ver todos aqueles exageros, falou com sinceridade recorrendo a uma analogia simples: “ O que não tem fim, não se pode medir. É difícil encontrar medida para o amor.(…) Preciso de vós… como a comida precisa do sal…”. E ao ouvir isto, o rei ofendido com a comparação tão pouco grandiosa, entregou o reino ás duas primeiras filhas e expulsou a última, mandando-a nunca mais olhar para ele.
Anos mais tarde, as filhas mais velhas, fartas do pai, mandaram-no embora, e ele… velho e cego, mendigando nas ruas, foi ter ao palácio da filha mais nova, sem saber onde se encontrava. Ela, que logo o reconheceu, levou-o a um banquete onde mandou preparar os melhores pratos: o melhor peixe e carne. Os melhores alimentos e os melhores cozinheiros. Mas tudo, sem uma pitada de sal. Quando o rei esfomeado começou a comer, ficou horrorizado com o sabor daquela comida. Ao que a filha mais nova respondeu: “vistes agora a falta que o sal faz?”.
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Sunday, February 13, 2005
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