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Friday, December 11, 2009

Sem argumentação

A minha questão não é argumentativa.
Não quero explicar. Ou compreender. Não quero expor. Não quero convencer.
Só quero que me deixes partir. Que te esqueças que alguma vez aqui estive. Que ignores que durante este tempo fui como tu.
(Esta dor que me doi todos os dias por ser como tu. Importa lá que me digam que eu não sou como tu... Os dias passam e estou como tu. Nas mesmas esquinas. Vemos as mesmas nuvens. Olhamos os mesmos relógios. Cresce-me um ódio profundo nas mãos de vidro. Um ódio cego por existires. Um ódio cego por eu existir. Por ambos termos de coexistir e não termos nada em comum e ainda assim sermos iguais. )
Quero que não me olhes, como não olhas os mendigos na rua. Quero que não me oiças como não ouves a música na rádio. Quero que não me toques como não tocas a areia da praia ou as folhas secas do Outono.
Quero que não me consideres. Como não consideras essa parte do Mundo.
É dessa parte do Mundo que quero fazer parte. Porque se não a consideras, é porque ela merece ser vivida.

3 comments:

WinGs said...

O texto pareceu-me uma mistura de Sophia de Mello Breyner com Eugénio de Andrade na versao de prosa.

Gostei muito =)

Alice in Wonderland said...

=)
em que te baseias para dizeres isso?

WinGs said...

Porque possui o romantismo gasto, triste, melancolico, arrastado e extremamente duro de Eugénio de Andrade. Muito ao estilo de " agora os teus olhos sao so os teus olhos.Adeus"

Mas ao mesmo tempo, tem aquela incisao cruel da Sophia. Fina, aguda. Razoavel. Sim, porque de todas as vezes que uma acusaçao é feita ela tem toda e qualqer razao. Nao ha que ter pena do acusado porque ele a nao merece.

E tudo o que eles dizem, tudo o que transparece deles . Só que diluido em texto corrido.

Satisfiz? =)

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