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Monday, February 02, 2009

A história da cinderela alternativa - parte II

Até que um dia, chegou a casa da Cinderela um folheto sobre o concerto da sua banda preferida. Ficou logo entusiasmada e correu para o quarto para escolher a sua roupa. Não tinha muita que pudesse levar, mas com um pouco de jeito e imaginação conseguia transformar a sua roupa elegante num fato roqueiro de que ela tanto gostava.
Quando souberam, Brisela e Anastácia olharam uma para a outra e disseram “ Vais a esse sítio horroroso? Mas sabes como as pessoas se vestem? E o que ouvem?”. Andaram à sua volta e comentaram “ Que música horrível, que barulho insuportável”. Mas depois pensaram bem e disseram” Não estás a trabalhar nesse dia, Cinderela?”
“Sim”, respondeu a jovem, mas vou fazer umas horas extras para compensar a minha falta. E elas fizeram um ar tão enjoado que Cinderela se sentiu bem.
No resto dos dias, Cinderela mal dormia. Do seu quarto emanavam as notas de música que faziam tremer toda a casa e nem os gritos (agudos) de Brisela a demoviam. Rasgou umas calças que tinha, colocou um cinto e umas fivelas. Arranjou um lenço preto e um casaco de ganga que ficava mal no conjunto, mas era tudo quanto tinha. Para finalizar, faltavam os sapatos. As únicas botas que tinha já eram muito velhas, e não tinha nada ar de rock. Mas não tinha outra solução. Pelo menos iria.
No dia do concerto amanheceu feliz e negra. Mas quando estava prestes a sair de casa, irreconhecível na sua maquilhagem escura o telefone tocou. Era o chefe a dizer-lhe que afinal teria de ir trabalhar. Cinderela sentiu o chão fugir-lhe e pensou que podia mesmo morrer de tristeza. Sentiu um fardo enorme por cima dos seus ombros que a dobrava e os olhos secaram. Aquele concerto era tudo o que ela queria. Virou costas para mudar de roupa. Retirou devagar toda a roupa que demorara tanto tempo a elaborar. Suspirou profundamente. Quando já estava de volta à sua postura normal, encontrou Brisela e Anastácia que a olharam e lhe disseram ” Fizeste muito bem em desistir. Isso é para delinquentes. Olha vamos jantar fora. Arranja-te e vem connosco!”.
Cinderela sentiu um ódio profundo, uma vontade atroz de as calar. A sua irritação era agora tão premetente que sentiu medo de não se controlar. Com a garganta a tremer, saiu de casa e trocou o autocarro pela caminhada para acalmar os seus nervos, que pareciam ter chegado ao limite.

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